Nessas oito temporadas, sempre um arco foi traçado entre os - geralmente - 20 episódios que consistiam o ciclo, sendo que algumas histórias foram mais interessantes que outras. Depois de uma primeira temporada instigante, a qualidade da série caiu consideravelmente no seu segundo ano. Aos poucos foi melhorando na terceira, até que a quarta mostrou que os roteiristas conseguiram buscar a dose certa do primeiro ano e a partir daí o seriado conseguiu manter-se estável nos anos seguintes. A última temporada não poderia ter tratado de um tema melhor: um pacto entre as amigas para se protegerem.
Apesar de ser contada de uma forma não tão convincente e, relativamente, a mudança nas personagens a cada situação não fora suficientemente nítida - afinal foram muitas tragédias e violência nas redondezas -, o seriado tinha como trunfo ser bem realizado e com atuações ótimas (chegando a render o Emmy para Teri Hatcher e Felicity Huffman nos primeiros anos). Diálogos com humor sagaz e inteligente a fizeram conquistar o Emmy de melhor série de comédia em 2005 e dois Globos de Ouro, também nesta categoria, em 2004 e 2005). Também lembrada de forma brilhante foi a atuação de Kathryn Joosten (Sra. McCluskey) que levou dois Emmys, um em 2005 e outro em 2008. Curiosamente, ela morreu há poucos dias, de câncer, e teve um final semelhante no final da série - depois de ser a chave principal para a solução do arco da temporada. Um final digno para uma das personagens com as melhores falas, mesmo que reduzidas a participações especiais.
Desperate Housewives termina com a impressão de dever cumprido. O seriado jogou ácido na crítica dos subúrbios americanos, onde o ócio e a chatice, na verdade esconde segredos tão comuns do que de outros lugares. O conservadorismo hipócrita de Bree que nunca foi feliz em seus casamentos, não aceitou a hossexualidade do filho no começo, teve problemas com a bebida e passou por uma fase promíscua; o paradoxo de Lynette que tinha que criar uma batalhão de filhos, deixando de lado seus sonhos no trabalho e indo contra o discurso feminista da mulher moderna; a infidelidade de Gabrielle e sua futilidade, mostrando-se uma mulher sexualizada, preconceituosa em determinados momentos, mas com sede em aprender; e por fim da romântica e desleixada Susan, sempre buscando o amor, mas sem esconder seu lado atrapalhado e emocional. Só que as aparências contam como vantagem desses moradores. No entanto, apesar do caráter duvidoso de seus personagens, muitos deles eram pessoas boas que foram sugados para esse ambiente.A lição de amizade e companheirismo é levada como principal virtude dessas donas de casa desesperadas, mas que no final, a vida as mostra que como um seriado, ou novela, cada uma foi para um lado, fechando um ciclo e seguindo seus caminhos. Um final realista, como a série nunca se esforçou muito para ser, mesmo tocando em temas mais atuais que nunca, porém, fadados a falas e situações forçadas - porém, não muito diferente da vida no verdadeiro subúrbio.

