Mandarim, na verdade, é um grande malandro...
Passados mais de dez anos desde que Homem-Aranha (Spider-Man, 2002) definiu um novo patamar para as adaptações de super heróis, Homem de Ferro chega ao seu terceiro filme com a mão firme da Marvel Studios - foi a primeira produção do estúdio em 2008 e que agora já tem produzido outros seis longas que interligam o universo dos quadrinhos. Dentro desse universo, a marca teve seu auge ano passado com o lançamento de Os Vingadores, após uma interessante ligação entre os filmes vindos antes: Thor, Capitão América: O Primeiro Vingador, O Incrível Hulk e os outros dois filmes do Homem de Ferro. Todos eles bons, com seus defeitos, mas que sempre funcionaram como entretenimento garantido. Os Vingadores faturou mais de US$ 1,5 bilhão nas bilheterias mundiais, sendo o filme de heróis mais rentável da história. Com isso, Homem de Ferro 3 (Iron Man, 2013) tem uma missão de manter o nível ou pelo menos cumprir seu dever como entretenimento. Eis que, o filme acaba decepcionando até o espectador mais leigo, abusando de piadas forçadas, um vilão ausente e um herói com dramas apáticos.
O sucessos de heróis como Batman, X-Men e o Homem-Aranha se dão, além pela popularidade e carisma do personagens, os dilemas únicos que ajudam a definir suas personalidades. Homem-Aranha é o jovem que após ganhar poderes, precisa lidar com as novas responsabilidades; Batman, traz consigo o trauma de um homem sombrio e complexo com sede de justiça; e os mutantes que carregam a necessidade de lutar pela aceitação e o fim do preconceito. Cada um com suas variáveis, desafios, vilões. Homem de Ferro comparado à esses, já peca pela falta desse ingrediente. Nos dois filmes passados, conhece-se um Tony Stark arrogante, alcoólatra, porém carismático. Seus dramas se resumem com sua armadura que o intoxica - e pelo jeito tudo se resolve pateticamente nesse longa. Se Bruce Wayne é o tipo de herói que Gotham City precisa, o Homem de Ferro é o reflexo fútil americano: narcisista, prepotente, com fome de sucesso em Hollywood.
Essa terceira parte, tem influência direta dos ocorridos em Os Vingadores com um Tony Stark fragilizado e com crises de ansiedade pela experiência que passou. Até que o vilão Mandarim (Ben Kingsley) traz novas regras em um jogo de terroristas contra o comportamento norte-americano com questões externas e até ambientais - critica a forma descuidada de se extrair petróleo. Junto com o Dr. Aldrich Killian (Guy Pearce), Mandarim orienta ataques terroristas pelo país, obrigando o Homem de Ferro entrar no jogo e partir pra briga. Sem se aprofundar na política, apenas sugere algum poder negativo da mídia sobre a imagem dos terroristas, e a característica do vilão agir como tal, o filme só ganha um brilho maior pelos recentes atentados em Boston. Seria bom se a produção, então, se assumisse como uma produto estável e cumprisse seu dever de casa, mas o diretor Shane Black, que tem no currículo Máquina Mortífera e Melhor Impossível, trata o roteiro como uma grande comédia intercalando cenas de ação, mesmo com assuntos que dariam grandes reflexões.
Excluindo quase todos momentos de emoção mais intensa (a maior reviravolta do filme é uma pegadinha que garante risos nervosos aos fãs dos quadrinhos), Black erra na condução do humor que à cada meio minuto algum dos personagens faz as piadas mais banais possíveis. Como se não bastasse o exagero, Tony Stark passa boa parte do seu tempo entrando na toca do inimigo soltando bombas e mais piadas ou conversando com uma criança (da qual, estranhamente, mora sozinha), que já possui sua mesma sagacidade - abusando de mais piadas. Se o herói pouco aparece, Robert Downey Jr, ganha mais destaque. É como se fosse um Piratas do Caribe 3, focando num Jack Sparrow caricato, se apoiando no grande carisma de um Johnny Depp. Mas Homem de Ferro 3, tinha muita história pra contar, mas curiosamente faltou assunto no roteiro - o filme do meio para o final foca no sequestro e resgate - pasme - do presidente! Algo que de tão clichê e pobre, só caberia em um filme do Stallone e seus mercenários. O lance da tecnologia extremis, por mais que tenha a ver com a história, nessa adaptação parece coisa de Quarteto Fantástico de tão desinteressante.
Se perdendo em furos no roteiro - eles são muitos - o longa se sobressai pelos bons efeitos especiais, uma Gwyneth Paltrow mais ativa e em sintonia com a trama (o maior problema da maioria desses filmes: conseguir inserir bem o interesse amoroso do herói) e algumas piadas que funcionam, quando geralmente são contadas na hora certa. Por outro lado, é difícil não sair frustrado pelas poucas menções ou pistas sobre o universo Marvel, e mais precisamente sobre o que espera para o Homem de Ferro, já que o longa parece ter fechado uma trilogia - o mesmo mal de Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge - deixando várias pontas soltas. Como balanço dessa década de heróis, Homem de Ferro 3 acaba sendo inferior aos seus antecessores e morre na praia quando se comparado ao filme dos vingadores. Uma pena, uma produção tão grandiosa e com um protagonista tão talentoso, não devia soar como um equívoco, já que o sucesso da Marvel em Hollywood ainda ecoa na indústria.
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