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abril 03, 2013

Crítica: A temporada meia-boca de 'The Walking Dead'

Seriado fecha terceira temporada instável


Uma das cenas do final da terceira temporada de The Walking Dead (exibida ontem, 02, pela FOX Brasil), a personagem Andrea, presa pelo Governador, fica tentando se soltar de uma cadeira, da qual, ele a acorrentou. Tentando pegar um alicate no chão, a personagem passa a agonia de não conseguir ser rápida o bastante e fugir do eminente ataque do recém transformado em zumbi, Milton - depois de morto pelo Governador como forma de punição por uma traição. Como de praxe em filmes de terror B, ela se contorce, tenta usar os pés, pára por um momento pra bater um papo com o homem quase morto, e até deixa o objeto cair. Por fim, é atacada. Se tem uma cena que pode muito bem resumir o que foi a tensão da terceira temporada, é esta. Patética, sem sentido e que brinca com o intelectual do espectador.

Assunto constante em histórias de apocalipse, a formação de milícias, é algo comum numa sociedade que vive com medo e anseia pela vida e proteção. Sua aceitação em favelas e lugares perigosos, e até a utilização dessas em reinados passados, mostra muito bem como sua forma violenta de agir causa um bem estar na população protegida por ela. Mas um dia, eles se voltam contra a própria população. Em Woodbury, no entanto, seus moradores só foram conhecer a face obscura desse modelo na segunda parte da temporada. Vimos a mudança de um homem atormentado pela morte de parentes, se transformar em um temível ditador e líder miliciano atrás de inimigos. Do outro lado, Rick também teve uma transformação extraordinária. Enquanto o Governador teve, literalmente, uma visão da situação - numa referência ao facismo - Rick, por outro lado, teve um sexto sentido.

A dualidade mostrada entre os dois líderes foi bem trabalhada na temporada, mesmo que de maneira um tanto tosca. Rick teve visões de sua esposa já morta, e tomou atitudes um tanto exageradas - ele pensou em entregar Michonne para os inimigos e, como um louco, falou com a esposa morta. Enquanto do outro lado, o Governador se instruiu em ser o mais malvado possível. Perseguiu Andrea, matou metade de seu exército e executou seu até então fiel parceiro. Isso também, claramente tudo feito de forma exagerada, sem a maior lógica numa situação apocalíptica que todos se encontram.

Essa temporada de The Walking Dead falhou em diversos outros sentidos. Se na anterior, as pessoas reclamavam da pouca ação, pelo menos os conflitos pessoais movidos pela ética humana eram interessantes. Repetições como o fato de o Governador manter sua filha aprisionada, lembra o mesmo questionamento de Hershel na sua fazenda com um celeiro cheio de parentes de conhecidos. Foi o máximo que questões éticas tratadas na temporada. A medida foi caprichar no aprofundamento de personagens. Porém, a principal delas, conseguiu ser irritante a maior parte do tempo: Andrea. Vimos dilemas de Rick, Governador, Carl, Daryl, Michonne, Merle e Gleen. Todos de fato com um peso em particular, mas Andrea foi a que tomou o foco, quando no entanto ela só estava querendo que ninguém morresse, porque de fato se apaixonou pelo Governador. Mas suas medidas podem muito bem serem vistas como anti heroicas, afinal, ela abandonou os amigos e não matou o ditador quando teve a chance. Não entenderam ainda que estão em um apocalipse e a luta pela sobrevivência é o que importa? Ou, ao menos, recompensar os que a ajudaram chegar até ali, como Rick e Michonne. Michonne, essa que entrou pra ajudar, e só foi feita de saco de pancadas em todos os lados. Andrea a abandonou e Rick queria entregá-la aos inimigos. Vai entender essa lógica.

Outros pontos negativos, foram vícios da série, como a pose dos sobreviventes ao matar zumbis, que cai por terra quando Andrea não consegue sequer se livrar de correntes - o Gleen não conseguiu amarrado matar um zumbi? A falta de comunicação entre eles também gera discussões. Merle não deixou nem um recadinho adorável avisando que iria fazer o trabalho sujo sozinho; ou Rick quando havia tomado a decisão de não entregar a Michonne, deveria no mínimo ter feito uma nova reunião às pressas; no mesmo episódio, Daryl quando encontra Michonne, não conversa com ela, nem fala sobre a situação. Sobra pro Hershel ser o mais comunicativo e homem que sempre tem algo de importante à dizer.

A temporada também soube enrolar. Foram episódios inteiros que pouco acrescentaram à trama: Andrea teria ido visitar Rick querendo a paz entre eles. O episódio praticamente se concentrou nesse tedioso encontro, e no fim não serviu pra nada. Em outro, foi uma reunião entre Rick e o Governador. Tomaram uísque e praticamente não chegaram à lugar algum. No meio dessa aridez de conteúdo, muitas cenas gratuitas de estupidez: Merle tentando ligar um carro, percebendo que o alarme está soando alto e que obviamente atrairia zumbis para ali, mas ele continua numa tranquilidade no mínimo ridícula; Andrea avisa - sim, ela avisa - que está fugindo de Woodbury. Logo, o Governador vai atrás dela. Ela corre. Ele buzina. Ela, de noite, entra em um depósito ou pequena fábrica que tem a cara da morte. Ela entra, e ele vai atrás. Uau, tem zumbis ali. Como um bom filme de terror B... ruim.

Momentos interessantes e de comoção, quando Rick, Michonne e Carl, encontram um importante personagem da primeira temporada e que Rick deve sua vida à ele, ou finalmente o acerto de contas entre Daryl e o irmão, na verdade se perdem na banalidade da violência e na enrolação da trama. Por fim, o episódio final, centrado na despedida de Andrea, da qual, foi em outras vertentes decepcionante. O sumiço do Governador nos minutos finais foi anti-climático, preguiçoso. O embate entre os grupos foi mal construído. Rick levando mais uma penca de sobreviventes, é no mínimo incoerente. Qual é o preço de resgatar mais prisioneiros? Apenas mostrar o filho o valor da humanidade? Sabemos o que vai acontecer, por mais que as intenções sejam boas. Haja paciência de ver cada um daqueles novos personagens morrerem. Será que não havia outras formas de Rick se mostrar um bom líder novamente ou o Governador se mostrar um louco assassino sem matar seu exército inteiro?

E foi a temporada que em meio de todas essas cenas gratuitas, bobas e inverossímeis, a que mais apostou em sangue, tiros, cortes, lutas, zumbis e conversa fiada. Uma sensação de perda de tempo, numa história que teria tanto à render. Como a audiência é que manda, o canal AMC tem a preocupação de espichar a trama o máximo que dê, ainda mais guardando o grande vilão da temporada para mais uma. Resta saber se o público continuará comprando essa enrolação e falta de conteúdo pra ficar como um zumbi vendo mortes e sangue sem qualquer questionamento - porque sim, em The Walking Dead, os vivos dão trabalho, mas os mortos que nunca foram o foco da série, parece que agora são mais importantes que qualquer boa história. O importante é criar tensão, como um filme de terror ruim, bem ruim.

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