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março 13, 2013

Crítica: 'Enlightened' parte para a ação e faz temporada brilhante

A transformação para uma agente da mudança



Se tem uma palavra que possa definir Enlightened, que finalizou sua temporada dois na última segunda (11) pela HBO Brasil, é nervosa. Depois de uma primeira temporada perfeitinha, com Amy (Laura Dern) tendo uma epifania sobre a vida depois de um grande terremoto emocional que lhe trouxe estragos, ela agora põe seu plano em prática sobre sua mudança. Apesar de começar ainda no clima sobre questionamentos do mundo e a destruição dos bens naturais e emocionais pelo corporativismo, a temporada se estendeu mostrando novos desafios para a protagonista. No fim, o emocional de Amy parece ter posto em cheque todo o seu árduo trabalho de transparecer a verdade. E não é que ela não ficou completamente satisfeita?

Amy sempre idealizou que a ruptura da Abaddon (que curiosamente é um termo hebraico que tem o significado de “destruição” ou "Destruidor"), a empresa, da qual, trabalha, seria com seus líderes e chefes sendo carregados em viaturas por policiais multi raciais e em tom de desespero, e ela triunfaria como uma heroína entre os vilões. Mas o que se viu foi uma mulher frágil causando sim uma tempestade, mas atônita em ter de bater de frente com poderosos e no lugar da sua imaginação, foi ela quem saiu escoltada, sofrendo ameaça de processos e com a promessa de ser "esmagada como o inseto que ela é". A ingenuidade de Amy de achar que sua missão como agente da mudança será como uma justiceira imbatível, vai logo lhe rendendo uma visão menos glamourosa do que é a vida como ativista.

Em um dos episódios, ela conhece as redes sociais como ferramenta de mudança. Junto do jornalista Jeff (Dermot Mulroney) entra em um mundo novo, em que conhece pessoas inspiradoras e corajosas. A questão é que qualquer tipo de ação traz consequências complicadas, até pessoais. Jeff, por exemplo, é divorciado e prefere viver solteiro porque não quer as limitações de um relacionamento. Amy que já havia ficado isolada no trabalho e na família, pelo seu modo explosivo, acabou se apaixonando. E dessa forma, se decepcionando. Se sentiu usada, perdida e se questionando sobre se o que estava fazendo era certo ou não.  No elevador ela não viu a famosa tartaruga que virou seu símbolo de maior motivação e que captou da reabilitação no Havaí. Ela não sentiu realmente que fazia algo certo, e sim que fora usada. Tirou algum proveito da situação irremediável, para caçoar dos poderosos, mas ainda assim é como se estivesse na lama.

Talvez num triunfo maior, as consequências aparentemente negativas são os únicos troféus disponíveis. Não há dinheiro, não há felicidade. A visão idealista de Amy para salvar o planeta, não é perceptível com facilidade. E foi apenas quando chegou para as pessoas ao redor que elas puderam ter um pouco da catarse que ela teve. Ela veio primeiramente com seu ex-marido Levi (Luke Wilson) (quem acreditava que ele ia mesmo dar a volta por cima?), e logo se estendeu com seus colegas de trabalho que lhe ajudaram com o plano. Taylor (Mike White) que viu Amy como uma amiga - e também seu drama pessoal de se sentir como um fantasma, rendeu um episódio tocante (que refletiu nas cores do vestuário do personagem como aconteceu com Amy, sua transformação numa pérola) - , Dougie (Timm Sharp), chefe de Amy, que mudou de lado quando ficou sabendo que todo seu setor seria demitido. Krista (Sarah Burns) perto de ter seu filho, que apesar de ter passado a temporada toda ignorando Amy, no final cumpriu sua promessa e foi uma boa amiga. Amy que não viu isso e deixou sua arrogância falar por si. E nos minutos finais, a mãe de Amy (Diane Ladd) foi atingida ao ver com orgulho a matéria sobre a filha. Grande momento.

Se no fim, a catarse de Amy foi solitária, melancólica e sem um gosto de satisfação como ela almejava, mas ainda assim, ela segue adiante obstinada sobre ser uma agente da mudança, é porque ela entendeu e aprendeu em sua primeira missão sobre o fardo que é essa nova vida. São muitos interesses no meio, e as pessoas ao redor são complicadas de cofiar pois a maioria não entende genuinamente da importância dos feitos. Muitos vão julgá-la, pedirem distância, e, como se não bastasse, o triunfo é solitário e ligeiramente estranho, já que a causa só terá consequências positivas a longo prazo. Por enquanto, Enlightened finaliza o ciclo iniciado na primeira temporada de forma fenomenal, sem cair num discurso poético e irreal que a série sempre trilhou na cabeça florida de Amy. Ficou vermelha - como a mudança drástica nas cores usadas por Amy, denotando seu espírito ativo. Cruel e corajoso. Feio e rude. Pobre, mas inspirador. Como uma realidade pede.

Uma grande série que brilha de forma singela no meio de programas mais chocantes que se aproveitam do sexo e da violência para se sobressaírem. Enlightened vai mais profundo e se constrói como uma série por vezes difícil de se ver por ser tão crua na forma reflexiva de ver as coisas. Não se tratando de imagem, e sim  de uma mensagem poderosa com humanos em colapso e ideais feridos. São as questões que fazem séries como Homeland e Mad Men tão grandiosas, e outras mais apelativas como The Walking Dead e Girls, menos contemplativas e mais vulgares. Uma pena Enlightened agora se encontrar num limbo de audiência, e mesmo com o apoio passional da crítica, ela corre o risco de cair em um vão sem ter pessoas que sequer vão conhecê-la. Uma pena, agora é torcer pela HBO renová-la, mas acima de tudo agradecê-la, pois só ela poderia presentear o mundo por esse belo trabalho.

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