O longa narra a história de uma família deteriorada. O patriarca da família, Theo Gadelha (Wagner Moura, mais uma vez excepcional) é um médico arrogante, da qual, seu jeito explosivo de lidar com as coisas deixou seu relacionamento por um fio com a mulher Branca (Mariana Lima, conhecida pela série Sessão de Terapia). Quem sofre mais é o filho adolescente do casal, Pedro (Brás Antunes), um jovem idealista que gosta muito de ler e desenhar. Porém, no meio dessa guerra de casal, quem sofre calado é o filho. É quando Pedro desaparece e isso faz ambos se unirem para procurá-lo. Entretanto, quando descobrem que Pedro fugiu de casa, é Theo quem parte nessa essa jornada que vai servir para não só se conhecer e perceber como o mundo ao redor o enxerga, mas também vai conhecendo histórias familiares diferentes, e assim amolecendo seus sentimentos atrás de redenção.
Luciano Moura consegue equilibrar muito bem a linha tênue de drama sério e o estilo piegas que constantemente ronda produções do gênero. Trata a história de forma singular, abusando de simbolismos para assim costurar cenas belas e outras apocalípticas. E esses símbolos são muitos - como um simples cavalo -, e fazem essa produção caprichada envolver até o espectador mais ingênuo. Seja na metáfora da casa deteriorada: pronta para ser desocupada, com uma piscina inacabada, uma goteira que insiste em incomodar. Ou na jornada do pai: Theo parece um extra-terrestre conhecendo o mundo ao redor, não se desprende de sua nave (carro), e contrasta com suas roupas em meio a pobreza da estrada. Theo segue a risca "bate antes, pergunte depois", é impaciente como qualquer individuo naquele mundo louco das grandes cidades. Branca também é desse jeito. Sua grosseria em atender trabalhadores, um mau-humor genuíno e é individualista - em uma cena mostrada conversando com um desses pedreiros através de uma porta de vidro. É como se fosse a gaiola transparente de uma classe que não gosta de se misturar.
A busca pelo filho vai rendendo outras cenas líricas para mostrar os sentimentos do pai. O seu desespero na balsa, ele, literalmente, se afundando quando cai no rio e depois grita de desespero num bote que não sai do lugar; o vários problemas em estabelecer uma comunicação básica com a esposa e dar notícias; o encontro com jovens na autoestrada que buscam carona, levando-o para um festival em que Pedro esteve de passagem; o parto à beira de um rio (a liberdade de pensamentos daqueles jovens, a forma inocente e romântica de ver a vida); o banho de Theo no mesmo rio, mergulhando de vez na experiência do filho. O atropelamento quando fica sabendo de uma notícia que causa uma reviravolta na história. Fica claro que Theo é um homem que nunca teve esse comum sentimento da fase de buscar a liberdade e agora vive à sombra do filho nessa caminhada. Ele não conhece o filho, não o encontra, exatamente porque não se conhece. Theo tem problemas com seu próprio pai (Lima Duarte), sentimentos de mágoa provavelmente originados por uma separação brusca entre seus pais. Termina de forma poética, sem cair no óbvio, mas com uma cena que claramente causa incompreensão aos mais desacostumados e não entenderam a metáfora da piscina.
Mas também, infelizmente, o filme não está longe de problemas. Os diálogos redundantes, cansam a paciência do espectador. É o caso das constantes repetições de perguntas e respostas sobre o óbvio - por mais que o pai queira o máximo de exatidão, é um tanto inverosímel a constância disso. Mas nada que prejudique o resultado final. A Busca é um filme acima da média que segue o rastro de outras histórias contadas de forma soberba, aliando uma trilha sonora bela e uma fotografia emocionante - e, nesse caso, ainda possui uma ajuda do cineasta Fernando Meirelles na produção. Um filme que merece ser descoberto e visto com a mente aberta para absorver todos seus significados e a mensagem sobre paternidade - pena que, curiosamente, a própria classe média representada ali, não prestigia ou não faz questão de entender.
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