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junho 04, 2013

Crítica: 'O Amante da Rainha' mostra influência do Iluminismo na Europa moderna

Longa dinamarquês indicado ao Oscar, tem roteiro conciso 


"A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano". Essa frase de Voltaire define muito bem a maioria dos filmes que se passam em realezas, com reis e rainhas vivendo um mundo de intrigas, traições e o povo à margem do que ocorre ali, muitas vezes sofrendo as consequências. A medida política adotada, com abuso de impostos, censura e perseguições religiosas, criavam um enorme paradigma entre o povo e o governo, este que crescia relativamente ao ego de seus líderes junto com uma pequena parcela da elite nobre. Esse período da Idade Moderna sempre foi motivo de muitos estudos e curiosidade, tanto de escritores quanto do cineastas. Saindo do lugar comum (França, Inglaterra e Espanha), a Dinamarca chamou atenção com o longa O Amante da Rainha (2012), com seus personagens e momento histórico controversos, mas que revelou o primeiro sucesso do Iluminismo na influência política e logo atingiria seu ápice com a Revolução Francesa.

O longa narra a história de Johann Friedrich Struensee (papel de Mads Mikkelsen, o Hannibal da série americana), que começou servindo como médico oficial do rei Christian VII (Mikkel Boe Folsgaard) e logo foi se firmando ativamente na política da realeza. A história começa no meio do século XVIII, quando a jovem britânica Caroline Mathilde (Alicia Vikander) se casa obrigada com o rei da Dinamarca. Apesar de generoso, Christian tem um comportamento desequilibrado, alternando momentos de loucura e outros afetivos, fazendo a vida da rainha um inferno. Depois do primeiro filho do casal, o rei passa a ter como companhia de Struensee que não viu de fato uma doença no jovem herdeiro, mas sim uma pressão e solidão no cargo que passava a ocupar. Se tornam amigos, mas, inesperadamente, o médico e Caroline acabam tendo um relacionamento escondido.

O interessante do filme - que tem a parte técnica belíssima, desde a trilha sonora, até figurino, fotografia, edição - é mudar de foco sem perder o ritmo. Se começa mostrando o drama de uma jovem inglesa que vai para outra cultura virar rainha e passa a viver um pesadelo, aos poucos muda para a tal doença do rei, a chegada do médico, o seu caso tórrido com a rainha, sua influência nas leis austeras do governo com ideias iluministas, e finaliza com as medidas que após um sucesso, passam a causar polêmica. Como nem tudo são flores, é interessante traçar uma analogia entre a vida pessoal de Struensee e seu comportamento político liberal, que pela falta de amadurecimento pessoal e político, além da sociedade igualmente despreparada, tudo começa a voltar contra si. Caroline engravida dele e a liberdade de expressão cai em cima quando todos descobrem o adultério e começam a questionar sua sede pelo poder.

Apesar de triste, o longa capricha em um final simbólico, mostrando que suas ações com o apoio de Caroline (o Rei apoiava mais por confiar no amigo) iriam desencadear no primeiro governo de relativo sucesso que bebeu da fonte do Iluminismo, que pregava a liberdade acima de tudo. A filosofia muito bem colocada em um período sombrio, tal como a mente atormentada do Rei (curioso como fica explícito seus problemas familiares que fariam muito sentido um estudo psicanalítico do personagem), acabou livrando os camponeses dessa escuridão e abrindo uma janela de esperança. Struensee é mostrado como a prova histórica que a curiosidade por esses personagens não vai se esgotar tão cedo, ainda mais numa época em que Voltaire vivia e enviava correspondências para reis elogiando ações iluministas.

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