O diretor australiano Baz Luhrmann é, sem dúvidas, daqueles que pode se considerar um realizador autoral. Suas características criativas próprias refletem em qualquer longa assinado por ele. Se Hollywood cada vez mais carece dessa virtude, ele é um desses alívios no meio de tanta produção igual. Seu maior trunfo até então, apesar de dividir opiniões com o bem experimental Romeu + Julieta (1996), é o marcante musical Moulin Rouge - Amor em Vermelho (2001) que tem fãs espalhados por todo o mundo e deu novo gás ao estilo do gênero dramático. Com poucos filmes na carreira, o diretor conquista o sucesso de público com a mais nova versão do clássico da literatura americana de F. Scott Fizgerald, O Grande Gatsby (Austrália e EUA, 2013), sem, no entanto, conseguir aprovação da crítica.
Mas Luhrmann não se acanha. Seus filmes seguem o estilo quase igual de uma produção para outra. São sempre obras grandiosas, com uma parte técnica marcante, o visual exuberante, fotografia, figurinos, edição, efeitos visuais, assim como a trilha sonora. Como na sua versão do clássico de Shakespeare e também no musical da famosa casa noturna de Paris, O Grande Gatsby é um filme com pretensões artísticas contemporâneas, bebendo desde a fonte do jazz mais clássico, até a grandiloquência da indústria pop atual. Criticam que sua fórmula extravagante acabe engolindo a narrativa, o roteiro. Falam que os efeitos do filme, assim como a atmosfera exagerada para a época, é algo de mau gosto, cafona. Mas, então, não é divertido?
Sabe-se que o livro é muito famoso nos Estados Unidos, da qual, é leitura obrigatória no ginásio. Já foram feitas outras três transposições para o cinema, e nenhuma se deu bem - criticaram principalmente o ritmo das narrativas. Então, Luhrmann vai ao seu extremo de ousadia - já errou com o interminável Austrália (2008) - e entrega um filme moderno, com uma narrativa que se mistura literalmente com o visual extraordinário do longa sem perder o fio da meada. Funciona como um videoclipe de luxo, poderoso, bem condicionado e ritmado.
A história se passa nos dourados e bagunçados anos 1920, e tem como protagonista Nick Carraway (Tobey Maguire) que depois de avistá-lo, passa a ter uma certa obsessão por seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Eis que Gatsby convida o jovem para uma de suas famosas festas. E o que tem de famosas, tem de extravagantes. A mansão do milionário se transforma praticamente em um Moulin Rouge de cores e ritmos. Sem distinção de classes sociais. Depois disso, os dois passam a ser amigos, mas Gatsby continua cheio de mistérios. Então, Nick descobre que o novo amigo é uma antiga paixão de sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), uma mulher que é um verdadeiro sonho em carne e osso, e desperta em qualquer homem uma atração natural. Nick deseja fazê-los voltar com o relacionamento, apesar de Daisy ser casada com o também rico Tom Buchanan (Joel Edgerton).
A história se desenrola como uma novela. Com grandes momentos dramáticos - as atuações são grandiosas, desde Tobey Maguire, dividindo muito bem as atenções com o grande astro Leonardo DiCaprio (pra mim um dos melhores atores de sua geração) até o casal Carey Mulligan com Joel Edgerton - este num papel de vilão, mas que tem uma profundidade nada comum para cair em clichês. A visão do contexto geral, também é um grande trunfo. O diretor consegue inserir muito bem o espectador dentro daquela América proibida, grandiosa e rica, não se importando para a lei seca, e vivendo aquela ilusão dourada que parecia nunca terminar. O sonho é sempre refletido no olhar de admiração de Nick por Gatsby, aquele homem que cresceu de forma genuína pelo amor, mas agora sobrevive de fraudes - um de seus segredos bem guardados. O castelo na verdade é de cartas de baralho no lugar de concreto, pronto pra desabar.
Juntando a ascensão dos poderosos e a marginalidade dos mais pobres - esses servem como amantes, válvulas de escape que nunca serão assumidos, nem depois de mortos - a história caminha ainda no vale sombrio do que é o ser humano que se corrompe quando ocorre o desequilíbrio na dosagem de amor. Gatsby apesar de ter tudo, também vive olhando na vitrine o que é o seu maior desejo: Daisy. E assim perde a cabeça. Esta é apenas um sonho, uma representação deles sobre a mulher perfeita, de três homens que lhe cercam sem culpa alguma. Lurhmann trata disso tudo como uma grande festa, sem espaço pra melancolia, mas que como todos sabem, começa a ruir não só com a crise econômica de 1929, mas também com a decadência moral e o abuso por parte dos abutres que retalham as vítimas desse medo, não o que tem o sentimento, mas o que sofreu por causa das ações do medroso. Energético, divertido, inspirador. Essa leitura de O Grande Gatsby é um emocionante sopro de vida e ousadia no cinema.
não pude assistir, mas tenho certeza que antes do fim de ano ele estará na sky :)
ResponderExcluiresse filme fez um fuzuê que não entendi o motivo, no mundo fashion. mas né, tem muita coisa no mundo fashion q eu não entendo... :x