Produção é belíssima e um autêntico filme de Tim Burton
Enfim, depois da torturante espera de um mês de diferença do lançamento nos Estados Unidos, Alice desembarcou ao Brasil. Com direção do gênio
Tim Burton (
A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet), e estrelado pelo seu - e de 90% da população - ator favorito
Johnny Depp (
Piratas do Caribe, Em Busca da Terra do Nunca) a nova adaptação cinematográfica do livro
Alice no País das Maravilhas de
Lewis Carroll e publicado em 1865, entra na era da tecnologia e é lançada em 3D. Possui direção de arte e figurino afinados, atuações e personagens infalivelmente divertidos, porém, não entusiasma com o roteiro quando comparado à ficha técnica - e não melhora nem mesmo visto com óculos especiais.
O filme é um espécie de sequência da história original. Começa com Alice, criança, dizendo para o pai que sonhou estar em um mundo diferente, mágico. Então, 13 anos se passam e agora com 19, Alice (
Mia Wasikowska, bonita e mediana) tem de encarar a tediosa festa armada por sua família, para selar um noivado arranjado. A jovem se mostra inquieta, cansada de fazer o que os outros a mandam fazer. Durante a festa, ela persegue o coelho branco e sem querer vai parar no mundo das maravilhas. As criaturas do lugar, não acreditam ser a jovem, e ela mesma nem se lembra de ter estado ali antes. A verdade é que eles buscavam levar Alice ali de volta para ajudá-los, já que uma profecia diz que ela é a única salvação para deter a Rainha de Copas (
Helena Bonham Carter) do controle absoluto e devolver o reinado para a Rainha Branca (
Anne Hathaway, apagada), que é pacífica e equilibrada. Durante a aventura, ela se encontra novamente com o coelho - que devia aparecer sempre atrasado, mas aqui perdeu um pouco essa característica -, o gato sempre sorridente e que rouba a cena, a lagarta que vive fumando ópio, os atrapalhados irmãos gêmeos, um simpático cachorro que agora vive escravizado pela Rainha de Copas e, claro, O Chapeleiro Maluco (
Johnny Depp), isso para citar alguns principais.
A jornada limita-se a cenários exuberantes, algumas piadas e situações engraçadas (parte delas envolvendo o Chapeleiro) e fica em momentos arrastada, sem uma dinâmica empolgante ou pelo menos saindo do lugar comum. O problema aqui, talvez seja o ritmo tomado pelo diretor, que sempre encontrou no suspense o modo de fazer a perfeição. Alice não parece ter muito onde correr, está tudo tão organizado para suas decisões e seu caminho. Ela não está perdida fisicamente, apenas precisa dessa experiência para entrar na vida adulta e conseguir tomar suas próprias decisões. Porém, o público não tem tempo para entrar no espírito da personagem e sentir seu drama e muito menos se inserir na nova aventura. Mas, o que realmente não dá pra entender é a batalha final, em que os exércitos vão lutar e Alice tem de fazer algo, da qual, julga impossível. É tudo muito rápido, com um clímax sem nenhuma emoção. Até mesmo a dancinha
à la Michael Jackson do Chapeleiro, pouco empolga tamanho é a correria.
Tim Burton e seu intocável time
Mesmo que doloroso dizer, é frustrante depositar as fichas em um diretor que sempre foi tão autêntico e que costuma acertar mais do que errar, e agora se vê produzindo um filme que mais teve
marketing do que qualidades.
Alice não tem nada de diferente, nada que o trailer não mostra. O 3D decepciona e só chama atenção pelo gato que flutua pela sala, mas isso não se viu também nos trailers? Mesmo com um visual impecável e uma história que combina com a personalidade gótica do diretor, não existe aqui cenas memoráveis e alguma inovação. É mais uma dobradinha perfeitinha de Burton e Depp e isso não é necessário ser lembrado pelo público mais uma vez, já que os dois são parceiros há anos. Isso sem tirar em outros aspectos como a trilha sonora composta mais uma vez pelo ótimo
Danny Elfman ou a nova participação da mulher do diretor, a
Helena Bonham Carter. A impressão que fica é que o Chapeleiro Maluco, se torna o personagem principal, o que acaba sendo umas das poucas coisas que sustentam o filme, além do visual. Ausente de uma história mais divertida, essas atuações passam ser a melhor parte da produção. O próprio Depp está mais uma vez excêntrico e estranho, porém, sempre carismático. A Rainha de Copas é uma atração à parte. Depois de chamar atenção na pele como Bellatrix Lestrange em
Harry Potter,
Helena Bonham Carter sabe ser má na medida certa e o visual cabeção como a Rainha, motivo de piada o tempo todo, é de extrema qualidade, sem contar nas divertidas repetições da famosa frase aos berros
"cortem-lhe a cabeça!".
O diretor
Tim Burton ainda está para fazer um grande filme no nível dos clássicos que marcaram sua entrada no cinema, seja o incrível
Edward - Mãos de Tesoura,
O Estranho Mundo de Jack, ou até como o incompreendido
Batman - O Retorno, e pouco importa se terá
Johnny Depp, sua mulher e Elfman - melhor se tiver todos eles, claro -, o que os fãs e o cinema hollywoodiano necessitam é da visão diferenciada do diretor, mas com uma história que realmente consiga dar liberdade à ele de expor por completo seus pensamentos. Em
Sweeney Todd, ele quase chegou lá, mas o fato de ser um musical muito clássico fez o filme perder, em partes, o brilho - mesmo impossível ser de outra maneira. Mas, é bom que ele ainda esteja acertando suas pinceladas, é daí que a genialidade vai amadurecendo e chegando à perfeição, ou serei apenas eu comemorando quando vê-lo recebendo um merecido Oscar ao lado de seu pupilo Depp? Mas, fica um recado: caro Tim, só não me faça ver novamente a árvore dos mortos em seus futuros filmes.
(Não entendeu? Repare no fundo do cartaz principal no começo do post, e me diga se aquela árvore distorcida atrás de Alice, não é a mesma de A Lenda do cavaleiro sem Cabeça?)
Alice no País das Maravilhas
Alice in Wonderland
EUA , 2010 - 108 min.
Aventura / Fantasia
Direção: Tim Burton
Roteiro: Linda Wolverton
Elenco: Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Bonham-Carter, Crispin Glover, Alan Rickman, Mia Wasilkowska, Stephen Fry, Michael Sheen, Timothy Spall