Demorei à assistir a adaptação cinematográfica dos desenhos da Nickelodeon, Avatar. Não conheço a produção que é voltada ao público infantil, mas fiquei atraído com o trailer do filme O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, EUA, 2010), além de saber que o autor do famoso O Sexto Sentido, M. Night Shyamalan, assinava a direção e o roteiro. Com tantas críticas negativas que foram surgindo, a vontade foi diminuindo e se extinguindo, chegando que na hora da escolha, sempre optava por outro filme em cartaz. Infelizmente, assim como muitos outros fizeram. Mas cometi um erro. Assim como a crítica se sucumbiu à um ódio irrestrito ao diretor, o público acabou comprando uma ideia um tanto equivocada de suas novas obras.
É engraçado que na maioria dos textos disponíveis sobre o filme, apenas uma coisa está em jogo: o fim de sua carreira como diretor. Começam a citar os deslizes como A Dama da Água e o terror trash Fim dos Tempos, e aí jogam pedra no que seria a primeira experiência do diretor numa adaptação do gênero fantasia. Ou seja, ele não pode mais errar se não já pode ser enterrado de vez na pilha de folhas dos críticos e consequentemente nas bilheterias. Em Hollywood existem jornalistas que até vendem textos elogiosos aos estúdios, afinal, o método ajuda na publicidade e na carreira de certos diretores. São poucas produções e diretores imunes ao sistema. Mas M. Night Shyamalan não parece ligar pra isso, faz seu próprio roteiro e o filma, não aceitando pitacos dos estúdios que temem um erro e percam dinheiro. Daí ele comprou briga com a Disney (entenda melhor aqui). Infelizmente, o estúdio estava certo nos conselhos - que defendiam também os ideais da empresa -, pediam para que ele não usasse um personagem crítico de cinema e ainda fosse o único devorado pelo monstro em A Dama da Água, além da participação dele próprio (como sempre fez em outros filmes) como um personagem de grande importância na história, já que não é um grande ator. Mas o diretor não tem um direito de defender sua ideia? Em Fim dos Tempos, abandonado pelos grandes estúdios - o que pode comprometer a produção -, conseguiu por sorte a distribuição pela FOX, e mostrou o que já vinha sido perceptível nos outros longas, um roteiro mal desenvolvido, problemas de execução e atuação, mas com uma mensagem interessante da história.
Em O Último Mestre do Ar, a crítica estava lá, pairando ansiosa como um abutre e pronta para em detonar o filme de todas as formas, pouco importa se é um filme voltado à certo público. A verdade é que sim, o filme tem lá seus problemas, mas nem de longe é o desastre que o chamam. Não é a pior adaptação cinematográfica de todos os tempos para um desenho e nem pode ser o fator decisivo para decretar o fim da carreira de um diretor. Em um ano tão fraco de blockbusters, ouso a dizer que me diverti muito mais assistindo o filme em DVD, do que quando fui ao cinema ver a última parte da aventura As Crônicas de Nárnia. Desastres e fracassos no gênero, temos Dragonball Evolution, que pode ser considerado ruim em todos os aspectos e até mesmo o pretensioso Speed Racer. Mas em O Último Mestre do Ar, M. Night Shyamalan apresenta um versão mais zen e realista/sombria do que seria o desenho, deixando de lado a caricatura forçada dos personagens ( feitos assim para serem bem aceitos na TV infantil). Claro que esse ponto pode ser negativo para os fãs da saga, mas deve-se deixar claro que os criadores e produtores do próprio desenho prestaram consultoria ao diretor - inclusive nos extras ambos aparecem lá felizes em dizer como construíram a história.
Os críticos falam mal gratuitamente, desde preconceito por parte da equipe do filme na escalação de atores caucasianos no lugar dos orientais, como é no desenho (como se nos Estados Unidos não fizesse diferença), até no roteiro fraco, como se o desenho fosse uma obra prima a ser adaptada. O maior problema é que o ódio que a crítica sente por ele é exatamente uma forma de punir à eles mesmos por criarem um gênio que na verdade nunca existiu. M. Night Shyamalan foi superestimado de um jeito tão cruel que aos poucos sua carreira mostrou que apesar de criativo e exímio talento para o suspense, seus trabalhos apresentam problemas na produção e no próprio roteiro. E isso não é um problema isolado à apenas ele, ainda mais se tratando de superproduções, só que ele foi o cara que fez O Sexto Sentido - até esse sucesso lhe subiu à cabeça.
Entretanto, o que não é dito, é que o diretor ainda consegue mostrar um trabalho equilibrado e consistente em O Último Mestre do Ar. O filme possui bons efeitos visuais, movimento, uma interessante mensagem budista - dando ênfase na importância de manter o lado espiritual do mundo, sua natureza quieta, pois ela é importante ao equilíbrio e paz entre nações. Deve-se respeitar as riquezas de outros povos. Aqui, nem mesmo o vilão é um mal caráter, e sim um anti herói pressionado à fazer justiça. O protagonista Aang está em luto e busca redenção, já que certas atitudes anteriores suas contribuiriam para o caos. O que pode ser levado em conta ainda, é que esse seria o primeiro capítulo de uma possível franquia e, ainda assim, o diretor poderia contornar o excesso de didatismo, melhorar a estética acinzentada e principalmente inserir um pouco mais de humor. Mas até lá, o caminho de M. Night Shyamalan também é cinzento, mas nem por isso ele deva ser esquecido e enterrado pelos críticos que também falham assim como ele. Em tempos que tem críticos rasgando elogios absurdos à Alice no País das Maravilhas e Os Mercenários, é bom desconfiar.
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção: Este blog contém conteúdo opinativo, por isso, não serão aceitos comentários depreciativos sobre a opinião do autor. Saiba debater com respeito. Portanto, comentários ofensivos serão apagados. Para saber quando seu comentário for respondido basta "Inscrever-se por e-mail" clicando no link abaixo.