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março 28, 2013

Crítica: Justin Timberlake com seu novo álbum, "The 20/20 Experience", provoca - literalmente - longas emoções

O maior lançamento do ano não decepciona



O retorno de Justin Timberlake com certeza foi uma das coisas mais esperadas do ano. No último dia 19, o novo álbum de Timberlake teve seu lançamento em alguns países e em sua primeira semana fora registrada uma venda maior que 980 mil cópias apenas nos Estados Unidos.

Técnica

Em The 20/20 Experience não se tem muita coisa nova, Justin apresenta um retorno clássico e de extrema qualidade. Novamente sob a direção de Timbaland, possui sons fortes, com o gênero Neo Soul e corais muito bem arranjados em todas as canções.

O termo 20/20 significa, no meio oftalmológico, uma visão de qualidade, o que deu origem a sua capa e ao meio em que as letras são expressadas, principalmente em "Mirrors" e "Tunnel Vision".

Track2Track

Pusher Love Girl, lotada de coros é sem dúvidas uma das melhores do álbum, o que surpreendeu após aquela performance desnecessária no Grammy Awards. Após, o carro-chefe e a melhor música do CD: Suit & Tie, um R&B super animado com a magnífica participação de Jay-Z. Don't Hold The Wall logo ganha espaço mostrando a sofisticação da produção, leva consigo uns samples árabes logo após do coro de entrada e tem ritmo grudento! Em seguida Strawberry Bubblegum passa despercebida até  revelar uma batida com influência no samba carioca, e Tunnel Vision, que tem samples repetitivas, tornando-se cansativa.

Tudo continua com Spaceship Coupe onde há qualidade porém mostra-se incômoda devido sua duração e a falta de novidade. That Girl tem características surpreendentes, fazendo qualquer pessoa se sentir dentro de um live do cantor. Let the Groove Get In é contagiosa e dançante, porém novamente a persistência do refrão deixa rastros de exaustão.

Sem mais para Mirrors! Já é sucesso no Reino Unido e provavelmente entrará no top 10 da Hot 100. A música lembra o início da carreira de Timberlake, o estilo, a sonoridade. É possível até surgir perguntas leigas como: Qual boyband canta essa música? A versão standart fecha com Blues Ocean Floor, um erro de balada, uma tragédia com a voz do cantor, o grande erro da setlist.

A versão deluxe conta com duas músicas que podiam ter feito parte da versão normal, principalmente substituir algumas. As rimas de Timbaland deixa as músicas mais contagiantes, são totalmente animadas e de qualidade impecável, são elas: Dress On e Body Count.

Conclusão

Justin se esforçou, tentou dar ao público algo mais calmo com o mesmo padrão de sonoridade do seu último álbum e suas referências ao passado são indiscutíveis. A duração das músicas causa fadiga e a falta de surpresas em algumas músicas são erros que o cantor já apresentava. Timberlake tentou mostrar seu ângulo de visão, se perdeu um pouco no caminho, por outro lado a qualidade da produção continua inegável, essa é a 20/20 de Timberlake.

Apostas

Body Count e That Girl

Vídeos




março 26, 2013

Crítica: 'The Big C' se recupera com final de temporada brilhante

Terceira temporada traz a catarse de Cathy que embarca para a vida


Lá se foi a penúltima temporada de The Bic C, a série que rendeu um Globo de Ouro de Melhor Atriz para Laura Linney no papel de Cathy, uma mulher suburbana que descobre ter câncer. Com um ano de diferença em relação a exibição nos EUA, a HBO Brasil mostrou o último episódio da terceira fase da dramédia na última segunda (25). E foi uma temporada ligeiramente melhor do que a anterior, que apesar de interessante para a jornada da protagonista, se perdeu em núcleos um tanto banais. Agora o seriado focou em mostrar que Cathy acabou se prendendo em coisas um tanto desnecessárias para seu momento sombrio. Seu comportamento estava sendo ainda mais autodestrutivo.

A temporada mostrou duas vertentes sobre a situação da protagonista. Primeiro, foi a revelação que seu marido Paul (Oliver Platt) teve. Depois do infarto mostrado no final da temporada anterior, ele se juntou à uma líder motivacional (participação de Susan Sarandon) e se encontrou relatando sua virada na vida como palestrante. Por toda temporada Cathy tentou entrar nessa onda, ir nas palestras, mas não conseguiu. Não aceitou o caminho um tanto hipócrita - afinal, Paul foi assediado pela líder. Além disso, ainda nessa vertente espiritual, Cathy viu seu filho Adam (Gabriel Basso) de converter ao catolicismo. Obviamente, ela não consegue se vincular à isso, por mais que tenha essa ligação. É como se Cathy não sentisse a vida pela fé.

Em contra-partida, na outra vertente, ela partiu para "viver". No primeiro episódio, em simbólica cena, vê-se Cathy presa dentro da piscina congelada. É como se sua luta contra o câncer fosse aquele desafiador nado até encontrar a saída. Com medo do susto, a mulher busca viver ao seu modo. Fuma, bebe, mente. Se desprende das amarras da sociedade, porém, se vê caminhando no escuro - se sacudindo numa piscina congelada. Resolve adotar um bebê. Toda sua esperança passou a girar em torno daquela necessidade. Abriu, simbolicamente, um buraco em um quarto que reformaria para a criança. E logo descobriu que fora enganada. Enquanto isso, sua relação tanto com o marido quanto com o filho definhavam.

Como um último sinal de esperança, Cathy vai pra Porto Rico com a família, seguindo uma palestra de Paul. O momento é mais do que oportuno para ela aproveitar e descansar. Até que, aquela cena do início, mostra que Cathy está traumatizada. Seus medos com a morte acabam sendo mais fortes que a necessidade de encontrar uma saída. É como se até então ela tivesse entendido a mensagem de forma equivocada. E ainda tem o agravante das pessoas não compreenderem seu comportamento. No cemitério, com más notícias, ela acende um cigarro. Quando Cathy se perde no paraíso, digo, em Porto Rico, em uma cena belíssima ilustra a fase dela: mergulhando nas profundezas do Oceano, da vida. Procurando algo interessante, ainda com seu pulso amarrado em belezas um tanto supérfluas (uma caderneta mostrando espécies de peixes). Some no escuro. É "pescada" por Angel (nome bem sugestivo para a situação). E nesse momento, Cathy passa praticamente por uma terapia, já que Angel não entende uma palavra sequer do que a mulher fala. Nesse momento ela reflete o estado triste da sua vida, ainda mais tendo notícias que seu câncer voltou a crescer.

É visível que finalmente Cathy entendeu o significado daquilo tudo. Se desprender das amarras da vida é sim algo válido, positivo. Mas Cathy, ainda fazia parte daquilo. Daquela sobrecarga de negatividade que ela mesma atraia. Vivia a vida como antes, com dilemas desnecessários, problemas que ela mesmo criava. Na cena final, da qual, ela se despede de Angel e se vê no inferno que é a realidade, Cathy tem uma epifania de finalmente aceitar seguir seu caminho predestinado: o paraíso. Não necessariamente a morte, mas sim a vida. A sublime vida, com momentos que realmente importam, não pela sua grandiosidade como ter um filho, mas sim os detalhes que fazem a vida valer a pena. Ter um momento de paz sem o filho mimado e o marido que ela sempre quis se separar, só esperava seu filho crescer. Os momentos únicos como embarcar sem destino. Se aventurar e abraçar a luz.  The Big C caminha direto nessa luz, e seu ato final garante muita emoção depois dessa catarse de Cathy. Imperdível.

março 25, 2013

Crítica: excelente temporada de 'Girls' mostra mais um passo à complicada vida adulta

Seriado retrata jovens adultas "modernas" que agora, ironicamente, buscam um "príncipe"


Depois de uma primeira temporada que mais serviu para a introdução da história de quatro amigas - Hannah (Lena Dunham), Marnie (Allison Williams), Jessa (Jemima Kirke) e Shoshanna (Zosia Mamet) - em uma jornada de autodescoberta na vida adulta, a série da HBO, Girls finalizou seu segundo ano no último domingo (24). Vencedora do Globo de Ouro de Série Cômica este ano, ela se despediu com irônico ato: fora do berço, a busca por um novo colo - o amor. Tudo continuou seguindo por um caminho ainda mais tumultuado do que na fase anterior (problemas em relação ao sexo, o trabalho, relacionamentos), porém, as inseguranças são as mesmas. Como ser adulta sem deixar de fazer as coisas do seu jeito? Elas tropeçam nessa questão de forma fenomenal e reflexiva.

Hannah, depois de desilusões amorosas e problemas com suas amigas, está dedicada a buscar sua independência financeira. Seu primeiro trabalho vem com a sua tão sonhada vida de escritora. A chance de escrever um e-book para uma editora relatando suas reviravoltas da vida (mais uma prova do tom autobiográfico que a série da própria Lena tem), acaba deixando-a estressada, ansiosa e desencadeia TOC (transtorno obsessivo compulsivo), algo que a jovem já havia tido na infância. Hannah ao mesmo tempo que tem o desejo de abraçar a nova fase da vida, ainda se recusa à crescer - e a doença representa isso. Em um dos episódios, ela se envolve com um homem mais velho (participação especial de Patrick Wilson), médico e recém-separado. Tem uma catarse do que pode seu futuro, mas não alimenta a ambição - afinal, aquilo não parece lhe pertencer. Esse episódio que foi massacrado por parte da imprensa (por ser de fato inverossímil, como várias outras coisas na série - mas que pra mim servem como licença poética), serviu em base para entendermos a constante frustração da protagonista. Ela não tem nada e ninguém de fato. Chora sozinha quando cai a ficha daquele momento que mais parece um sonho. Ser mulher moderna e independente é complicado e trabalhoso.

No penúltimo episódio, Hannah fere o ouvido. Seus pais não oferecem ajuda que ela tanto clamava e na enfermaria, sozinha, nem o enfermeiro lhe dá a atenção que tanto quer. Encontra o ex Adam (Adam Driver) que faz a linha "estou bem sem você". Passa-se o episódio inteiro achando que o TOC tem tomado conta dela, mas na cena final, percebe-se que esse fato isolado foi apenas uma ferramenta infantil de Hannah pra chamar atenção e fugir das responsabilidades (seu livro está atrasado).

Hannah é uma criança mimada, que de preguiça de se levantar, machuca a bunda obesa ao se arrastar. Corta o cabelo e fica mais ainda parecida com uma criança. Se auto feriu o ouvido, metaforicamente porque não quer ouvir os outros. Jogam as verdades em sua cara, e ela logo veste o papel da vítima, mente e se faz de doente. Faz pirraça. Se esconde de quem sabe do seu fingimento. Sorte sua que no fim, Adam, que tem lá seus problemas de aceitação das pessoas sobre seu comportamento íntimo pouco comum, corre atrás da amada - a única que aceita seu lado sombrio. Hannah adulta é o retrato de sua infância: faltava as aulas se dizendo doente, não quer escutar ninguém e busca atenção (faz questão de mostrar a pulseira de pronto socorro no pulso) ou um novo alguém para cuidar de si.

Marnie segue o mesmo caminho. Frustrada profissionalmente, tem seus problemas com o ex-namorado Charlie (Christopher Abbott) e sua dificuldade de se desvirtuar disso. Suas semelhanças com Hannah são muitas. Enquanto Hannah tem características que a "atrapalham" seguir sua vida (é por vezes egoísta, presunçosa, narcisista, neurótica), Marnie tem ao seu favor, sua beleza e carisma. Se envolve com um antigo chefe, e se vê como Hannah sonhando: com um homem mais velho, independente e que serve tanto para se satisfazer pessoalmente, quanto profissionalmente. Porém, Marnie se incomoda com Charlie ter seguido sua vida. Como uma criança abandonada (sendo que foi ela quem terminou com ele) corre atrás dele. Suas ações aumentam ainda mais quando ela descobre que ele está rico. Ela chora, faz escândalo, corre atrás e quando ele não quer voltar a namorar, ela faz cena. Cruza os braços, chora. Humilha Charlie que não lhe quer dar o doce. No fim, consegue.

As outras amigas tiveram tramas menores, como de praxe. Mas dessa vez, Shoshanna apareceu mais que Jessa. A mais retraída das amigas, agora tem, literalmente, gritado pelo o que quer, ao invés de seguir uma vida conformista - o terror de todas. Depois de perder sua virgindade com Ray (Alex Karpovsky) - um outro exemplo de personagem com falta de perspectiva e que é acomodado -, ela se sentiu na obrigação de o ter como namorado. Até que... como nunca na vida, Shoshanna se entrega à perdição sexual, da qual, uma grande cidade pode oferecer, e ela vai viver isso intensamente. Jessa, seguindo o estilo "carpe diem" ao pé da letra, se casou com um desconhecido e se separou num piscar de olhos - depois ainda de conhecer os pais do cara (que representam tudo que ela é contra). Ela tenta viver sua vida se entregando ao mundo, como aprendeu com seus pais - mas eles mesmos tem problemas em relação à vida e com a própria filha que constantemente é imatura.

Girls caminha seus primeiros passos, como pede o início da vida adulta, apesar de que suas protagonistas preferem ainda imaginar que podem virar cantoras, terem dinheiro brotando de árvores e que a felicidade é possível como quiserem (esbarrando em homens bem sucedidos por aí). Se escondem em falsas obrigações (o livro pra entregar), e se encontram nos garotos que igualmente tem suas frustrações e vulnerabilidades. Procuram uma acomodação sentimental e profissional achando que seguem o plano de garotas modernas e distantes do futuro aterrador que seus pais aceitaram. No fim, com essas atitudes, elas não se dão conta que caminham para o que eles inevitavelmente abraçaram: a vida adulta nada romântica e sim realista.

março 23, 2013

Crítica: Wagner Moura à procura de redenção no emocionante 'A Busca'

Drama explora relação familiar deteriorada desde o passado do patriarca


Ultimamente há um consenso que histórias familiares envolvendo a classe média, volte e meia garantem bons filmes. O cineasta iraniano Ashgar Farhadi encontrou nessa vertente a fórmula para além de desmistificar conceitos errôneos criados internacionalmente sobre seu país, faz além de uma crítica reflexiva social da realidade (que precisa muito mudar, e ele não esconde isso), mas também humana e ainda garante uma produção bem elaborada, e produzida. É o caso de A Separação (2011), premiado pelo mundo, inclusive sendo vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2012. O Brasil tem caminhado por essa trilha e igualmente mostrando competência. Desde filmes voltado ao público adolescente, como As Melhores Coisas do Mundo (2010) e Desenrola (2011) até dramas pessoais como Estamos Juntos (2011),  É Proibido Fumar (2009), À Deriva (2009), entre outros. A produção A Busca (2013) de Luciano Moura é mais um que consegue se sobressair contando mais uma história familiar dessa classe tão controversa.

O longa narra a história de uma família deteriorada. O patriarca da família, Theo Gadelha (Wagner Moura, mais uma vez excepcional) é um médico arrogante, da qual, seu jeito explosivo de lidar com as coisas deixou seu relacionamento por um fio com a mulher Branca (Mariana Lima, conhecida pela série Sessão de Terapia). Quem sofre mais é o filho adolescente do casal, Pedro (Brás Antunes), um jovem idealista que gosta muito de ler e desenhar. Porém, no meio dessa guerra de casal, quem sofre calado é o filho. É quando Pedro desaparece e isso faz ambos se unirem para procurá-lo. Entretanto, quando descobrem que Pedro fugiu de casa, é Theo quem parte nessa essa jornada que vai servir para não só se conhecer e perceber como o mundo ao redor o enxerga, mas também vai conhecendo histórias familiares diferentes, e assim amolecendo seus sentimentos atrás de redenção.

Luciano Moura consegue equilibrar muito bem a linha tênue de drama sério e o estilo piegas que constantemente ronda produções do gênero. Trata a história de forma singular, abusando de simbolismos para assim costurar cenas belas e outras apocalípticas. E esses símbolos são muitos - como um simples cavalo -, e fazem essa produção caprichada envolver até o espectador mais ingênuo. Seja na metáfora da casa deteriorada: pronta para ser desocupada, com uma piscina inacabada, uma goteira que insiste em incomodar. Ou na jornada do pai: Theo parece um extra-terrestre conhecendo o mundo ao redor, não se desprende de sua nave (carro), e contrasta com suas roupas em meio a pobreza da estrada. Theo segue a risca "bate antes, pergunte depois", é impaciente como qualquer individuo naquele mundo louco das grandes cidades. Branca também é desse jeito. Sua grosseria em atender trabalhadores, um mau-humor genuíno e é individualista - em uma cena mostrada conversando com um desses pedreiros através de uma porta de vidro. É como se fosse a gaiola transparente de uma classe que não gosta de se misturar.

A busca pelo filho vai rendendo outras cenas líricas para mostrar os sentimentos do pai. O seu desespero na balsa, ele, literalmente, se afundando quando cai no rio e depois grita de desespero num bote que não sai do lugar; o vários problemas em estabelecer uma comunicação básica com a esposa e dar notícias; o encontro com jovens na autoestrada que buscam carona, levando-o para um festival em que Pedro esteve de passagem; o parto à beira de um rio (a liberdade de pensamentos daqueles jovens, a forma inocente e romântica de ver a vida); o banho de Theo no mesmo rio, mergulhando de vez na experiência do filho. O atropelamento quando fica sabendo de uma notícia que causa uma reviravolta na história. Fica claro que Theo é um homem que nunca teve esse comum sentimento da fase de buscar a liberdade e agora vive à sombra do filho nessa caminhada. Ele não conhece o filho, não o encontra, exatamente porque não se conhece. Theo tem problemas com seu próprio pai (Lima Duarte), sentimentos de mágoa provavelmente originados por uma separação brusca entre seus pais. Termina de forma poética, sem cair no óbvio, mas com uma cena que claramente causa incompreensão aos mais desacostumados e não entenderam a metáfora da piscina.

Mas também, infelizmente, o filme não está longe de problemas. Os diálogos redundantes, cansam a paciência do espectador. É o caso das constantes repetições de perguntas e respostas sobre o óbvio - por mais que o pai queira o máximo de exatidão, é um tanto inverosímel a constância disso. Mas nada que prejudique o resultado final. A Busca é um filme acima da média que segue o rastro de outras histórias contadas de forma soberba, aliando uma trilha sonora bela e uma fotografia emocionante - e, nesse caso, ainda possui uma ajuda do cineasta Fernando Meirelles na produção. Um filme que merece ser descoberto e visto com a mente aberta para absorver todos seus significados e a mensagem sobre paternidade - pena que, curiosamente, a própria classe média representada ali, não prestigia ou não faz questão de entender.

março 22, 2013

Crítica: 'O Mestre' pondera o poder do vício na crença e a necessidade de um líder

Paul Thomas Anderson faz mais um debate emblemático 


A fé move montanhas. Não existe frase mais polêmica para aqueles prós e contras que acreditam ou não em alguma crença. Tal argumento por mais que seja rebatido pelos céticos, será sempre uma ilustração forte e implacável para os religiosos. E querendo ou não, todo ser humano está propenso à seguir algum ideal ou filosofia - e consequentemente, um líder. Em O Mestre (The Master, 2012) o diretor Paul Thomas Anderson traça um paralelo de como quanto mais primitivo o homem, mais necessário sua dose diária da crença - por mais absurda que ela seja. Os sentimentos de segurança e esperança, sempre serão os fatores motivadores para alcançar algum caminho de clareza espiritual ou racionalidade. E o poder de persuasão é uma ferramenta mágica nesses casos - e é bem bobagem se prender na polêmica da cientologia, sua mensagem vai além disso.

O mais novo longa de Anderson caminha no terreno seguro de sua obra prima anterior, Sangue Negro (2007), da qual, mostrava um duelo entre a religião e o capitalismo como se fosse uma disputa mortal entre a selvageria da ambição e a prostituição cristã atrás de apoio. Agora, o diretor, conta mais uma história original e que capta a necessidade humana por ser guiada por um mentor, não interessa bem se é um líder espiritual, cientista ou um médico. Seguindo o mesmo estilo cru, visualmente estridente (e belo, com destaque para a fotografia grandiosa) e abusando de analogias para refletir o debate, Anderson é um grande maestro. Já havia provado em seu currículo que indica seu exímio trabalho, além de diretor, mas como roteirista em obras primorosas como Boogie Nights (1997) e Magnólia (1999). O que não foi tão bem desenvolvido em Sangue Negro (por falta de necessidade), que tratava a religião apenas na sua forma como instituição e Igreja, agora ganha contornos mais "espirituais".

O longa segue a trajetória do marinheiro Freddie Quell (Joaquin Phoenix) que após ter participado da Segunda Guerra Mundial, busca seguir sua vida (apesar de o comum, nessa situação, é estar sem perspectiva e sempre à deriva). Vale lembrar que neste período, os Estados Unidos vivia uma mudança comportamental que refletia ainda lentamente na espiritualidade. Porém, além de traumas causados quando jovem (um comportamento sexual desequilibrado, talvez dessa juventude tomada pela servidão), Freddie ainda apresenta o agravante de problemas oriundos do combate, como ansiedade e uma atitude constantemente violenta - intensificados por ser alcoólatra. Ao conhecer Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), um carismático líder de uma fraternidade religiosa conhecida como A Causa, Freddie passa a seguir seus ensinamentos, em troca da cura de seu comportamento. Aos poucos essa seita que mistura experiências parecidas com a parapsicologia e uma dose religiosa carregada de otimismo, fazem o homem ficar dependente dos ensinamentos de seu mestre, Lancaster.


Para criticar o círculo formado pela A Causa, o diretor insere um personagem completamente deteriorado, tanto fisicamente quanto moralmente, para tentar se curar por ela. Freddie está praticamente em um nível primitivo de consciência. A ótima atuação de Joaquin Phoenix denota bem o animal que ele é. Os trejeitos curvados do personagem e seu desequilíbrio emocional, praticamente o fazem parecer um gorila aflito durante o estresse que passa nos experimentos. Freddie se transforma em uma cobaia para tentar se curar pelas mentiras da seita. Sim. O diretor não esconde que A Causa, é uma crença que se apóia numa falsa ciência para angariar fiéis. Seja pela maneira em que é pregada - naturalmente, apoiada pelo forte carisma de seu líder - até a condução criminosa ao redor (Lancaster chega ser preso por estelionato). Seu segundo livro também tem problemas de coerência em relação à obra anterior - mostrando um jeito mais abrangente de conquistar adeptos: a mudança de "você poderia se lembrar" para "você consegue imaginar" em um dos testes importantes de hipnose. Uma clara referência ao charlatanismo que a seita parece se basear.

Em outros termos, A Causa também tem seus fiéis mostrados completamente mergulhados na hipocrisia. A princípio a chegada de Freddie parece inofensiva, mas aos poucos vai incomodando os outros seguidores de Lancaster - provavelmente por ele não conseguir se curar. Seja a nora do líder que se interessa sexualmente por ele (depois ela mente, dizendo que é ele quem está interessado nela), até mesmo seus problemas de bebida - o diretor faz uma grande síntese da falsa moral, quando em um jantar, em que criticam o comportamento de Freddie, um caminho de taças de vinho sobrepostos na mesa, chega até Lancaster num plano fenomenal. Porém, essa sutileza é rara, pois em outras cenas mais sexuais a história é mais clara. Em um momento, Freddie manda um recado para uma mulher que está ouvindo sobre a seita ainda na embarcação (a mensagem que escuta, reflete sobre a superioridade do homem contra o animal e sobre o controle de seus impulsos negativos) e Freddie escreve a singela frase "Vamos foder?", com a negativa, vai beber (um ser humano seguindo seus instintos comuns trocando um impulso pelo outro). Em outro momento, Lancaster é manipulado pela mulher (Amy Adams) por meio de um diálogo movido por masturbação - um sublime ato de controle animal pelos instintos mais primitivos e comuns.

Só que mais clara ainda a amostra de que a fraternidade é uma boa embromação, se faz no comportamento de Freddie que não muda. Sua violência é descarregada no editor dos livros de Lancaster que critica o novo trabalho; sua compulsão pela bebida continua presente; sua propulsão à auto destruição fica bem clara na cena em que alcança alta velocidade ao pilotar uma moto no deserto; e obviamente a cena final, da qual, ele claramente debocha de seus aprendizados enquanto faz o que realmente seu corpo lhe implora: sexo. Para Paul Thomas Anderson, a crença de uma religião é o mesmo que um vício em álcool e sexo. Funciona como uma válvula de escape, mas não somente pelo seu poder de acreditar e se sentir bem, mas apenas pela necessidade prazerosa de seguir um líder, um mestre. É o poder imponente que esses guias influenciam e tocam seus seguidores (basta reparar na comoção quando Lancaster apenas se propõe a cantar).

No final das contas, O Mestre termina muito bem mostrando a origem dos problemas de Freddie. Quando na dispensa pelo seu trabalho na guerra lhe oferecem ajuda de um terapeuta, ele não leva a sério a questão. A cena que finaliza o filme é obviamente Freddie não fazendo sexo com sua figura feminina monumental construída na areia da praia, mas apenas dormindo em seu leito maternal, como uma criança solitária e carente (não é a toa que ele, já adulto, parece um adolescente quando se apaixona pelo amor de sua vida, essa sim adolescente). Os problemas desencadeados no front de batalha apenas desenterraram a raiz de todos os seus problemas humanos: sua infância, sua adolescência e a relação com sua família (ele chega citar um ato sexual com uma tia). Não é espiritual, nem uma questão de fé.

Mas até lá, após o protagonista desacreditar em tudo que lhe fora apresentado - quase seguindo a ideia por trás de Laranja Mecânica (1968) - O Mestre foca também de forma triunfal no mito do líder, uma necessidade crucial para o ser humano, não importa a crença ou a descrença, sempre existe um nome para se seguir e se deixar seduzir. Mesmo que suas ideias, acabem sendo furadas - afinal quem acredita em líderes controversos como ditadores ou religiosos condenados, não prova isso? No fim, a ideia de que as montanhas serão movidas, é sempre acalentadora... Só não mais que o colo de nossa própria mãe.

março 20, 2013

Crítica: 'As Sessões' emociona com história sobre sexo

A descoberta sexual e emocional de um tetraplégico


Existem muitas formas de viver a vida. A presença tanto da religião quanto da terapia nessa busca pela melhor forma de se viver, pode muito ter a ver com a visão individual do homem em relação a sua sobrevivência desde o seu nascimento. Outra necessidade de buscar acompanhamento espiritual ou profissional vem com alguma limitação física que requer por vezes uma ajuda exterior. Em As Sessões (The Sessions, 2012), o diretor Ben Lewin conta uma história de superação e desejo, mas não pela busca incondicional da felicidade como é de praxe, e sim a busca do amor através do sexo.

O filme acompanha o escritor e poeta formado em letras Mark O'Brien (John Hawkes) que, ainda criança, contraiu poliomielite. Sem os movimento do pescoço para baixo, Mark precisa do auxílio de um grande aparelho de respiração diversas horas do dia, da qual, fica incubado. Sentindo que o seu tempo tem caminhado para o fim, ele passa a sentir falta de um grande amor, além de sexo. Em suas conversas com o amigo e padre Brendan (William H. Macy), Mark vai amadurecendo a ideia de procurar uma terapeuta sexual. Seu caminho se cruza com Cheryl Cohen Greene (Helen Hunt), não bem uma terapeuta, mas uma especialista em exercícios de consciência corporal com a particularidade de incitar o sexo em pessoas com limitações físicas.

Passando por uma recende desilusão amorosa, Mark começa, além de descobrir sua sexualidade, também a se apaixonar por Cheryl. Ela funciona como uma ferramenta para Mark exteriorizar seus temores e também sentimentos. O sexo funciona como uma válvula poderosa para criar a intimidade necessária para atribular as emoções comuns nessa situação, mas também aquelas que chegam de surpresa. Cheryl consegue com muita compaixão e profissionalismo, entrar no passado dele e desbloquear seus traumas, sua culpa e tudo o que atrapalhava sua performance sexual. Por outro lado, o padre Brendan, de forma sensata, apoia o amigo, já que isso poderia ser facilmente considerado um pecado diante a Igreja.

As Sessões é um filme simples, bonito e adorável. A forma escolhida pelo diretor para conduzir a história, tira todo o peso amargo que poderia vir acompanhado com os problemas de Mark. É um trabalho tão tocante e bonito como Meu Pé Esquerdo (My Left Foot: The Story of Christy Brown, 1989), mas que carece de uma maior reflexão sobre a vida em si. Sabe-se do sucesso de Mark como escritor, mas o filme foca numa parte um tanto restrita de sua vida, e a sensação é que fica faltando algo, mesmo quanto os questionamentos relacionados ao sexo. Por outro lado sobram atuações dignas e acima da média, tanto de John Hawkes quanto de Helen Hunt. Um filme pra ser descoberto e assim se inspirar na vida desse humano, que de limitado, não tem praticamente nada.



março 19, 2013

Crítica: 'O Voo' e a turbulência antes da aterrissagem

Robert Zemeckis apresenta o herói dos novos tempos


Em proporções diferentes, pode-se dizer que Robert Zemeckis e Steven Spielberg possuem uma carreira bem parecida. Ambos possuem desde clássicos que marcaram a cultura pop até sucessos consagrados pela crítica e que firmaram o nome da história do cinema. Zemeckis tem em seu currículo longas como Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), De Volta para o Futuro I e II (1989 e 1990), Forrest Gump - O Contador de Histórias (1994), Contato (1997) e Naúfrago (2000) - além de uma extensa lista como produtor. Depois de uma não tão bem sucedida investida em animações que tem como estilo a captura de movimentos - O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf e O Fantasmas de Scrooge, ele ressurge dirigindo Denzel Washington com uma das melhores atuações do ano em O Voo (Flight, 2012).

O longa conta uma história que muito tem semelhanças com eventos reais. É o caso dos pilotos que se tornam heróis nacionais após conseguirem salvar pessoas de um acidente aéreo causado por alguma pane. Geralmente, não existe meio termo, em diversos casos o piloto ou é responsabilizado pelo acidente, ou é glorificado por ter conseguido pousar mesmo em condições desastrosas. Em O Voo, Zemeckis propõe desconstruir o mito e mostrar do piloto um herói controverso. Apesar de ter salvo vidas, a trama não esconde que Whip Whitaker (Washington) é alcoólatra e com problemas familiares causados pela bebida. O que começa como uma trama de um herói, vai se transformando num drama de negação sobre a aceitação de uma doença, até chegar no clímax que é o julgamento do caso e sua redenção.

Esse tipo de situação nos dias de hoje é tão comum que facilmente O Voo pode-se confundir com o advento de "baseado em fatos reais". A glorificação de pilotos e os heróis construídos após tragédias, quase sempre guarda elementos não tão heróicos quando são investigados e tem suas histórias aprofundadas e assim mexem com a opinião pública. Porém, no caso do filme, o foco é no drama pessoal do protagonista e suas mentiras para se safar. Com um time formado em torno de si - o traficante (vivido pelo cômico John Goodman), o advogado Hugh Lang (Don Cheadle) e o amigo do sindicato de pilotos Charlie Anderson (Bruce Greenwood) - Whip vai contornando a situação da mesma forma que com muita ousadia safou quase 100 passageiros da morte.

O Voo ainda expande a reflexão moral do assunto incluindo elementos em outras vertentes. Apresenta personagens secundários com problemas semelhantes, crítica ligeiramente o corporativismo e apresenta a religião como uma cega válvula de escape. A direção de Zemeckis é envolvente quando se trata de uma temática bem batida no cinema. Seus planos exaltam a dominação de Whip pela bebida - as cenas na casa dele isolado da sociedade é a que melhor representa os problemas do protagonista, e não necessariamente àquelas dele literalmente bebendo e cheirando uma carreira de cocaína. Em outros momentos, o diretor dá uma liberdade muito grande aos atores brilharem - algo não muito diferente do que foi visto em Naúfrago, que fez Tom Hanks mais uma vez sair elogiado num papel impecável.


O longa é uma síntese de um drama pessoal posto nos holofotes numa situação e contexto que remete ao mito dos heróis humanizados dos dias de hoje. Reflete a vida e os problemas relacionados, tratando-os como um turbulento voo e uma difícil aterrissagem. Evoca uma tempestade sentimental e o desespero para não sair molhado, mesmo quando se está no fundo do poço. Retrata de maneira, mesmo um tanto moralista, uma doença rasteira e que domina a percepção humana como uma falha mecânica incapaz de conserto se não for primeiro aceito e compreendido. No fim, venceu a força de vontade e a vida, em todos os sentidos. 

Crítica: as lágrimas da liberdade marcam o final de 'Fringe'

Seriado sci-fi sai de cena no momento certo, mas deixará saudades


Quando estreou em 2008, Fringe logo chamou a atenção por ser a primeira série de J.J. Abrams, após o sucesso Lost - mesmo que antes tivesse criado a cultuada  Alias. Misturando casos extraordinários e investigação científica para desvendar tais eventos, o seriado logo se transformou em uma trama muito maior que apresentada na premissa e perdurou por cinco sólidas temporadas chegando ao seu final digno neste ano. Até então o criador de Fringe e Lost já tinha se transformado em um homem de cinema (seu ápice será agora, escalado como diretor de Star Wars VII), tamanho foi o sucesso das duas séries e sua evolução no cinema.

Fringe no entanto, perdeu um pouco do seu brilho ao decorrer do tempo - como de praxe em grande séries. Seu auge foi, sem dúvidas, o final da segunda temporada, quando a série apresentou uma nova trama que mostrava o universo paralelo ao nosso. Caracterizado como mais evoluído, porém, passando por desastrosas tragédias causadas por essa abertura entre os mundos, é impossível não se sentir sensibilizado e entrar na envolvente trama. Mas até chegar aí, o seriado já deixava transparecer enorme criatividade e ousadia. Cada episódio que solucionava uma questão, logo mostrava que aquilo servia como uma peça para outra um tanto maior. Isso sem se falar nas qualidades técnicas, desde a abertura (sempre mudando com a variação das tramas), até a fotografia, efeitos visuais, direção...

Mas, diferente de Lost que forçou a barra em ofuscar as respostas do mistério e deixar seus protagonistas serem o foco único em últimos instantes (causando revolta dos fãs que se sentiram enganados), Fringe sempre equilibrou uma dose de drama pessoal dos personagens com a história que estava sendo contada. Muito difícil não se conectar com a trama de pai e filho como a de Walter Bishop (John Noble) e o Peter (Joshua Jackson). O pai e cientista que fora enviado para um sanatório e lá ficou 17 anos, e seu filho que depois de anos, acaba sendo obrigado a se reunir à ele após essa separação dos dois. A necessidade de redenção sempre fora o ingrediente que os motivou a aceitarem trabalharem juntos.


Por outro lado, Olivia Dunham (Anna Torv), a investigadora da divisão Fringe, perdeu o amor de sua vida e precisou lidar com o inexplicável diante o sentimento de luto. Essa árdua caminhada a fez ficar obcecada pelo trabalho - fazendo sua personagem pouco carismática e complexa -, mas aos poucos, reencontrou seu amor em Peter, chegando até ter despertado em si própria, um instinto maternal quando grávida. A solitária e sofrida Olivia teve um final feliz merecido. Outros coadjuvantes tiveram seus momentos contados e até razoavelmente aprofundados: o agente Broyles (Lance Reddick), que até o fim ficou do lado do bem; Astrid Farnsworth (Jasika Nicole) a assistente de Walter, e porque não, amiga; Nina Sharp (Blair Brown) que mesmo controversa, sacrificou sua vida para a vitória da liberdade; o agente Lincoln Lee (Seth Gabel) que passou para o lado B do universo depois de ter se encontrado e ajudado a firmar a paz entre os dois mundos; e William Bell (Leonard Nimoy), um homem que assim como Walter cometeu muitos equívocos, mas sua mente brilhante foi indispensável para a solução de outros problemas.

A despedida


Esta quinta e última temporada foi praticamente não só o encerramento de um ciclo, mas apresentou uma trama praticamente isolada do resto da série. Mesmo que tudo caminhasse para o que se foi visto, teve até um episódio perdido na quarta temporada sobre o ocorrido nesta, qualquer um poderia ver esses treze episódios e ficarem satisfeitos - mesmo não sendo o ideal. O respeito da FOX pelos fãs que se empenharam ao máximo em tardar o cancelamento da série foi recompensado com essa temporada de despedida (poucas séries conseguem ir tão longe, ainda mais nessa emissora).

Ao longo dessa temporada conhecemos o Expurgo, que consiste na invasão dos Observadores - uma raça humana "evoluída" que instaura uma ditadura na Terra - em 2015. Em 2036, Peter, Olivia, Astrid e Walter foram presos em no âmbar que os mantiveram "congelados". Libertos, eles se unem a filha de Peter e Olivia, Etta Bishop (Georgina Haig) que lidera um grupo de revolucionários. Um grande plano para barrar os Observadores tem suas partes divididas em fitas de vídeos presas no âmbar, e cada episódio eles vão juntando as peças que levará a grande guerra contra os invasores.

Mesmo que soando bem arrastada, a trama ainda conseguiu manter uma qualidade quando tocou num tema tão comum da ficção científica. Com referências de clássicos da literatura de autores como Isaac Asimov e Aldous Huxley, a jornada de Fringe finalizou com a terra salva de uma ditadura sombria, que uniu ainda mais seus queridos personagens. Foi um momento de despedida, não só dos protagonistas, mas até uma homenagem de todo o caminho percorrido pelo seriado, sendo os casos tratados em diversos episódios e temporadas - inclusive um vislumbre do universo paralelo e seus moradores.

Emocionante, intrigante, e vai deixar saudades. Fringe fez história na teledramaturgia mundial ao levar inteligência, originalidade para a TV aberta, quando esta está tomada por reality shows repetitivos, séries de apelo fácil que abusam de sexo e violência para angariar audiência e tramas que tratam o espectador como uma criança. A grande conspiração chegou ao fim com um sopro de esperança e a redenção de personagens tão queridos e tão reais. Mesmo sendo uma ficção, Fringe termina com dramas reais sobre a complexidade dos relacionamentos humanos e a necessidade de união em tempos sombrios. O amor de pai e filho, de dois amantes e de amigos. Em um universo paralelo, a série foi melhor aproveitada, e sem dúvidas aqui, deixará saudades, mesmo que pra poucos.