No clássico dos 60, Planeta dos Macacos revolucionou a cultura pop criticando aguerra, o maltrato aos animais e reinventando o gênero da ficção científica e fantasia. Na época, o filme foi um fenômeno não de bilheteria, mas de ideais. A originalidade da história era algo sem precedentes e que abriu caminho para a exploração dos símios em filmes, séries e nos quadrinhos. Com cinco filmes lançados, sendo que apenas o original e o quarto sobressaíram com a crítica, a série ganhou um reboot com o remake de 2001 feito pelo até então mestre Tim Burton - provou que até os gênios erram - que deu sinais que a franquia não teria fôlego. Mas em Hollywood uma crise criativa mudou as prioridades. Mesmo que ruim, o remake havia feito bons números nas bilheterias, então nada como reiniciar aquilo que já fez sucesso antes. Nasce o bom Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, EUA, 2011).
O que impressiona a princípio é a parte técnica. Esqueça a maquiagem trabalhosa - mesmo que interessante - dos filmes anteriores, estamos diante à uma revolução dos efeitos digitais que desde Avatar se mostra forte o suficiente para segurar um grande filme sozinho - isso se não levarmos em consideração os filmes de animação, mas aqui o bom roteiro ajuda na dramaticidade. Em Planeta dos Macacos: A Origem a fala não é a grande questão e sim os gestos e a expressão do rosto. Numa Hollywood viciada em querer explicar cada cena de forma didática (o grande mal de Lanterna Verde), achando que a imagem não é suficiente, aqui o filme ousa em utilizar apenas a imagem como fator crucial para o entendimento das ações. Um bom exemplo são as cenas que utilizam esses macacos digitais, como prisioneiros preparando uma fuga em massa, ditando regras e definindo o papel de cada um.
O grande líder e, porque não, protagonista é o chimpanzé Cesar (Andy Serkis, muito bem elogiado e citado como merecedor de um Oscar), filhote de uma cobaia de laboratório que servia como testes de drogas feitas para curar o mal de Mal de Alzheimer. Como sua mãe apresentou um comportamento negativo, apesar de promissor para os estudos, o projeto é vetado e todos macacos da experiência são sacrificados. Entretanto, o cientista responsável por tal estudo (James Franco), acaba ficando com Cesar, que conseguiu sobreviver. A droga surte um efeito surpreendente, dando à Cesar uma criação quase de ser humano, afinal o comportamento violento da mãe, foi causado mais pela gravidez. Mas como todo animal, os extintos de Cesar acabam ultrapassando a barreira do aceitável na sociedade humana. Com a intenção de defender o pai do cientista (John Lithgow) que sofre da doença - a grande motivação para o jovem pesquisador - acaba ferindo uma pessoa. Termina preso em uma unidade para animais abandonados ou são expulsos do convívio com os humanos e lá é maltratado - sem o conhecimento do dono.
Mas até chegar ao lugar, Cesar já demonstrava não entender muito bem o seu lugar no mundo, afinal compreende com excelência a comunicação humana, mas ainda é tratado como animal de estimação e até descobre que sua raça serve como cobaia de testes. Enfurecido pelos maus tratos que sua espécie sofre ele começa a planejar uma revolução. Além disso, durante o longa ele solta diversos fatos que interligam o filme com outros. A droga em experimento causa um efeito bom nos macacos, mas nos humanos ele é fatal - daí um simples infectado vai disseminar o vírus (a droga não passa de um vírus) e ajudar na quase extinção completa dos humanos - o que é visto nos outros filmes. Outro fato que sutilmente é mostrado umas duas vezes é que enquanto ocorre este longa, uma missão ao planeta Marte é comentada pela imprensa, e mais à frente leia-se uma manchete: "perdidos no espaço?", fato crucial que indica que a tripulação é a mesma que visita o planeta dominado por macacos e, mais a frente, no filme de 2001, descobre-se ser o Planeta Terra no futuro.
No melhor sentido como franquia, tais referências são empolgantes e dá o gosto de esperar por mais filmes. Vale lembrar que este filme também se aproveita da premissa do quarto filme A Conquista do Planeta dos Macacos, com Cesar liderando uma revolução pró macacos. Esse reinício que não renega o passado e continua divertida e com alguma profundidade é bem vinda, e o que fez do filme uma das grandes surpresas do verão norte-americano em que os blockbusters se mostraram pouco ousados e deixando de lado a inteligência do espectador. Irônico, já que muitos filmes tratam o público como alguém com Alzheimer, repetindo clichês e explicando detalhadamente sem parar. Será que a revolução nos cinemas começou ou a referência da guerra proposta por Cesar tendo como base estratégias romanas passará despercebida pela maioria que, assim como a mensagem de Avatar, da qual, muitos levaram de si apenas os efeitos especiais?
A revolução é dos macacos, mas crítica aqui é sobre a humanidade e a civilização corrompida pelas grandes corporações e pessoas gananciosas e sem escrúpulos.