Uma das maiores obras da história de Hollywood, Casablanca faz 70 anos e até hoje é ícone máximo do cinema de gênero que mescla romance, suspense, comédia e guerra de uma forma harmoniosa, com um roteiro dinâmico e de frases memoráveis. Elementos que bem filmados, dirigido pelo húngaro e judeu, Michael Curtiz, em 1942 durante a guerra e que consegue se manter vivo pelas qualidades técnicas, atuações e uma história de um amor jamais esquecido, mas que é relembrado num momento caótico.
A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, e muitos fugitivos tentavam escapar dos nazistas por uma rota que passava pela cidade de Casablanca, em Marrocos. O protagonista é o exilado americano Rick Blaine (Humphrey Bogart) que encontrou refúgio na cidade, dirigindo uma famosa casa noturna da região, da qual, seus convidados são desde refugiados franceses até alemães. Clandestinamente - vestindo um caráter cínico e apático -, tenta despistar o Capitão Renault (Claude Rains), e ajuda refugiados, possibilitando que eles fujam para os Estados Unidos. Até que então, ele reencontra o grande amor de sua vida, a bela Ilsa (Ingrid Bergman) que agora é casada com o procurado, por fugir de um campo de concentração nazista, Victor Laszlo (Paul Henreid) e precisam partir rapidamente dali.Sem maiores confusões, a história é guiada de forma convencional e usa um extenso flashback para contar como foi a paixão do casal principal. A região de Casablanca representa o momento atual da situação. Um lugar cheio de tensões étnicas, violência e pessoas agindo pelas sombras do mercado negro. A vulnerabilidade do local, intensifica o drama do casal que foi separado e agora se encontra novamente, mas sem poder aproveitar e tomar decisões mais ousadas como, simplesmente, ficarem juntos. A agonia do lugar também regrada pelo sentimento de otimismo já que é o único local de fuga para a América - símbolo único de liberdade nesses sombrios tempos.
Contada abusando de estereótipos, seja na caracterização de seus personagens - o músico negro, o contador judeu -, ou no cenário - Paris é palco do amor que é interrompido pelo nazismo. A fotografia para o preto e branco dá um tom crucial. Enaltece o semblante belo e confuso da bela Ingrid Bergman, o brilho dos olhos e de suas jóias e também acrescenta sombras nos cenários representando a marginalidade das ações ao redor - tudo feito às escondidas. A música tema (As Time Goes By) tocada na intenção de resumir toda sublimidade do amor do passado, sem precisar de mais que isso.O final traz um realismo pouco visto no cinema, mas com um motivo político nas entrelinhas, apesar de respeitoso. Se foi real, é porque é triste. E se o nazismo foi vencido, o amor ficou apenas na lembrança. Mesmo que a ação de Rick possa refletir um amor altruísta, sem mágoa e cheio de perdão, também representa uma forma maquiada de propaganda política contra a guerra, já que a torcida sempre será para o casal ficar junto e os alemães atrapalharam isso, destruíram sonhos e que isso não aconteça novamente.
A neblina ao redor da liberdade dá o tom do turbilhão de sentimentos como medo, angústia, confusão e redenção. E é por isso que Casablanca ainda renderá muito assunto por muitos anos. É um exemplar único de como Hollywood serve para se comunicar com a massa, utilizando sempre o melhor da indústria, manipulando sentimentos com maestria e fazendo a arte ganhar uma vida que mexe até com os mais céticos. É, ao mesmo tempo, divertido e sério, profundo e artificial, feliz e triste. Imortal, seja pra discutir sobre, ou simplesmente inspirar.

































