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dezembro 25, 2009

FALTA DE REALIDADE PREJUDICA 'DO COMEÇO AO FIM'

Produção não consegue se aprofundar na polêmica relação homossexual entre dois irmãos


Exemplos de contos de fadas é o que mais existe na vasta história do cinema. Existem aqueles filmes feitos para serem mais uma bela história de amor, e outras que viram cópias baratas de clássicos e pouco acrescentam alguma coisa. Muitas das novas fábulas buscaram se adaptar a época em que estão sendo lançadas e dessa forma facilitar a identificação do público com o que se é contado. Afinal foi se o tempo do príncipe encantado e da mocinha em perigo. Isso tem sido mal visto no cinema contemporâneo e até mesmo a Disney tem se rendido a atualizar-se como nos últimos filmes A Princesa e o Sapo e Encantada. Filmes de incesto ficam a cargo do cinema mais alternativo, escondidos e quase intocáveis assim como o tabu. A produção nacional Do Começo ao Fim busca essa mudança de paradigmas e insere personagens nada comuns em romances: dois irmãos gays. Mas daí que o filme tropeça nessa ousadia e acaba causando certa revolta naqueles que esperavam um grito contra o preconceito.

A história de meio irmãos (Francisco e Thomás) que desde pequenos se aproximam de forma forte, protetora por ambos os lados e logo mais na vida adulta torna-se uma intensa relação amorosa, é difícil de se aceitar até mesmo àqueles que gostam de um bom romance. Primeiro temos pais preocupados e o que poderiam esperar daquelas crianças tão próximas. Julieta (Júlia Lemmertz aqui ótima) é a mãe que começa a perceber a relação diferente dos filhos; Alexandre (Fábio Assunção) é o pai de Thomás e passivo em relação a questão perante à ele; e temos Pedro (Jean Pierre Noher) o primeiro marido de Julieta e que não parece feliz com a situação, mas em nada acrescenta na trama. Ou seja, a primeira possibilidade de discutir a polêmica do incesto é jogada ao vento. Afinal, o diretor Aluizio Abranches nos diálogos iniciais dos meninos, insere que eles nunca vão deixar os prenderem numa gaiola como os pássaros. Em outras passagens falam sobre livre arbítrio e assim já esperamos que tudo esteja resolvido sobre essa relação dos dois.

Quando adultos, ainda morando na mesma casa, a vida dos dois é como uma propaganda de margarina, cheio de romance misturadas à algumas cenas meio forçadas que servem para quebrar certos tabus - como na hora de recitar um poema mais erotizado - e outras cheio de palavras melosas e beijos ardentes. Como se o mundo certamente fosse colorido o suficiente para viverem em paz consigo mesmos. Não existe conflito no filme Do Começo ao Fim. E isso o transforma em uma produção por vezes cansativa e guiada por uma trilha instrumental dramática ao fundo de abraços e explosivos beijos.

E quando o filme sai na defensiva de não se tornar algo completamente insosso, mostra um dos irmãos se aventurando pela noite e até se relacionando com uma mulher. Porém, o resultado que poderia guiar o filme para uma evolução dos personagens morre na praia antes que conseguisse instigar alguma coisa na platéia. E essa é a fantasia exagerada do filme. Todos são ricos, bonitos e bem sucedidos. Não existe espaço para se questionar os direitos quase não existentes da união de pessoas do mesmo sexo e tão pouco explora a ousadia de falar no tabu do incesto. O que se viu no final da sessão, foi um público frustrado e nem aqueles que procuram vê-lo como uma fábula, provavelmente não conseguiu se emocionar tanto ao nível de Brokeback Montain. Talvez seja hora de novas produções desse gênero mudarem o foco tomado quase sempre pela mídia em geral e pular questões banais de aceitação da mãe e de familiares, e incluir as dificuldades de aceitação perante a sociedade. Filmes menos ambiciosos conseguiram resultados melhores.

Do Começo ao Fim

Brasil, 2009 - 100 min
Drama
Direção: Aluizio Abranches
Roteiro: Aluizio Abranches
Elenco: Rafael Cardoso, João Gabriel Vasconcellos, Fábio Assunção, Júlia Lemmertz, Gabriel Kaufmann, Jean Pierre Noher, Mausi Martínez, Louise Cardoso, Lucas Cotrim

Trailer:


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