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junho 08, 2013

Crítica: 'Faroeste Caboclo' homenageia hino do rock brasileiro, mas com atraso

Romeu e Julieta à brasileira


"(...) Não entendia como a vida funcionava, discriminação por causa da sua classe e sua cor". Esse é um dos trechos de Faroeste Caboclo, obra prima do rock nacional produzido pela banda Legião Urbana, que depois de anos do lançamento, chega aos cinemas para continuar a série de homenagens ao grupo musical após Somos Tão Jovens, filme sobre a origem da banda liderada por Renato Russo. A música, foi a base para o diretor René Sampaio realizar o que seria o visual daquela canção única, cheia de versos melódicos e que relata a vida de João de Santo Cristo, sua triste realidade social e sua paixão tórrida com Maria Lúcia, que era o oposto dele, mas vive seus próprios dilemas com uma vida sem perspectivas.

Fazer essa transposição não deve ter sido nada fácil. Apesar de tocar num tema comum do cinema nacional - tráfico de drogas, corrupção, preconceito étnico e social, o consumo de drogas na classe média e o contexto político degradado pela ditadura no fim do anos 80 - a missão era complicada por se trata de uma música marcante, um verdadeiro clássico do rock nacional. Coube o diretor fazer algumas alterações na narrativa da canção, que obviamente tem muitos divagações que não dariam para transpor de maneira clara à uma plateia acostumada com uma estrutura tradicional, e assim o permitiu tratar a história de maneira mais coerente com uma realidade. O grande problema da obra, que tem seus vários momentos bons, principalmente os ligado à Maria Lúcia (Ísis Valverde), é seguir à risca o que já foi visto anteriormente em outros filmes, quase sem novidades. 

Não é difícil assimilar vários momentos do longa com filmes desde Meu Nome não é Johnny (2008) até Cidade de Deus (2002) - a situação mais marcante é quando João (Fabrício Boliveira) sai da cadeia, sedento por vingança e por alguns momentos parecia que ia soltar "meu nome é zé pequeno". A temática sobre o abandono de classes sociais mais marginalizadas, a relação do tráfico de drogas e os consumidores da classe média, está tão banalizada que faz tempos que os produtores deixaram de lado a temática. Mesmo que correta, a escolha do diretor de deixar a música apenas como um fantasma ao redor do longa - para assim não parecer um videoclipe gigante - teve seu lado negativo que é enfraquecer a lenda em torno da história, o que o banaliza e o faz ficar à sombra da canção.

No entanto, Faroeste Caboclo é mais uma das várias tentativas bem sucedidas do cinema brasileiro de explorar diferentes fatos da cultura em si, e fazer uma transposição genuinamente cheia de boas intenções. As atuações são ótimas, assim como a estética dada ao longa, a fotografia por vezes sombria e em outras partes ajudando o filme ter a cara de um velho oeste (o que de fato é a intenção da história visto o excesso de violência e vingança). Pena que mesmo interessante visualmente, tenha demorada tanto para chegar às telas, e assim tenha perdido o fôlego ao longo do caminho com tantos títulos do gênero, que são melhores.

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