Produção de Woody Allen diverte e apaixona
O diretor Woody Allen está no seleto time de profissionais que tem enorme sucesso entre a crítica, conquistou fiéis seguidores e ainda faz questão de esnobar Hollywood em cada oportunidade. Existe quem não gosta de seus jeito simples e autêntico de apresentar uma história, mas é compreensível. Esse charme excêntrico para poucos, acaba dando aos seus filmes um gosto ainda mais interessante aos mais pacientes. Sua nova produção Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), carrega tudo que faz uma comédia romântica ser especial, só que diferente das repetitivas vindas nos grandes estúdios, Allen acrescenta fantasia, uma pitada de drama e deixa de lado a seriedade que muito afunda o gênero.
A trama narra a história de Gil (Owen Wilson, fazendo uma versão jovem do cineasta quando atua de forma atrapalhada em suas próprias produções), roteirista de Hollywood que está de férias com a família da noiva, Inez (Rachel McAdams). A cidade passa a exercer uma influência contínua nele, já que Paris exala história, arte e beleza. Sem restrições, os diálogos não escondem os atritos entre a cultura norte-americana e a francesa, sempre destacando uma liberdade única em contraste à vida engessada e o conteúdo pouco artístico visto na terra do Tio Sam. O diretor capricha ao inserir no protagonista um ideal liberal-democrático, enquanto a família da noiva é republicana e não aprova a relação da moça com ele - não exatamente por esse motivo, mas a questão surge. Como se não bastasse, ele ainda precisa aturar um antigo interesse na noiva (Michael Sheen), que se apresenta como um partido perfeito, fluente em francês e intelectual.
Sem demonstrar estar coagido, Gil se distância de toda a balela para se entregar à cidade e partir em busca de inspiração para escrever o seu romance. É aí que de uma forma não explicada - e nem precisa - ele acaba vivendo no século 20, sempre que passeia à meia noite pela cidade. É lá, que diferente dos turistas e intelectuais que admiram e se acham melhores por conhecerem cada obra dos museus, que Gil se encontra com o verdadeiro espírito da cidade. Nessa época, nomes como F. Scott Fiztgerald, Ernest Hemingway e Pablo Picasso sentiam toda liberdade que ali era exalada em cada café, ateliê ou casa noturna. E mais do que esperado, Gil encontra apoio para sua ascendência artística e vive sua "crise" com uma experiência gratificante e sem precedentes.
Quando por um momento o espectador se pergunta afinal do que se trata o filme, Paris dá sua última cartada e o protagonista entende o que realmente busca no amor. Todas as diferenças que o prendiam a uma vida limitada em determinada fase emocional, caem por terra depois de interagir com diversos nomes que fizeram a arte tão libertadora e uma fiel fonte de expressão. Mas Meia Noite em Paris será uma produção melhor aproveitada com um bom conhecimento sobre os grandes nomes da literatura e de artes em geral. Não que o filme seja incompreensível se essa bagagem não for suficiente, afinal tem piadas para todo o tipo de público, mas a riqueza dos personagens históricos é gratificante quando mais se conhece sobre eles. Porém, como ressalta a reflexão de Allen, Paris não é uma cidade para ser apreciada como um museu, e sim vale sentir cada momento histórico e libertador dos grandes pensadores que viveram ali.