As memórias de um passado sombrio, suas ditaduras e o gritos dos mortos ecoando na cabeça de quem vivenciou a temida década de 40, período da grande guerra e de forte ditaduras. Pouca gente sabe, mas, o Brasil foi território de muitos fugitivos por este período, e legalmente ou não, ajudaram a moldar a nossa cultura que é marcada pela variedade de etnias.
E o teatro nessa época tinha um espaço eloquente? Sim. Servia como válvula de escape para os dias tristes de matança. Os sobreviventes deviam poder sonhar, escondidos na escuridão. A produção Tempos de Paz mergulha nessa época e mostra como o ser humano conseguiu ir longe - não só na Alemanha- mas, abre as cicatrizes deixadas pela ditadura militar no Brasil.
Em uma das mais comoventes cenas que o cinema pode proporcionar nos últimos tempos, Dan Stulbach, como Clausewitz, monologa sobre a vida e a esperança de encontrar no novo país uma vida digna e sem o assombroso passado. A língua portuguesa para ele, ganha uma outra utilidade e vira sua chave para a liberdade tão desejada. Enquanto isso Tony Ramos, interpretando um ex-oficial da polícia de Getúlio Vargas - Segismundo, vive seus dias finais no trabalho de caça à nazistas e foragidos ilegais da guerra. Um homem marcado pelo terror e com uma frieza assustadora. Ele interroga o polonês, pessoa que desconfia de suas reais intenções como futuro agricultor. Afinal, Clausewitz chegou até o país falando português fluentemente, sem nenhuma mala e com as mãos limpas - sinais que nunca trabalhou com agricultura.
São dois pontos de vista, de duas vítimas da pior face do ser humano. Naquele tempo não se era possível saber o que realmente aconteceu, apenas as lembranças de quem viveu de perto todo o terror. E aqui encontra um sentimento diferente, mas, que faz os dois tão iguais em certos momentos. O que descobrimos no momento grandioso do filme é que a arte é a única que consegue libertar um individuo dele próprio, sem interessar seus ideais... Basta ser humano.
O diretor Daniel Filho - que é responsável pelos maiores sucessos do cinema nacional nos últimos anos, Se Eu Fosse Você - dirige Tempos de Paz, e merece créditos pela empreitada que nada lembra novela disfarçada de filme e sim o teatro apoiando o cinema, com sua honestidade e talentos. E o monólogo é o espetáculo à parte, como se fosse o ponto forte como no filme O Pianista, de Roman Polanski, em que o judeu toca seu piano para um oficial nazista. Mesmo nível, mesmo sentimento... mesma poesia. A arte guarda as memórias ruins e mostra como o ser humano pode errar o quanto for, porém, deve jamais calar a voz da sua alma, em que essa voz é na verdade, a liberdade de expressão.
Tempos de Paz
Tempos de Paz
Brasil, 2009 - 82 min
Drama
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Bosco Brasil
Elenco: Tony Ramos, Dan Stulbach, Daniel Filho, Louise Cardoso, Ailton Graça
Trailer:
Brasil, 2009 - 82 min
Drama
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Bosco Brasil
Elenco: Tony Ramos, Dan Stulbach, Daniel Filho, Louise Cardoso, Ailton Graça
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