As 12 indicações ao Oscar, fizeram de O Discurso do Rei (The King's Speech, Inglaterra, 2010) um dos filmes que mais aguçaram curiosidade nos últimos dias, no entanto, sem grandes surpresas no roteiro como outros indicados, o ritmo lento (o filme é de diálogos), é bem capaz da produção não agradar à todos. Mas é aí que a direção faz toda à diferença no meio de produções com histórias pouco comuns como de uma bailarina complexa, sonhos manipulados e um sobre geração capitalista conectada. Claro que com base numa história real, sobre o Rei George VI, não seria fácil trazer algo de novo, ainda mais se tratando da família real inglesa, porém o que diferencia das outras produções, é a maneira de se contar uma história comum, que acaba tornando-se atraente com uma direção, produção e atuações afiadas.
Assim como o sucesso A Rainha (The Queen, Reino Unido, 2006), filme que mostrava os momentos depois da morte da Princesa Diana e como teria sido a recepção do acontecimento pela Elizabeth II, a boa aceitação de O Discurso do Rei mostra como o mundo tem simpatia em ver histórias da família real inglesa que sempre mistura eventos trágicos, curiosidades e escândalos. No sentido cinematográfico, mesmo controverso, a história do rei gago sai na frente. O filme conta a história de quando Albert Frederick Arthur George (Colin Firth), pai da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, que assume o trono, mesmo sendo o segundo na linha de sucessão do Rei George V. Isso ocorre quando seu irmão David (Guy Pearce) abdicou do reino, depois de um breve período como rei, por se envolver com uma plebeia, americana e ainda divorciada duas vezes. Então Albert assume o trono em 1936, no momento em que o nazismo ameaçava a Inglaterra. Mas os problemas dele são ainda mais complicados que enfrentar Hitler. Por anos, depois de um discurso à pedido do pai que terminou em humilhação pública, Albert tenta se tratar de uma gagueira crônica que o faz ter uma certa fobia de microfones, algo essencial na família real. O futuro Rei George VI tem consigo o apoio da dedicada esposa (Helena Bonham Carter, feliz) e de Lionel Logue (Geoffrey Rush, certeiro), um fonoaudiólogo que, aos poucos, se torna amigo do paciente (curioso que os filmes indicados este ano também são coincidentes em uma características dos protagonistas: a fala. Seja ela no ritmo da troca de informação em A Rede Social, a voz reprimida em Cisne Negro e a dificuldade de discursar como Rei, neste).
A direção de Tom Hooper é excepcional. As câmeras, colocam a personagem no lugar que o dizia respeito, seja em cantos da tela, ou filmado sutilmente de cima para baixo, o que denota sua baixo estima ou como todos sempre o viam. Essa técnica de ângulos, causa tanto desconforto quanto a atuação de Firth que com muito sofrimento consegue terminar uma frase. É essa tática que faz o filme diferente e interessante de ser assistido, mesmo que muito dialogado. A parte técnica e a dupla Geoffrey - Firth sustenta por vários minutos conversas naturais, permite diversos momentos cômicos quando experimentado os métodos diferentes de Lionel e principalmente, revela um pouco ao público o que é passar por esse tipo de problema, além do acontecimento histórico envolvendo a monarquia real. O clima de tensão do nazismo se aproximando, é ajudado com a fotografia escura que permeia toda a produção, além das cenas externas com muita névoa e a constante trilha sonora dramática.
Mas infelizmente, O Discurso do Rei, mesmo que impecável em diversos momentos e merece todos elogios a sua embalagem, ainda não consiga prender pelo ritmo do roteiro. Com pouco aprofundamento histórico - nem mesmo a presença de Hitler em uma pequena cena, da qual, o Rei se surpreende com a boa retórica do ditador - consegue-se criar uma tensão necessária, para impulsionar o arco principal e entregar ao clímax e um desfecho mais emocionante. Acaba soando meio raso e previsível, até surpreendendo menos que outro dos indicados que cai no mesmo tema edificante, O Vencedor. A diferença é que o charme e a eficiência inglesa se destacam em uma obra prima, da qual, Hollywood se rende à cada nova produção vinda de lá.
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