Páginas

fevereiro 25, 2011

'127 Horas' retrata tensão claustrofóbica sem entediar

Produção é de arrepiar e sufocar espectador mais sensível


Danny Boyle é um dos poucos diretores que gostam de se aventurar pelos diversos gêneros cinematográficos. Desde o dramático Trainspotting (Reino Unido, 1996), ele não para e fica se aproveitando da fórmula de sucesso. Mas, claro que, ele também não deixa de exibir seu estilo moderno e ágil de refletir sobre existencialismo, amor e a realidade nesse variados tipos. Fala de tráfico de drogas de forma diferente, expõe seres humanos no limite da ética em uma ficção científica - Sunshine - Alerta Solar (Sunshine, Reino Unido, 2007)  - ou os insere em outras questões pouco inéditas no mundo do cinema, mas que causam um resultado ainda que avassalador, como em Extermínio (28 Days Later, Reino Unido, 2003) . Porém, ele é o diretor do sucesso de crítica e público, o romance Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire, Reino Unido/EUA , 2008) Por esse, ele leva o otimismo às alturas, mesmo em um país condenado pela pobreza. Em 127 Horas (127 Hours, EUA, 2010), o que sobressai aqui é mais uma vez o talento de Boyle em se aventurar por um gênero até então batido e fazer dele uma obra emocionante.

O filme é baseado em um momento angustiante de um ser humano qualquer: em abril de 2003, Aaron Ralston (James Franco), um jovem aventureiro influenciado pelo pai à praticar caminhadas e escaladas por lugares inóspitos, saiu sozinho para explorar o Blue John Canyon, no deserto em Utah. Narcisita e egoísta, não avisa ninguém para onde vai e apenas parte em busca de emoção. No caminho, ocorre algo inacreditável, ele encontra duas garotas explorando a região. Acabam ficando juntos por alguns momentos, banhando-se em uma caverna e gravando tudo. Após se despedirem, Aaron, sozinho, escorrega e cai por entre uma fenda e acaba com o braço preso uma grande pedra prensada na parede. A partir disso, são contadas essas 127 horas de sobrevivência naquele lugar isolado do mundo.

Como na sua obra Trainspotting, Boyle guia o personagem pelo cotidiano consumista e tumultuado das grandes cidades. Intercala imagens do deserto com praias e estádios lotados, comerciais de bebidas e personagens da cultura pop. Tudo isso está marcado na memória de Aaron e é a única coisa que ele tem para fazer: pensar na vida. E todas as pequenas coisas que surgem, logo são refletidas para o que passa na cabeça de um jovem de 27 anos, televisão, sentimentos de culpa, garotas... E quando aos poucos ele vai conseguindo calcular a quantidade de suprimentos, também faz um balanço sobre a vida. Traçar um paralelo com outro filme de sobrevivência como Náufrago (Cast Away, EUA, 2000), não é difícil. Mesmo que aqui é possível sabermos o que se passa um pouco na cabeça do protagonista, o náufrago arranja o famoso amigo Wilson para desabafar  e conseguir criar bons diálogos no longa, neste, é a câmera filmadora é que torna a rotina menos chata tanto para Aaron, quanto para o espectador. E é por aí também, que fica o claro retrato do que é importante nos dias atuais. Ele se culpa por esquecer um canivete original, mas o excesso de câmeras que carrega na mochila, parece justificável, já que nas sociedade das aparências o que importa é registrar todos os momentos, mesmo que banais.

Em termos técnicos e de atuação, o filme é excepcional. Seja na edição que mantém algum ritmo no filme, acrescenta momentos de tensão; a trilha sonora que por vezes é instrumental - lembra muito Extermínio - e outras são canções de pop ou rock; a fotografia que pede algo satisfatório, pois, a paisagem exterior não é a mesma do buraco que ele se enfiou; e principalmente a atuação de James Franco que está bem natural e consegue faz o público se colocar na 'sua' pele. Infelizmente o otimismo e a superação do personagem acaba caindo no lugar comum como de todas outras produções do gênero, e até mesmo o romance nas entrelinhas deixam o filme meio banal, pois tudo é muito superficial - mesmo que seja baseado em fatos reais. No entanto, Boyle segue trilhando seu caminho de realizador excepcional, sem trazer uma história original, mesmo que alguns casos sejam inusitados, e sim atualizando os gêneros que são marca forte no cinema. 127 Horas é muito mais do que a escolha de decepar um braço e assim sobreviver, e sim é sobre as escolhas que fazemos na vida que acaba nos levando em situações como essa da personagem, da qual, nos resta superar ou morrer. 

Trailer:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atenção: Este blog contém conteúdo opinativo, por isso, não serão aceitos comentários depreciativos sobre a opinião do autor. Saiba debater com respeito. Portanto, comentários ofensivos serão apagados. Para saber quando seu comentário for respondido basta "Inscrever-se por e-mail" clicando no link abaixo.