Infelizmente qualquer filme de suspense que chega ao grande público é logo comparado ao gênero genuinamente hollywoodiano. Isso faz com que produções que não abusem do sobrenatural e investem numa narrativa que fala de conspiração, cheia de labirintos e sem a necessidade de chocar, acabe desapontando o grande público e fica restrita para os que curtem um cinema de arte. O caso de grandes cineastas se aventurarem por esse gênero, geralmente ajuda a destruir o mito e apresentar aos mal acostumados um filme diferente, simples e bom. O mais novo que lembra a atmosfera de O Escritor Fantasma (Ghost Writer, Inglaterra, 2010) de Roman Polanski é o ótimo Ilha do Medo (Shutter Island, EUA, 2010) de Martin Scorsese. O nome é assustador, e pouco tem haver com a história.
Nos dois casos é impossível não se envolver com as tramas. Seja pela parte técnica - com a fotografia escura, as locações que aguçam a sensação de isolamento e a trilha sonora dando o tom dramático em cenas que não passam de pura paranóia por parte dos protagonistas -, pelo roteiro misterioso, ou pelos personagens bem caracterizados e bem vividos e dirigidos. Em O Escritor Fantasma, Polanski mergulha Ewan McGregor em uma trama cheia de conspiração e paranóia. Ele é um ghost writer, profissional de letras, jornalista ou escritor, que ajuda alguém a escrever, principalmente no caso de livros de memórias de personalidades famosas. Seu novo trabalho é escrever um livro sobre o primeiro-ministro Britânico, que já havia começado a ser realizado, entretanto, o outro designado morreu em circunstâncias misteriosas.
No decorrer do filme, o personagem de Ewan conhece o caos dos bastidores da política, quando o cliente acaba sendo envolvido em um escândalo de tortura por parte de soldados na guerra que apóia os Estados Unidos. A crítica do filme poderia parar por aí, mas vai além, e aos poucos conduz o público à uma bizarra e intrigante história que explica qual o real interesse do líder inglês com a política dos EUA em diversas atitudes ao longo dos anos, principalmente o apoio às guerras.
Todos os personagens estão bem caracterizados como Pierce Brosnan que encara bem um papel que é praticamente o Tony Blair, Kim Cattrall como assistente dele, Olívia Williams como sua explosiva mulher, além de outros que vão surgindo enquanto o quebra cabeça é montado. No entanto, mesmo que uma boa trama e cheia de ingredientes bem utilizados, o thiller peca essencialmente em algumas atitudes do protagonista. Ewan McGregor até encara bem o fantasma investigador, mas nos tempos de hoje é um pouco difícil engolir ele entregando os segredos que descobre para qualquer pessoa misteriosa ou uma voz anônima ao telefone. Infelizmente, o grande público vê isso em demasia no cinema de Hollywood e Polanski, talvez devido aos seus problemas constantes com a justiça, não tenha percebido o tropeço.
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