E um dos lançamentos mais aguardados do cinema nacional, Bruna Surfistinha (Brasil, 2011), estreou com um sucesso importante para aquecer o cinema nacional depois do fenômeno Tropa de Elite 2 em 2010. Sai a realidade da corrupção e a violência no Brasil, sempre sob a ótica do imbatível protagonista Coronel Nascimento, para um outro ponto a ser explorada à beira da mesma marginalidade: a prostituição. A maior preocupação da transposição do livro da ex-prostituta Raquel Pacheco, O Doce Veneno do Escorpião, para às telonas, é se seria complementado questionamentos sobre a realidade da "profissão", além, de tocar em espinhosas temáticas como: drogas, adultério, classes sociais e tabus sexuais.
Deborah Secco encarna a famosa personagem e, logo no começo, entrega o que foi determinante para Raquel Pacheco entrar nessa vida. Tudo partiu do momento que a jovem, adotada por uma família de classe média alta e tem vários problemas de relacionamento em casa e na escola, decide sair de casa. As cenas dos créditos iniciais demonstram que entre quatro paredes, em seu quarto de frente para uma web cam, o sentimento era diferente. A jovem se insinua sensualmente. Motivada por bullying e a falta de aceitação sua como parte da família, Raquel sai em busca de independência e sua característica acaba à levando ao ramo do sexo. Logo de cara, ela chama atenção da cafetina interpretada por Drica Moraes - roubando a cena quando aparece. Os clientes também passam a gostar do sangue novo. Além de ser nova e bonita, a moça transparece gostar do que faz. Uma das cenas que revelam esse profissionalismo é uma em que a jovem capricha em beijos - considerado mais caro por muitas garotas de programa por ser intimo demais - e que demonstram que ela se aproveitou muito mais do cliente para realmente se conhecer sexualmente - tanto que não cobrou pelo serviço.
No entanto, Bruna Surfistinha, sua nova identidade, consegue se transformar no oposto o que era Raquel. A tímida garota e que sempre foi abusada por ser assim, vulnerável, vira uma mulher segura, sensual e disposta à fazer tudo por dinheiro. O embate de classes vem com essa mudança. O adultério dos maridos com as prostitutas é debochado com veemência entre elas em um salão de beleza que atende a classe média alta. Enquanto a justificativa de uma delas é conseguir dinheiro para mandar ao filho, o ricos empresários muitas vezes estão atrás apenas de conversas, outros por pura vaidade. Mas quando a independência e o sucesso chegam para ela, é aí que as coisas começam a ir mal, pois na maioria das vezes é difícil saber quando parar. O arco dramático se fecha com uma resposta negativa sobre o que a protagonista sempre desejou. Consumida pela profissão, que requer sacrifícios, mais o vício em drogas, acabam com qualquer vida num piscar de olhos.
Superando as expectativas, Bruna Surfistinha consegue traçar um paralelo sobre um lado da profissão nem sempre explorado de forma realista, caindo no estereótipo. Mesclando drama, comédia e muitas cenas picantes e até repulsivas - necessárias para passar ao espectador o sentimento de coragem da protagonista - o filme consegue entreter e expor um pouco da vida desta personagem tão instigante e que sempre levantou controvérsias na mídia brasileira. Afinal, Bruna, não passa de mais uma personagem que soube se aproveitar de um bom marketing e aparecer na mídia. Claro que ela teve algo à mais: o blog e, logo depois, o livro. Mas a questão é, por que uma jovem que teve uma oportunidade única, largou tudo para viver assim? A resposta é essa, que contra o que a classe média mais quer e acha fundamental na vida, Bruna conseguiu de forma fácil e até se saiu bem, só não soube administrar. O problema, é que a profissão mais antiga do mundo sempre vai existir e a sociedade vai fingir que não existe, criando esse tipo de personagem que parece novidade, mas é só mais uma entre diversas outras meninas pelo Brasil afora.
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