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março 19, 2013

Crítica: as lágrimas da liberdade marcam o final de 'Fringe'

Seriado sci-fi sai de cena no momento certo, mas deixará saudades


Quando estreou em 2008, Fringe logo chamou a atenção por ser a primeira série de J.J. Abrams, após o sucesso Lost - mesmo que antes tivesse criado a cultuada  Alias. Misturando casos extraordinários e investigação científica para desvendar tais eventos, o seriado logo se transformou em uma trama muito maior que apresentada na premissa e perdurou por cinco sólidas temporadas chegando ao seu final digno neste ano. Até então o criador de Fringe e Lost já tinha se transformado em um homem de cinema (seu ápice será agora, escalado como diretor de Star Wars VII), tamanho foi o sucesso das duas séries e sua evolução no cinema.

Fringe no entanto, perdeu um pouco do seu brilho ao decorrer do tempo - como de praxe em grande séries. Seu auge foi, sem dúvidas, o final da segunda temporada, quando a série apresentou uma nova trama que mostrava o universo paralelo ao nosso. Caracterizado como mais evoluído, porém, passando por desastrosas tragédias causadas por essa abertura entre os mundos, é impossível não se sentir sensibilizado e entrar na envolvente trama. Mas até chegar aí, o seriado já deixava transparecer enorme criatividade e ousadia. Cada episódio que solucionava uma questão, logo mostrava que aquilo servia como uma peça para outra um tanto maior. Isso sem se falar nas qualidades técnicas, desde a abertura (sempre mudando com a variação das tramas), até a fotografia, efeitos visuais, direção...

Mas, diferente de Lost que forçou a barra em ofuscar as respostas do mistério e deixar seus protagonistas serem o foco único em últimos instantes (causando revolta dos fãs que se sentiram enganados), Fringe sempre equilibrou uma dose de drama pessoal dos personagens com a história que estava sendo contada. Muito difícil não se conectar com a trama de pai e filho como a de Walter Bishop (John Noble) e o Peter (Joshua Jackson). O pai e cientista que fora enviado para um sanatório e lá ficou 17 anos, e seu filho que depois de anos, acaba sendo obrigado a se reunir à ele após essa separação dos dois. A necessidade de redenção sempre fora o ingrediente que os motivou a aceitarem trabalharem juntos.


Por outro lado, Olivia Dunham (Anna Torv), a investigadora da divisão Fringe, perdeu o amor de sua vida e precisou lidar com o inexplicável diante o sentimento de luto. Essa árdua caminhada a fez ficar obcecada pelo trabalho - fazendo sua personagem pouco carismática e complexa -, mas aos poucos, reencontrou seu amor em Peter, chegando até ter despertado em si própria, um instinto maternal quando grávida. A solitária e sofrida Olivia teve um final feliz merecido. Outros coadjuvantes tiveram seus momentos contados e até razoavelmente aprofundados: o agente Broyles (Lance Reddick), que até o fim ficou do lado do bem; Astrid Farnsworth (Jasika Nicole) a assistente de Walter, e porque não, amiga; Nina Sharp (Blair Brown) que mesmo controversa, sacrificou sua vida para a vitória da liberdade; o agente Lincoln Lee (Seth Gabel) que passou para o lado B do universo depois de ter se encontrado e ajudado a firmar a paz entre os dois mundos; e William Bell (Leonard Nimoy), um homem que assim como Walter cometeu muitos equívocos, mas sua mente brilhante foi indispensável para a solução de outros problemas.

A despedida


Esta quinta e última temporada foi praticamente não só o encerramento de um ciclo, mas apresentou uma trama praticamente isolada do resto da série. Mesmo que tudo caminhasse para o que se foi visto, teve até um episódio perdido na quarta temporada sobre o ocorrido nesta, qualquer um poderia ver esses treze episódios e ficarem satisfeitos - mesmo não sendo o ideal. O respeito da FOX pelos fãs que se empenharam ao máximo em tardar o cancelamento da série foi recompensado com essa temporada de despedida (poucas séries conseguem ir tão longe, ainda mais nessa emissora).

Ao longo dessa temporada conhecemos o Expurgo, que consiste na invasão dos Observadores - uma raça humana "evoluída" que instaura uma ditadura na Terra - em 2015. Em 2036, Peter, Olivia, Astrid e Walter foram presos em no âmbar que os mantiveram "congelados". Libertos, eles se unem a filha de Peter e Olivia, Etta Bishop (Georgina Haig) que lidera um grupo de revolucionários. Um grande plano para barrar os Observadores tem suas partes divididas em fitas de vídeos presas no âmbar, e cada episódio eles vão juntando as peças que levará a grande guerra contra os invasores.

Mesmo que soando bem arrastada, a trama ainda conseguiu manter uma qualidade quando tocou num tema tão comum da ficção científica. Com referências de clássicos da literatura de autores como Isaac Asimov e Aldous Huxley, a jornada de Fringe finalizou com a terra salva de uma ditadura sombria, que uniu ainda mais seus queridos personagens. Foi um momento de despedida, não só dos protagonistas, mas até uma homenagem de todo o caminho percorrido pelo seriado, sendo os casos tratados em diversos episódios e temporadas - inclusive um vislumbre do universo paralelo e seus moradores.

Emocionante, intrigante, e vai deixar saudades. Fringe fez história na teledramaturgia mundial ao levar inteligência, originalidade para a TV aberta, quando esta está tomada por reality shows repetitivos, séries de apelo fácil que abusam de sexo e violência para angariar audiência e tramas que tratam o espectador como uma criança. A grande conspiração chegou ao fim com um sopro de esperança e a redenção de personagens tão queridos e tão reais. Mesmo sendo uma ficção, Fringe termina com dramas reais sobre a complexidade dos relacionamentos humanos e a necessidade de união em tempos sombrios. O amor de pai e filho, de dois amantes e de amigos. Em um universo paralelo, a série foi melhor aproveitada, e sem dúvidas aqui, deixará saudades, mesmo que pra poucos.

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