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maio 03, 2011

‘72 Horas’ se aproveita do bom suspense na tentativa de fazer drama

Russell Crowe busca redenção em história sobre desespero... mas que desespero?


Um assassinato que envolve a esposa como principal suspeita. Um marido com um filho para cuidar e que está atordoado por acreditar em sua inocência, mas sabe que não existe forma legal de tirá-la da cadeia. Típico daqueles filmes que querem por o público dentro da situação e fazer as intrigantes perguntas: “o que você faria?” ou “e se fosse como você?”. No thriller 72 horas (The Next Three Days, 2010) tudo é bem planejado e metódico, até o sentimento do protagonista e cabe a ele tomar alguma decisão, mas será que isso vale mesmo se ele não convencer de seus sentimentos motivacionais?

O filme segue uma linha fulminante de filmes do gênero sobre planos e fuga, só que aqui, não temos a frieza e brilhantismo de um Michael Scofield da série Prison Break que acaba na cadeia para assim colocar em ação o plano de fugir com o irmão. Em 72 horas, o personagem de Russell Crowe, passa por uma mudança de comportamento depois de saber que a justiça não será conivente por ela ser sua esposa. Ao perceber que existe um livro de um ex-prisioneiro que fugiu inúmeras vezes da cadeia, ele aceita a ideia de fazer “justiça com as próprias mãos”. Do "incentivador", interpretado por Liam Nelson, ele tira o básico para uma fuga espetacular. Entram em campo as regras de tempo cronometrado, percepção na rotina da cadeia e uma chave de acesso.

Óbvio que o caminho para libertar a esposa, não será tão fácil e ele sabe disso, mas Crowe, mesmo entre vômitos e cenas de solidão, não passa esse sentimento desesperador para entendê-lo. Será que ele realmente está atordoado e desesperado? Não consegue criar um perfil perturbado como a da personagem de Jodie Foster no eloquente Valente (The Brave One, 2007), que depois de atacada e ter presenciado a morte do amado, compra uma arma e vira uma justiceira. Infelizmente, seu personagem também não é tão bem desenvolvido como um Walter White, professor universitário, que depois de ter câncer passa a se envolver no tráfico de drogas à procura de alguma razão na vida, na série Breaking Bad.

Até mesmo a inclusão de uma personagem secundária, no parque onde ele leva seu filho, devia perceber um homem atormentado, mas não. Se ele não falasse que a esposa está presa, ia parecer apenas um caso banal de separação. Entende-se que sua mulher era a peça principal para sua vida e ela era uma pessoa boa apesar de sangue quente, mas como justificar um plano tão ousado e que praticamente vai abdicar uma vida de civil inocente, para se tornar um criminoso frio e calculista, sem parecer forçado ao extremo? Essa questão, infelizmente o diretor Paul Haggis, do Oscarizado Crash, não consegue desvendar e necessita da força de vontade do público entrar na história e aceitar a situação. No entanto, é quando o plano começa a aparecer, que finalmente o desenrolar da idéia nos deixa intrigado com o que ocorrerá no final. Não interessa mais a motivação, deixando que a trama se corrija automaticamente dessas falhas no drama. Se possuindo do bom suspense, 72 horas sabe se apoderar do clichê de outros filmes do gênero, mas ainda assim faz o público se surpreender.

Na falta uma conexão direta e melodramática que seria bem vinda, se é obrigado a torcer no escuro para um vilão, mas que na tentativa de evitar um estrago maior – ainda mais quando, involuntariamente, ensina como libertar alguém da cadeia – no fim tudo acaba sendo justificado e deixando em pratos limpos que tudo foi possivelmente um erro do sistema. Porém, até lá, já deu a chance do público criminalizar a justiça e deixar o homem em certo desespero como um herói. Final um tanto forçado e desnecessário, já que um roteiro não seria tão ousado de permitir que um vilão, mesmo emocional, se saia tão bem infringindo leis federais e com final feliz. Não em Hollywood.

Trailer


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