Existem dois tipos de produções solicitadas na indústria do entretenimento: aquelas que servem por pura diversão, apostando em simplicidade e algo estereotipado e aquelas que procuram algo mais, introduzindo complexidade na trama e assim despertar novas sensações no espectador. The Walkind Dead de forma bem ruim começou sua jornada se enquadrando no primeiro aspecto. Mas, aos poucos, foi se tornando muito mais do que uma série de zumbis, conseguindo inserir tanto questões óbvias quanto outras desafiadoras.
O seriado finalizou sua segunda temporada na última terça (20) no Canal FOX (apenas dois dias de seu final nos EUA) garantindo a resolução de um ciclo trabalhado de forma primorosa e a introdução de uma fase ainda mais sombria. Mesmo com um começo ruim, a chegada dos sobreviventes liderados por Rick na fazenda de Hershel foi muito mais do que um simples acampamento de sobreviventes. Toda a evolução da série para um patamar mais adulto ocorreram ali. E o grande antagonista do seriado, Shane, foi quem ditou os novos rumos que agora levam a saga dos sobreviventes para algo muito maior.
E quando se fala em questões complexas elas são desde uma gravidez indesejada nesse ambiente apocalíptico, o atrito entre o dono da fazenda e o líder do grupo, a duvida sobre a competência de Rick como líder, a ética de matar humanos por mais que isso fosse necessário e até a mudança quase que radical da postura daquele homem que lidera um grupo imerso na escuridão. Responsabilidades precisam ser levadas ao extremo, mas qual o preço disso?
Poderia ficar linhas e linhas lembrando de todos os momentos marcantes, como a crises de fé, debates ganhos e perdidos, a postura de um pai que sempre fora correto, precisando de ensinar o filho a importância de carregar uma arma e por aí vai... Mas The Walking Dead apenas cumpre seu papel. Afinal, o gênero zumbi nunca serviu apenas como um produto de terror a ser vendido. Nas entrelinhas estão críticas sobre uma sociedade alienada que consome e consome sem olhar para trás, além de como os "vivos" se comportam num mundo assim. É curioso que algumas pessoas não percebam que são essas reflexões humanas que deixam a trama ainda mais cheia de tensão, e não os mortos-vivos.
Não, The Walking Dead não é uma "série sobre pessoas", ela é ainda mais que isso, porque diferente de outra criticada pelos caminhos que seguiu e no final renegou seu gênero, Lost, aqui o seriado cumpre bem as duas funções, tanto de entreter e por outro lado desafiar o espectador com um roteiro que evoluiu junto com o clima criado. E tudo se deve por partir de uma arte pouco levada a sério, mas que faz muito bem em levantar questões humanas: as HQs. Porém, cabe o espectador escolher se vai ser apenas um zumbi consumindo mais um produto imposto por executivos loucos por audiência, ou se vai aproveitar as questões jogadas e assim usufruir de boas reflexões.