Existe na indústria cinematográfica uma questão que há anos tem ganhado debates pela sociedade à fora: a violência nos filmes. E como não podia ficar fora da roda, o diretor que é exímio em explorar essa natureza nos roteiros que falam sobre criminalidade e vingança, Quentin Tarantino. Com um currículo que tem desde o cultuado Pulp Fiction - Tempos de Violência (1994), passando pelo sucesso comercial Kill Bill (2003 e 2004) até o consagrado Bastardos Inglórios (2009), Tarantino equilibra os diálogos banais e naturais tanto quanto os profundos, com as cenas de ação sanguinolentas e que não economizam na sordidez de eventos cabulosos. Em Django Livre (EUA, 2012), ele mescla o advento da violência até bem, porém, numa sociedade marcada por massacre em escolas, qualquer gota de sangue à mais causa repulsa.
Felizmente, outras questões mais pertinentes - ou não - voltaram a serem comentadas. O filme toca no espinhoso assunto da escravidão e, como em Bastardos Inglórios que contou uma trama sobre nazismo de uma forma original, criativa, Tarantino apresenta uma versão faroeste com todas suas características, humor, a trilha sonora eclética e que desvirtua da época em que a história se passa, sua edição rápida, caraterizações marcantes e os diálogos imprevisíveis. Junto com a escravidão, tem uma parcela do público que não concorda com termos usados, acusando-os de pejorativos e racistas. Seja lá porque essa parcela se incomodou, já que a mensagem do filme é positiva contra a escravidão e brinda Django (Jamie Foxx) como herói absoluto, apesar de ter tido apoio do alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz), o caçador de recompensas que utiliza o negro como parceiro.

E exagero é o que mais tem em Django Livre, e infelizmente são eles que desequilibram a boa história contada. Sua longa duração, mesmo que não incômoda, poderia muito bem resolver questões que ficam abertas no filme, como o passado de Django - os flashbacks contínuos preferem focar no seu amor pela amada, repetidas vezes e não mostram como ele conseguiu se destacar tanto. O seu treinamento também não é bem mostrado - se limita nas cenas de tiros contra um boneco de neve, e mais à frente eles retornam com as mesmas imagens, tentando mais uma vez explicar como ele consegue ser tão bom (porém, não causa emoção, dado aos exageros já mostrados anteriormente). A utilização da trilha sonora impactante é um fato positivo, mas falta sutilidade no uso.

Direção marcante, apesar dos poucos deslizes, roteiro interessante e com bons diálogos (como de praxe) e uma estética atraente, original, bem produzida. Tudo isso faz de Django Livre uma boa aventura, fácil de se envolver e que tem uma mensagem otimista. É sua forma de ver um filme de faroeste, assim como já recriou um filmes sobre a segunda gerra mundial ou o gênero de arte marciais. E se até hoje os assuntos tratados incomodam, é porque existe alguém por aí que anseia em produções menos ousadas, que desafiam a capacidade crítica e reflexiva de obras oponentes e feitas à massa. Engraçado, pois Django Livre nem chega a tocar tanto quanto algumas obras de Tarantino, e morreria na praia se fosse comparado com filmes mais sérios e filosóficos. Debate sobre violência e preconceito é sempre bem vindo, mas levar esse filme como exemplo, é caminhar pelo lado menos interessante dos assuntos.
Trailer:
Ivan concordo em todos os aspectos que colocou em sua crítica!
ResponderExcluirUma coisa que fui analisar após ver o filme é que as cenas mais engraçadas do filme estão ligadas diretamente a violência, isso de certo modo me assusta pois será que vivemos tanta violência gratuita nos dias de hj que nada mais nos choca?
Com certeza o filme merece ser visto e trás um olhar diferente sobre a posição do Negro na sociedade Americana da época!