Ao final da quinta temporada, Mad Men jogou uma questão sempre pertinente ligada ao protagonista Don Draper (Jon Hamm): "você está sozinho?". O que se viu logo no início desta temporada, que retornou na segunda (22) na HBO Brasil, foi um Don, no mínimo, desorientado, atormentado. Eis que, depois de ter sentido as mudanças que vinham diretamente em sua direção, como uma onda prestes a se chocar contra ele, Don agora vive em um mundo que aos poucos vai lhe pondo de lado. Uma época em quem o Havaí ganha fama pela sua sensualidade sem pudores e que reflete essa sociedade mais liberal, tanto com as drogas, quanto com o comportamento das mulheres e sua aceitação na sociedade - até os negros agora fazem parte do ambiente de trabalho. A morte sempre lhe assombrando (genial a cena do ataque do porteiro), lhe joga uma nova questão: "por que você está sozinho?". Afinal, você não precisa carregar o fardo de outro. Estaria Don percebendo que Dick seria um caminho melhor para se ter seguido do que essa superficial vida como Don Draper?
O modelo de homem bem sucedido de Draper, vai aos poucos se esgotando, irritando companheiros de trabalho e transformando-se em um objeto publicitário: a imagem é que importa, representando um ideal, um sonho ou desejo. Don Draper perdeu seu brilho, e vai aos poucos virando um peso para a empresa - isso deve ser explorado mais à frente - e consequentemente à sua vida íntima. Como o poster da temporada já sugeria, Dick Whitman pode estar voltando, e o protagonista ou vai aceitar, ou vai lutar contra. Sabe-se que o tom melancólico é sempre elevado na TV à cada episódio de Mad Men, e parece que o nível deve aumentar ainda mais, afinal, todos personagens ali deram a entender de estarem mais uma vez em decadência, desde Peggy (Elisabeth Moss), até a jovem Sally (Kiernan Shipka). É Mad Men, fazendo o que sabe melhor: construir personagens de acordo com as mudanças culturais e comportamentais da época e desconstruí-los para assim acrescentar algo em suas personalidades - os mais espertos e que assimilam logo, se saem melhor.

Betty (January Jones) está bem. No seu sentido de vida, claro. Vive como uma esposa dedicada, no modelo antigo e ainda defende bravamente esse "status". Mas ainda assim é uma péssima motorista - essa forma sempre foi pequena pra ela. Sobra pra Sally ver com desconforto sua amiga fazer um recital de violino na sala e perceber que todos estão gostando. Ela não faz nada, nunca foi motivada para ser algo, e sim seguir os passos conformistas de sua mãe. Na cozinha, Betty conversa com essa jovem amiga da filha, que desde cedo já demonstra seguir os passos da mudança: fuma sem problemas, é idealista com uma vida desafiadora, da qual, seja independente. Não quer ser "essas donas de casa do subúrbio". As aspirações pela liberdade começam já cedo, e não esperam crescer como foi visto antes (vide o caso de Peggy) - curiosamente a jovem é órfã de mãe. Betty ficou com ciúmes, e com razão. Essa nova mulher é mais interessante, avassaladora, sexy - o mesmo caso de Don com Megan. Betty, claro, se ofendeu e partiu para o ataque ao questionar o marido que gostou de ver a jovem tocando violino.

Don chega confuso. Tudo está meio diferente. Secretárias choram e abraçam seus chefes e puxam assunto com clientes dos patrões. Agora eles devem ser apresentados como iguais. Mudanças... Um belo enquadramento mostra bem o lugar de Don, está deixado de lado - perdido em sons da onda do mar, os ecos do passado. Seus funcionários não concordam mais com seus ideais e se chateiam. Peggy, em outra empresa, é tratada com uma igualdade que ela sente na pele. Ela agora é cobrada da mesma forma que um homem, e precisa se adequar - linda a cena dela olhando para a janela, no melhor estilo Don pensativo. Na agência de Don, agora a publicidade recorre à imagem para ainda se manter relevante em um mundo mais orgânico e com pessoas menos ingênuas. É agora que esses publicitários vão sentido na pele o que é serem tratados como um produto plástico e todas as mentiras que ajudaram a vender. Decadência chegando.

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