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abril 28, 2013

Crítica: 'Anna Karenina' se apoia em visual belo para encantar

Nova parceria do diretor Joe Wright e Keira Knightley inspira, mas não emociona


O diretor Joe Wright tem no seu currículo produções épicas elogiadas como uma versão do clássico Orgulho e Preconceito (2005), sua obra prima Desejo e Reparação (2007) e outros que são experiências diferentes do seu terreno seguro: o mediano O Solista (2009) e o diferente Hanna (2011). A adaptação do clássico romance russo de Liev Tolstói, Anna Karenina (2012), marca o retorno não só do diretor ao estilo que o consagrou, mas também sua parceria com a linda atriz Keira Knightley. Mesmo instável, esse novo longa é uma marco importante para o diretor no aspecto técnico - um dos trunfos de suas obras épicas - porém, não consegue emocionar como nas obras antecessoras.

A remontagem do clássico conta uma trágica história extra-conjugal no século XIX focado em Anna Karenina (Knightley) casada com Alexei Karenin (Jude Law), um rico funcionário do governo. Anna se apaixona perdidamente pelo conde Vronsky (Aaron Johnson), da qual, ela o conhece quando vai visitar a cunhada Dolly (Kelly Macdonald), que tem sido traída pelo marido. O romance proibido tem como contraste o núcleo do rico agricultor Liévin (Domhnall Gleeson) que pede Kitty (Alicia Vikander), irmã de Dolly, em casamento e é rejeitado. A trama vai tomando ritmo com essa reflexão entre as diferentes convenções sociais de uma época em que a imagem é tudo.

Num grande debate sobre amor e casamento, o diretor mostra a história como se fosse uma peça teatral, tratando-a em forma de experimental, percorrendo desde o palco principal, até os bastidores. Com a aristocracia ditando regras, em certos momentos a trama pára e todos assistem aquele romance insólito, julgando-o como era de praxe. A metáfora funciona de forma única, já que o tratamento estético é uma das coisas mais belas feitas ultimamente no cinema, sendo ponto forte do filme. A direção de arte, figurino, maquiagem e fotografia são de uma natureza excepcional que preenche a tela como uma pintura em movimento. A trilha sonora, também do parceiro de longa data de Wright, Dario Marianelli, é magistral, utilizando os elementos que fazem parte da narrativa mesclando com o instrumental de fundo. É tão tocante e criativo todos os elementos, nesse sentido que, quando unidos, lembra o bom tom de Moulin Rouge (2001) de Baz Luhrmann, e faz o novo Os Miseráveis (2012) de Tom Hooper ficar ligeiramente para trás.

Infelizmente o excesso de personagens atrapalha um tanto a fluidez dessa narrativa experimental, ofuscando um entendimento mais amplo da hierarquia mostrada e quem é quem no contexto da obra. Acaba tropeçando em contar a história de Anna de maneira objetiva e dar maior reflexão aos sentimentos da personagem que soa até arrogante e tola em determinados momentos. Tal problema, faz chamar atenção para a trama coadjuvante entre o amor de Liévin e Kitty, que na simplicidade do drama descrito, evolui de forma estável, dando um sentido puro e menos tumultuado e sufocante do que o principal. Na história deles, a fluidez dos sentimentos é lírica, tocante e inspiradora. O homem que a vê como um anjo que vive no céu e ele na terra.

Joe Wright tem se tornado um diretor com uma carreira sólida, mesmo que com obras irregulares em seu currículo. Numa indústria que acaba se traindo pelos formatos quadrados que trazem pouca emoção, talvez se o tom ousado da construção visual do longa se refletisse no roteiro - tal como visto recentemente no musical Os Miseráveis, em que os atores atuam e cantam, sem maior interferência, assim dando um show de improviso - seria um respiro e a trama se sairia melhor. É como se a alma do longa (o aspecto técnico visual) não se encaixasse no engessado roteiro e atuações. Mas isso não tira o brilho que essa adaptação de Anna Karenina tem, e sua boa reflexão sobre o amor, que com qualquer obstrução exterior e interior, seja da sociedade ou do próprio indivíduo, pode desequilibrá-lo e levar qualquer um à loucura.



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