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abril 14, 2013

Crítica: 'Oblivion' mostra um visual poético e angustiante da Terra pós-apocalipse

Tom Cruise estrela filme de estética linda e história complexa na medida certa


Com a indústria cinematográfica ainda seguindo o fluxo criado pelo fenômeno Avatar (2009) - este ano os cinemas estão abarrotados de filmes essencialmente do gênero de ficção científica: Star Trek: Além da Escuridão do já renomado J.J. Abrams; Depois da Terra, primeiro desbravamento de M. Night Shyamalan no gênero; Elysium do diretor de Distrito 9, Neill Blomkamp (que tem o Wagner Moura no elenco); Gravidade do criativo diretor Alfonso Cuarón e Ender's Game de Gavin Hood - Hollywood ainda tenta fisgar o público com outros lançamentos que contém ao menos caraterísticas do gênero - o que aumentaria bem a lista, se até a mitologia de Thor engloba elementos da ficção científica. Mas quem é fã, sabe que nada melhor que um bom filme que segue as regras (ou cuidadosamente as quebra) para satisfazer um gênero tão posto de lado na última década - talvez por ser considerado por vezes "nerd" demais, visto sua recorrente complexidade. Melhor que o esperado, Oblivion (2013), abre a temporada sendo a primeira grande surpresa positiva do ano.


O longa estrelado por Tom Cruise (muito bem no papel, por sinal) traz uma Terra pós apocalíptica com uma guerra intrigante entre alienígenas e humanos, como se fosse uma milícia contra um grande exército tecnológico. Cruise vive um agente Jack Harper, que junto com uma parceira Victoria (Andrea Riseborough) - parceira também na conotação sexual, tal aspecto logo fará sentido no decorrer da trama - passam por missões de controlar a ação de inimigos e a manutenção de máquinas de segurança. O trabalho de fiscalização está no fim, e dentro de duas semanas eles serão remanejados para uma das luas de Saturno, onde estão os humanos refugiados. Eis que uma nave cai, e como sobrevivente está Julia (Olga Kurylenko) - a mesma mulher, da qual, Jack tem sonhos e lembranças reais de um passando antes da guerra que culminou na destruição parcial do ambiente.

A primeira parte do filme é um festival de cenas magníficas e esplendorosas. O olhar de Joseph Kosinski, que tem no seu currículo o também belo Tron: O Legado (2010), mostra um apocalipse contrastando com paisagens, pontos turísticos destruídos, mas ainda assim fantásticos, como se a Terra tivesse sido destruída de forma poética. A trilha sonora, apesar de apresentar os mesmos nuances da usada em Tron, dá um tom na trama de forma emocionante, amarrando as cenas mais paradas com a ação recorrente. O diretor equilibra os efeitos visuais sem exageros deixando a produção com ar realista, sem banalizar ainda mais a extravagância da indústria. A mão precisa de Kosinski, assim como seu apelo visual e a trilha nervosa, podem muito bem lembrar a característica de Christopher Nolan em A Origem (2010), que tem sido a referência mais forte nos últimos anos em filmes de ação e ficção científica. Ainda recorre ao clima angustiante de Lunar (2009), a Sally, figura cibernética de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), o sentimentalismo delicado do amor ao planeta do ótimo Wall-e (2008), entre outros filmes do gênero.

Porém, nem tudo são flores. Oblivion, a partir da metade até o fim se transforma numa aventura cheio de reviravoltas, agarra um ritmo mais tumultuado e a edição comete o grande equívoco de querer deixar a trama mais confusa e complexa do que ela realmente é. O clímax no espaço também deixa à desejar, já que o caminho escolhido parece um tanto incoerente, tamanho seria a inteligência do inimigo. No entanto, nada disso tira o brilho do longa que entretém de maneira satisfatória, e ainda desafia o espectador com uma história cheio de significados - muitas vezes a barreira da lucidez somos nós mesmos - e ainda reflete sobre o quão lindo é a Terra e como esse sentimento de pertencer a esse lar é o principal meio de assim conservar e protegê-la de qualquer mal. Parece precipitado à dizer, mas Oblivion já pode garantir sua vaga entre os melhores do ano, e vai dar trabalho aos outros concorrentes do gênero (visualmente ainda mais). Felizmente, uma grata - e bela - surpresa.



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