O cinema nacional teve uma grande estreia logo no início desse ano. A cinebiografia do então presidente Luíz Inácio Lula da Silva, foi uma das promessas de tornar-se um grande sucesso, seguindo o rastro de 2 Filhos de Francisco (2005) e se unindo a Chico Xavier, o filme como os mais lucrativos do ano ao tratar de cinebiografias. Semelhanças entre os três filmes é o que não falta. Todos os protagonistas tiveram uma infância humilde e são exemplos de superação. Mas se tem uma coisa que o Brasil ainda não se interessa, é por política. Simpatiza com espiritismo e adora música sertaneja, mas política é quase unanimidade. E nem separando ao máximo qualquer vestígio ideológico político do protagonista, Lula, o Filho do Brasil consegue decolar. E isso provavelmente é o que o faz ser fraco e sem graça.
Com direção de Fábio Barreto, a produção tenta juntar os fatos mais extraordinários do homem que conseguiu unir multidões e de fato chegar à presidência do Brasil. Mas o que poderia ser uma das histórias mais aguardadas do cinema, torna-se uma obra sem identidade, lançada em ano eleitoral (o que leva a dúvidas de sua credibilidade) e fica presa na necessidade de emocionar o público a qualquer custo. Acaba sendo quadrado e esperando o máximo atrair a população aos cinemas. Só o fato de escalarem Glória Pires, como a sofrida mãe, denota a pretensão de ser um dramático filme evento.
A trama começa em uma pobre região de Pernambuco, mostrando a mãe Dona Lindu e os filhos se mudando inicialmente para Santos, onde o seu marido alcoólatra vivia com um dos filhos e uma nova mulher. Nesse meio tempo o jovem presencia uma morte pelo caminho. Depois de um tempo, mudam-se para São Bernardo, onde Luiz começa a estudar para ser torneiro mecânico. Esforçado, fazendo bicos nos tempos livres, ganha seu diploma do Senai. Mais à frente, perde o dedo da mão esquerda e se casa com a primeira esposa Lourdes. A surpresa do filme foi a morte da esposa, da qual poucos devem ter conhecimento desse casamento. Depois dessa perda, ele é convidado para participar do sindicato das causas operárias. Nesse momento ele também conhece Marisa, sua segunda e atual esposa. Lidera a greve dos metalúrgicos, é preso pela ditadura e tem de enfrentar a morte da mãe - claro que, já é o final do filme e o roteiro tenta arrancar mais lágrimas do público.
A história não tem mais nada a contar tudo o que sabemos mais ou menos até então. Ele só omite um dos fatos essenciais e que mudaram a história do Brasil: o próprio brasileiro. Lula tem um dom natural de falar com a massa e ser compreendido, isso é mostrado de forma certeira, mesmo sem discursos realmente impactantes (provavelmente querendo omitir os ideias socialistas). Ele conseguiu fazer os metalúrgicos votarem contra os patrões, conseguiu arrastar multidões - a cena da assembleia que aconteceu no estádio da Vila Euclides, em que discursa para 100 mil trabalhadores, é sem dúvidas a melhor do longa -, mas ele também deu esperança aos jovens e aos mais necessitados. E isso o filme omite, talvez por se tratar de algo que não se concretizou como prometido, quando seu modelo econômico seguiu praticamente o da direita, ou se trata de um deslize inexplicável. Daí pode se justificar a ausência da ideologia esquerdista, sem tocar em nomes de partidos, estando apenas em favor dos operários.
Nem mesmo as atuações gloriosas do ator Rui Ricardo Diaz que cresce durante o filme e fica cada vez parecido com o jeito de falar e se portar de Lula ou o amor singelo do trabalhador com a bondosa mãe, consegue empolgar mais do que realmente se viu em sua fala de quando candidato à presidente da república que levou milhões de brasileiros a votarem em uma proposta voltada ao social, sem precedentes. Seria sim, um filme com uma história de um brasileiro que superou as barreiras e foi aclamado o mais popular do Brasil e reconhecido pelo mundo, mas aqui ele omite esses brasileiros que o fizeram ser quem ele é, os mesmos brasileiros que sonham com a igualdade social por anos, esperavam um milagre e se deparam com mais corrupção do que de fato um crescimento. Se a premissa era contar a história de vida dele, a missão falha ao não reconhecer que o presente recente implica e muito na importância do seu passado e não apenas o contrário. Afinal, não foi depois de sair da cadeia que Lula virou presidente do Brasil.
Lula - O Filho do Brasil
Brasil , 2009 - 128 min
Drama
Direção: Fábio Barreto
Roteiro: Denise Paraná, Fábio Barreto, Daniel Tendler, Fernando Bonassi
Elenco: Rui Ricardo Diaz, Guilherme Tortólio, Felipe Falanga, Glória Pires, Lucélia Santos, Cléo Pires, Juliana Baroni, Milhem Cortaz
Trailer:
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