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julho 28, 2012

'Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge' fecha trilogia com chave de ouro

Christopher Nolan se despede e deixa legado primoroso




Nos últimos três filmes do Batman, levados ao cinema pelo cineasta Christopher Nolan, Gotham City é cenário de questões éticas, vilões malvados e um herói imperfeito. E o mundo parou para seguir essa história, que tanto toca em dilemas comuns de qualquer sociedade, como a corrupção arraigada no sistema e sua população que tende a preferir justiceiros à polícia. Nolan fez com maestria e ousadia o que Hollywood há tempos evita: construir uma história sombria, realista e complexa. Sem medo do público e fãs, que na verdade estão cansados de serem subestimados - casos de fracassos como Lanterna Verde, Mulher- Gato, estão aí para provar.


Nolan tem se firmado na indústria como um diretor autêntico, sombrio e que abusa do estilo "quebra-cabeça" quando também assina o roteiro, apostando em reviravoltas, suspense e surpresas. Sua ascensão na indústria ganhou repercussão com o elogiado Amnésia (2000) e tomou forma na série de filmes do Batman, além de aclamado com A Origem (2010) e o subestimado O Grande Truque (2006). No controle da fase mais sombria do Homem-Morcego, Nolan mudou a percepção colorida que o herói tinha ganhado anteriormente e lembrou os bons tempos de quando Tim Burton se aventurou no mundo do herói.


Em Batman Begins (2005), a história de Bruce Wayne (Christian Bale) foi mostrada de uma forma inédita, destacando o nascimento do cavaleiro da noite que busca uma forma de curar seus traumas - ou ao menos usá-los de forma para assegurar o fim da criminalidade em Gotham City, agindo como um justiceiro. O simbólico morcego, nada mais é que fruto desse temor da infância. Com a ajuda da Liga das Sombras, Wayne encontra o alter-ego, mas, após isso, se vê cercado pela mesma equipe que tem uma forma pessimista de encontrar soluções para Gotham. Outro trauma, é a morte de seus pais, da qual, ele culpa a si mesmo pela trágica situação que culminou no assassinato deles. O primeiro filme desta trilogia nas mãos do diretor acabou se tornando referência e foi aprimorado no filme seguinte. O vilão Espantalho serviu como coadjuvante em comparação ao principal vilão da trama: o próprio Bruce Wayne.


Em Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008), o arruaceiro e vilão do Batman, o Coringa, é mostrado de forma sombria, anarquista e querendo apenas ver o circo pegar fogo. Bagunçou Gotham revelando o lado sujo e corrupto da cidade em todas as partes, deixando seus moradores em meio de questões éticas e fazendo personagens importantes como Harvey Dent, e até o próprio herói, entrarem crise com si mesmos. O filme ainda evoluiu mostrando os avanços tecnológicos que aliados com o herói, conseguem superar qualquer plano mirabolante do Coringa. No fim, Dent acaba sucumbido pela raiva e vingança e toma um caminho que nada lembra de sua rápida passagem como um verdadeiro herói que fez Batman como vilão, mas seu destino final como o temível Duas Caras vira um segredo para dar esperança à população. Afinal, antes um herói de cara limpa, que um mascarado. 


Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge começa oito anos depois e mostrando que o legado de Dent continua em vigor e a cidade sente uma paz estabilizada. Porém, a chegada do mercenário Bane (Tom Hardy) volta a assombrar (sua voz é de arrepiar) a cidade e desafiar o sistema, assim como ambiciosos e poderosos que querem Wayne fora do jogo. Wayne, por sua vez, deixou de lado os trajes de Batman e vive de forma reclusa, até que recebe a visita de Selina Kyle (Anne Hathaway), uma misteriosa ladra que tem um interesse pessoal em suas digitais. Então, aos poucos Batman ressurge e vê que as ações dela tem ligação com todo o ciclo de criminalidade iniciada por Bane.


O filme segue um ritmo por vezes instável, mas que não compromete o resultado final. Começa com Wayne exilado e aos poucos voltando ao normal com a cidade sendo visitada por inimigos ameaçadores - a cena da perseguição da polícia contra ele é o ápice de uma primeira fase; após isso, as coisas começam a pegar fogo na luta contra os bandidos e a mulher-gato tem uma participação crucial para o fracasso de Homem- Morcego - o embate dele com Bane é o ápice desta fase; e por fim, chega o momento da virada, da qual, Wayne precisa mais uma vez enfrentar obstáculos não apenas físicos, mas também emocionais e contornar a situação - aparentemente perdida, não só para ele, mas também para Gotham, prestes à explodir.  Nolan consegue amarrar bem a enorme trama. Da mesma forma que conseguiu levar o Cavaleiro das Trevas a um nível maior, ele agora mescla um grande time de astros fazendo personagens importantes e sempre equilibrando o momento de cada um. Alguns ganham destaque até demais, como Alfred (Michael Caine) o mordomo fiel de Wayne e o jovem policial John Blake (Joseph Gordon-Levitt), - mesmo que o final guarde uma surpresa sobre sua identidade. Outros, mereciam mais tempo na tela, como a Mulher-gato, que não tem sua história contada - provavelmente, ainda é memorável sua participação no filme Batman - o Retorno (1992), interpretada pela Michelle Pfeiffer. Além disso, as cenas de ação continuam excitantes, ainda mais extraordinárias que o segundo longa, mérito da direção impecável de Nolan, que tem uma maneira dramática muito bem vinda em contar qualquer história.

Infelizmente, Batman - o Cavaleiro das Trevas Ressurge não consegue ser tão surpreendente e bom quanto A Origem, filme com roteiro original de Nolan. Mesmo ele tentando incluir diversas caraterísticas que tentam resultar numa surpresa de mesmo nível de um filme para outro - cenas de início que são recontadas no final e, assim, formam uma poética circularidade (como a cena em que o Alfred diz desejar ver o patrão com uma garota em uma de suas viagens de férias e no final isso acontece), banalizam um pouco a trama que acaba viciada em reviravoltas sempre fazendo alusão não só ao início do filme, como de toda trilogia. 


Mas essas firulas do roteiro engenhoso de Nolan não chegam nem de longe atrapalhar a satisfação que o filme resulta. Mesmo sendo complexo e arrastado algumas vezes, é a aventura mais familiar entre os três. Pouco sangue - inclusive a morte do vilão Bane nem é mostrada de perto - muitas lutas coreografadas, explosões e perseguições, fazem deste um filme mais próximo de uma aventura da Marvel - tipo Os Vingadores e que em tempos de massacres em cinemas, caíram muito bem. Ainda resta muita história para contar sobre um dos heróis mais queridos da cultura pop, e Nolan abriu as portas para esse universo sombrio e divertido aos interessados na boa união de entretenimento e reflexões. 


Trailer: