O episódio final desta temporada de Mad Men, exibida na última segunda (16) pela HBO Brasil sintetizou muito bem o que se foi visto nos outros 12 episódios: mudanças e as reações. Passando por uma revolução sexual e comportamental (a religião foi mostrada na forma do libertador budismo), os protagonistas estão numa cruzada para se encontrarem no meio do furacão ideológico que bagunça tudo ao redor.
Uma temporada cheia de momentos excelentes. O episódio da libertação de Joan que tanto fazia falta na agência e por momentos sentiu medo de ser substituída. A delicada cena da cama, em que, seu corpo sai da posição fetal para se libertar do que tanto a fazia submissa à mãe, sempre contra seu trabalho e sua separação do marido mala. Em outro momento, ela e o Jaguar. Uma referência cruel do que seria o papel da mulher na sociedade: o sonho de todo garotinho. Generalizar as mulheres, seria um crime. Joan quer se dar bem no que tem talento: gerenciar homens na empresa, e escolheu um caminho que ela se dá melhor: seduzindo com seus atributos. E logo conseguiu, não só apenas um lugar entre os sócios, mas uma satisfação sem peso na consciência - quantas mulheres já foram abusadas no seriado e não aceitavam o fato? Joan abriu assim a porta para mais uma mudança na estética da sala de reuniões: duas mulheres colorem o ambiente cinza.
Pete é outro que ganhou um episódio espetacular. Cada vez mais perdido em sua identidade e idade, o jovem arrogante não se sente feliz no american way life, da qual, eles mesmos vendem todos os dias. Precisa de algo mais. Em suas aulas de direção, vê uma jovem garota cheio de vida e que logo parece uma válvula de escape para ele. Uma aventura, quem sabe? Mas Pete não é Don Draper. Ele não sabe consertar uma pia quebrada. Não tem charme. E sim uma sufocante vida perfeita. Quando é desprezado pela jovem da auto escola, ele se vê como um carro batendo diretamente contra o muro. E o texto de Ken (Aaron Staton) (uma das melhores citações da série) reflete o que estava se tornando Pete e os Mad Mens da série:
Roger encontrou na experiência de usar LSD a fonte para entender a si mesmo. Sim, porque, não seria o Roger se fosse diferente. O personagem que sempre fora o a toa da agência, fazendo o trabalho de lobista, ou o homem que consegue as contas, vivia embriagado e infeliz. Percebeu que não dera certo seu casamento com uma jovem e viu seu reflexo refletido na mãe Megan, francesa, e que vive a vida como bem entender. Roger está livre. Entendeu as regras e se desfez delas. Vai viver à sua maneira e ponto.
Peggy passou por desafios. Se Joan encontrou seu jeito de encarar a revolução sexual que ocorre pelo mundo, abusando da sensualidade, Peggy vestiu o a ideologia da mulher moderna. Não conseguia se focar, se concentrar e parou para pensar apenas em uma história sobre nazismo. Nem o namorado ela escutava mais. Se viu limitada quando colocada fora de várias publicidades, inclusive da machista Jaguar. Encarou os fatos e em outro momento histórico colocou Don contra a parede e pediu demissão. Com um jogo de câmeras mostrando seu poder sobre ele, este sentado e aparentemente incomodado na poltrona, ela o fez beijar a sua mão. Peggy sai da agência - feliz. Não se trata de dinheiro. As mulheres conseguiram seu espaço, agora correm atrás da satisfação profissional e desafios novos. Sexo não importa tanto mais. E ela ainda pode ser amiga do Don e pegar uma sessão de cinema juntos.
Outros personagens ganharam pequenas participações, e alguns nem vale tanto citar. Betty (January Jones) pensou que o aumento do peso estaria ligado ao tumor que o médico descobriu, mas no fim, ela apenas está comendo demais. Consequência de sua entediante vida de dona de casa. Daí desconta nos filhos e no novo caso do ex-marido. A filha, Sally (Kiernan Shipka), tenta entender esse mundo complicado dos adultos. Acorda no meio do divórcio dos pais e vai tentando compreender, enquanto sempre é deixada de lado. Em um episódio que mostra as três gerações da família reunidas em uma mesa, percebe-se a infelicidade e traumas espalhados nas frustrações momentâneas. Sally descobriu que a cidade é "suja". Mas, apesar da aparente liberdade que encontrou com a nova esposa do pai, é na mãe que ela recorre quando vem a primeira menstruação.
Por fim, todos esses elementos chegam a apenas uma pessoa: Don Draper. Quando foi comentado aqui no blog o primeiro episódio da temporada, falei em como seu passado o puxava. Como Dick resolvia aparecer nos momentos cruciais das pessoas ao redor. Megan (Jessica Paré) casada com Don, logo enfrentaria todos obstáculos do difícil homem que tem aparências a manter e o passado a fugir. E não deu outra. A questão é que os novos desafio de Don vieram num turbilhão de nomes e com pesos cada vez maiores. Ele, hipócrita, foi contra a atitude de Joan, e ela agiu de forma diferente que ele esperava; ele não entendeu Peggy que recusou um aumento e saiu da empresa; ele viu Pete chorar; viu Roger se separar mais uma vez; viu Betty em ruína; tem uma secretária negra; e o mais chocante: viu Lane se matar em consequência de um ato seu. Sufocado pela empresa. O fim está mais próximo de Don, e pela primeira vez ele sentiu medo. Não é o dinheiro e nem a vida perfeita que vende nas propagandas que vale mais. A música dos Beatles que Megan queria que ele escutasse, mas que ele não teve paciência de ouvir seguia essa mentalidade, afinal, o amanhã nunca se sabe.
Com todos esses fatos, Don sentiu o incômodo que ultrapassa a sua chegada aos 40 anos. A sua dor de dente, persistente, não ia passar como sempre passava. E precisou de arrancar a agonia para perceber que é preciso ele confrontar consigo mesmo se quiser sobreviver. Seu subconsciente mostrou, em duas grandes cenas, que seus reais desejos eram impossíveis de serem postos em prática. Gripado, ele alucinou que matara sufocada uma ex-amante ousada que queria destruir seu novo casamento - Don, satisfeito com Megan, não tinha esses desejos de traição como anteriormente. Outra vez, veio quando dopado enquanto o dentista arrancava seu dente. Seu passado queria voltar e deixá-lo aconchegado. A única figura que representava sua família e algum amor fraternal que sentira. Mas esse, agora, é literalmente um fantasma.
Arrancou o dente, se entendendo com Joan e preferindo não dizer o que realmente aconteceu do Lane; reencontrou Peggy sem mágoas, deu um impulso ao difícil sonho de Megan, após assistir seu teste e perceber que não tem como fugir disso, afinal ele a ama - a cena dele se distanciando da mulher enquanto ela grava o comercial mostra que sua missão foi cumprida e ele sai satisfeito; e vai continuar forte nos novos desafios da agência, agora crescendo ainda mais com a nova conta milionária. Pessoalmente, não sabemos se essas ações repercutiram na frase jogada pela mulher que quer algo com ele no bar: "você está sozinho?" Porém, pode-se especular que essa visita ao dentista calou uma dor apenas momentânea, afinal, os anos 70 estão chegando e a publicidade, assim como a sociedade, dará saltos ainda maiores e destruidores. Don demorou para reagir, será que a próxima dor de dente vai esperar, sendo anestesiada por goles de Whisky ou conhaque? Mad Men continua reflexiva, forte, instigante... sensacional.
"Haviam frases da 9ª Sinfonia de Beethoven que ainda faziam Coe chorar. Ele sempre achou que tinha a ver com as circunstâncias da própria composição. Imaginou Beethoven, surdo e doente da alma, com o coração partido, escrevendo furiosamente enquanto a Morte estava parada na porta lixando as unhas. Ainda assim, Coe pensou que poderia estar vivendo em um país que estava fazendo-o chorar. Matando-o com o silêncio e a solidão, tornando tudo normal e lindo demais para suportar".Pete consegue uma amante, mas não consegue o que tanto almejava, um novo impulso para sua entediante vida. Agora sua esposa deu a ideia de uma apartamento para ele morar sozinho e ficar mais perto do trabalho, seria uma boa? Mais perigo à vista.
Roger encontrou na experiência de usar LSD a fonte para entender a si mesmo. Sim, porque, não seria o Roger se fosse diferente. O personagem que sempre fora o a toa da agência, fazendo o trabalho de lobista, ou o homem que consegue as contas, vivia embriagado e infeliz. Percebeu que não dera certo seu casamento com uma jovem e viu seu reflexo refletido na mãe Megan, francesa, e que vive a vida como bem entender. Roger está livre. Entendeu as regras e se desfez delas. Vai viver à sua maneira e ponto.
Peggy passou por desafios. Se Joan encontrou seu jeito de encarar a revolução sexual que ocorre pelo mundo, abusando da sensualidade, Peggy vestiu o a ideologia da mulher moderna. Não conseguia se focar, se concentrar e parou para pensar apenas em uma história sobre nazismo. Nem o namorado ela escutava mais. Se viu limitada quando colocada fora de várias publicidades, inclusive da machista Jaguar. Encarou os fatos e em outro momento histórico colocou Don contra a parede e pediu demissão. Com um jogo de câmeras mostrando seu poder sobre ele, este sentado e aparentemente incomodado na poltrona, ela o fez beijar a sua mão. Peggy sai da agência - feliz. Não se trata de dinheiro. As mulheres conseguiram seu espaço, agora correm atrás da satisfação profissional e desafios novos. Sexo não importa tanto mais. E ela ainda pode ser amiga do Don e pegar uma sessão de cinema juntos.
Outros personagens ganharam pequenas participações, e alguns nem vale tanto citar. Betty (January Jones) pensou que o aumento do peso estaria ligado ao tumor que o médico descobriu, mas no fim, ela apenas está comendo demais. Consequência de sua entediante vida de dona de casa. Daí desconta nos filhos e no novo caso do ex-marido. A filha, Sally (Kiernan Shipka), tenta entender esse mundo complicado dos adultos. Acorda no meio do divórcio dos pais e vai tentando compreender, enquanto sempre é deixada de lado. Em um episódio que mostra as três gerações da família reunidas em uma mesa, percebe-se a infelicidade e traumas espalhados nas frustrações momentâneas. Sally descobriu que a cidade é "suja". Mas, apesar da aparente liberdade que encontrou com a nova esposa do pai, é na mãe que ela recorre quando vem a primeira menstruação.
Por fim, todos esses elementos chegam a apenas uma pessoa: Don Draper. Quando foi comentado aqui no blog o primeiro episódio da temporada, falei em como seu passado o puxava. Como Dick resolvia aparecer nos momentos cruciais das pessoas ao redor. Megan (Jessica Paré) casada com Don, logo enfrentaria todos obstáculos do difícil homem que tem aparências a manter e o passado a fugir. E não deu outra. A questão é que os novos desafio de Don vieram num turbilhão de nomes e com pesos cada vez maiores. Ele, hipócrita, foi contra a atitude de Joan, e ela agiu de forma diferente que ele esperava; ele não entendeu Peggy que recusou um aumento e saiu da empresa; ele viu Pete chorar; viu Roger se separar mais uma vez; viu Betty em ruína; tem uma secretária negra; e o mais chocante: viu Lane se matar em consequência de um ato seu. Sufocado pela empresa. O fim está mais próximo de Don, e pela primeira vez ele sentiu medo. Não é o dinheiro e nem a vida perfeita que vende nas propagandas que vale mais. A música dos Beatles que Megan queria que ele escutasse, mas que ele não teve paciência de ouvir seguia essa mentalidade, afinal, o amanhã nunca se sabe.
Com todos esses fatos, Don sentiu o incômodo que ultrapassa a sua chegada aos 40 anos. A sua dor de dente, persistente, não ia passar como sempre passava. E precisou de arrancar a agonia para perceber que é preciso ele confrontar consigo mesmo se quiser sobreviver. Seu subconsciente mostrou, em duas grandes cenas, que seus reais desejos eram impossíveis de serem postos em prática. Gripado, ele alucinou que matara sufocada uma ex-amante ousada que queria destruir seu novo casamento - Don, satisfeito com Megan, não tinha esses desejos de traição como anteriormente. Outra vez, veio quando dopado enquanto o dentista arrancava seu dente. Seu passado queria voltar e deixá-lo aconchegado. A única figura que representava sua família e algum amor fraternal que sentira. Mas esse, agora, é literalmente um fantasma.
Arrancou o dente, se entendendo com Joan e preferindo não dizer o que realmente aconteceu do Lane; reencontrou Peggy sem mágoas, deu um impulso ao difícil sonho de Megan, após assistir seu teste e perceber que não tem como fugir disso, afinal ele a ama - a cena dele se distanciando da mulher enquanto ela grava o comercial mostra que sua missão foi cumprida e ele sai satisfeito; e vai continuar forte nos novos desafios da agência, agora crescendo ainda mais com a nova conta milionária. Pessoalmente, não sabemos se essas ações repercutiram na frase jogada pela mulher que quer algo com ele no bar: "você está sozinho?" Porém, pode-se especular que essa visita ao dentista calou uma dor apenas momentânea, afinal, os anos 70 estão chegando e a publicidade, assim como a sociedade, dará saltos ainda maiores e destruidores. Don demorou para reagir, será que a próxima dor de dente vai esperar, sendo anestesiada por goles de Whisky ou conhaque? Mad Men continua reflexiva, forte, instigante... sensacional.