Quando se é criado com pais espíritas, o nome Chico Xavier acaba se tornando comum dentro de casa, seja em conversas sobre seus casos de cartas psicografadas ou quando contado fatos de sua vida. Dentro desse parâmetro, Allan Kardek, Bezerra de Menezes (que teve um filme lançado em 2009) e Emmanuel são outros personagens que juntos fazem da doutrina espírita consistente, cheio de obras lançadas, centros espalhados com seus nomes e etc. Mas Chico sem dúvidas é o principal e o mais conhecido no Brasil, um país onde a religião tem presença forte tanto na política e na economia quanto nos mais humildes lares. Chico Xavier é um desses muito populares e não importa a religião. Só pra dar um exemplo dessa popularidade, foram mais de 6 milhões de reais nas bilheterias para o filme sobre o médium - isso apenas no primeiro fim de semana, mais que a metade do custo de produção.
Dirigido por Daniel Filho (Tempos de Paz, Se eu fosse você), o filme tenta contar a vida de Chico em meio a uma entrevista na TV Tupi, em que foi sabatinado por jornalistas, religiosos e ateus. Como muitos outros personagens brasileiros, teve infância humilde e sofria abusos, mas por sua sorte, a mãe já falecida aparecia para o garoto e o ajudava a enfrentar tudo. Chico era conhecido na pequena cidade de Uberaba por ser diferente, e não fazia questão de esconder o dom de falar com os mortos, ou melhor, os desencarnados. Cresce e percebe que o dom pode servir para fazer uma ponte entre os dois mundos, o espiritual e o dos vivos. É quando ele recebe a aparição do espírito Emmanuel que a partir daquela fase seria o seu guia espiritual. Desse modo, Chico passou a ser procurado por pessoas do Brasil inteiro e também sempre posto à prova por aqueles que buscavam de qualquer jeito desmascará-lo.
Humanizar o mito é o grande trunfo do roteiro. Até na maneira de utilizar da entrevista - que foi recorde de audiência na época e durou mais de três horas no ar. Durante o filme, conhece-se ou apenas se relembra os fatos mais curiosos e importantes de sua vida. E é na terceira fase de Chico, que o médium seguro de seu dom e pronto para expor a mensagem do espiritismo de forma ampliada, que o filme fica mais interessante e ganha um ritmo interessante. Aposta no humor e na forte semelhança do ator Nelson Xavier com o Chico. Até a vaidade do espírita é remontada com astúcia, entre os diálogos com o sério Emmanuel e a vaidade de usar uma peruca.
Em meio a interessante história do médium, a produção mescla a trama de um casal que perdeu o filho de forma acidental e tenta de todas as formas entender a razão do acontecido para assim seguir adiante. É claro que o desfecho une tais personagens, já que o marido (Tony Ramos) trabalha na rede de televisão e a mulher (Christiane Torloni) é seguidora assídua de Chico. Mesmo que um tanto desinteressante no começo, a trama do casal guarda para o final um outro fato importante na obstinação de Xavier, que foi de ter sua psicografia utilizada como prova judicial.
Emocionante, tanto pela coragem desse homem ao se expor quanto por sua humildade e carisma. Um homem que pregava o amor e a bondade no país e desejava morrer apenas quando todos estivessem felizes. Dá pra reconhecer que foi um filme difícil de se fazer, mesmo com uma temática bem utilizada no exterior (como a ótima série Medium) e na própria televisão brasileira. Porém, é o personagem que requer uma grande responsabilidade nessa transposição. Que nesse ano espírita, em que o médium faria 100 anos, sua mensagem esteja codificada na memória de seu público, independente da religião.
Chico Xavier - O Filme
Brasil , 2010 - 125 min
Biografia / Drama
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Marcos Bernstein
Elenco: Matheus Costa, Angelo Antônio, Nélson Xavier, Tony Ramos, Christiane Torloni, Letícia Sabatella, Giovanna Antonelli
Trailer:
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