Edição do texto: Rodrigo Rodrigues
Passada mais de um década do lançamento de Matrix, surge nos cinemas um filme tão surpreendente e bem produzido quanto a produção que mostrava Neo e o mundo irreal plantado na mente dos humanos, o qual gera debates e influência a ficção científica até hoje. O fenômeno midiático da vez é A Origem (Inception), superprodução do diretor Christopher Nolan, que está há três semanas no topo das bilheterias americanas, tamanho é o hype em torno da produção. Com críticas mistas - umas aclamando e dando certa a indicação ao Oscar, enquanto outras dizem que tudo não passa de picaretagem digna de plágio de uma história de Tio Patinhas complicada ao extremo -, o filme reinventa os filmes de assalto incrementando o interessante tema de entrar nos sonhos das pessoas.


Se as críticas não sabem pra onde ir e deixam estranha sensação de novidade, o que deve se levar de A Origem é a capacidade de reinventar gêneros, sem necessariamente rotular a produção dessa forma. Christopher Nolan foi prodígio ao criar novas regras para os filmes de heróis com o obscuro e realista Batman Begins. Para alguns, foi a destruição do gênero. Na percepção daqueles que querem uma indústria apenas com explosões e entretenimento fácil e infantil, um filme como esse causa repulsa imediata. Nesse mesmo patamar, o que eles não buscam levar a sério é o público, que quando obrigado a pensar um pouco além do acostumado, também se interessa pela história, mergulha fundo no que o roteiro quer propor. Assistir A Origem é se deparar com esse roteiro, um labirinto repleto de regras e surpresas pelo caminho. É complicar um pouco mais o que os blockbusters de ação que gostam contar sobre planos perfeitos e apostam nas reviravoltas psicológicas. É o que Salt está fazendo novamente. Quando é proposto intercalar a fantasia e a ação, sem fugir da estética realista e urbana, com uma trilha sonora dramática - características recorrentes nas produções de Nolan - não tem roteiro mirabolante que possa ficar ruim.
Mas sim, A Origem é confuso demais em determinados momentos. E no grau de explicação dada aos personagens para a jovem novata, a pergunta dela "Em qual subconsciente estamos entrando mesmo?" surge como um alívio. Nolan complicou de uma forma bem engenhada, exatamente para passar ao público o quanto a mente humana é um labirinto a ser explorado, mas sem querer seguir a lógica do que sempre foi proposto. Brincar com a confusão do que é um sonho, do qual nem se é lembrado do início e se é acordado apenas quando envolve fatalidade. A sensação de originalidade do roteiro se deve a isso, essa criação e fuga de um roteiro bem planejado que leva a mais confusão quando se chega ao final. O que não se deve esperar dessa trama é levar a sério esse plano ou encontrar logo de cara uma segunda explicação dentro do filme. Para isso é válido assistir uma segunda vez e esperar algo mais de A Origem. Por enquanto, do filme pode se extrair o melhor de uma produção bem cuidada, em termos de trilha sonora, caracterização dos personagens, com um ritmo interessante e visualmente incrível. Não chega a ser um Matrix com toda astúcia da narrativa cheia de questionamentos e filosofias, mas é um experimento divertido, inteligente e que também merece ser visto e debatido.
A Origem
Inception
EUA / Reino Unido , 2010 - 148 minutos
Ficção científica / Suspense
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Ellen Page, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ken Watanabe, Tom Hardy, Cillian Murphy, Tom Berenger, Dileep Rao, Michael Caine, Lukas Haas, Pete Postlethwaite
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