Páginas

outubro 13, 2011

'Terra Nova' supera as expectativas

Seriado segue a linha "entretenimento sem ofender a inteligência do telespectador"


Três grandes séries estrearam no último ano no intuito de variar a temática na tv norte americana. Foram elas: a série sobre zumbis The Walking Dead, a de invasão alienígena Falling Skies e a sobre viagem no tempo dos dinossauros Terra Nova. Depois de sucessos arrebatadores de Lost e True Blood, as temáticas sci fi e terror tiveram um novo fôlego anos após séries de sucesso como Buffy: A Caça Vampiros e Arquivo X, e agora tudo se repete. Como desdobramentos de grandes sucessos que chegam badaladas, mas perdem o foco, alguns fracassos notáveis como V, The Event e Flashforward são um dos principais motivos de receio das grandes emissoras. Casos específicos como Fringe não se repetiram em Teminator e Dollhouse. Ou seja, a lista de fracassos é maior. Outras séries tentam misturar as coisas (mesmo que de outras variações dos gêneros) e até se seguram por um tempo, o caso de Medium que tinha uma veia policial forte e até mesmo Ghost Whisperer que era mais drama que sobrenatural. Nessa temporada ainda estão por vir programas do gênero fantasia-contos de fada que são uma incógnita: Once Upon a Time e Grimm.

A Fox do Brasil estreou um desses grandes lançamentos da temporada, o seriado Terra Nova. Assim como a fraca Falling Skies, o seriado tem o nome de Steven Spielberg na produção. Mas diferente das duas citadas no início do texto, Terra Nova trouxe uma abordagem sci fi muito menos banalizada na cultura pop em geral, apesar de se apoiar fortemente em filmes como Avatar (a presença de Stephen Lang marca muito isso), Parque dos Dinossauros e no seriado Lost. A aprovação do roteiro da série veio mesmo antes da filmagem do episódio piloto - algo tradicional e importante para saber se na TV vai dá certo. O projeto é uma parceria de Spielberg com Peter Chernin e Brannon Braga, da franquia de Jornada nas Estrelas e de Flashforward. Ou seja, foi mais ou menos um tiro no escuro.

A trama se passa no ano de 2149 D.C. e a Terra está a caminho da destruição. Buscando uma forma de salvar a humanidade, um grupo de cientistas consegue abrir uma fissura no tempo e no espaço contínuo, criando um portal para o passado do planeta. Voltando no tempo, a humanidade poderá ser salva e até corrigir os erros que foram cometidos. Entre os primeiros colonos a fazerem a viagem no tempo está a família Shannon (Jason O’Mara, Shelley Conn, Landon Liboiron, Allison Miller, Naomi Scott e Alana Mansour) e o Comandante Frank Taylor (Stephen Lang). O grupo atravessa o portal chegando na era  pré-histórica onde passará a viver em um ambiente quase hostil cercado por dinossauros. Mas, muita coisa nesse tempo ainda não era conhecida e, desses mistérios, fez parte da população criar um grupo rebelde.

No primeiro episódio com duas horas de duração, o que foi visto é um incrível festival de efeitos especiais bem aplicados, um bom tratamento na estética - seja no vestuário quanto no cenário - e o que era mais preocupante: as atuações são menos superficiais que em Falling Skies e no nível de The Walking Dead - que são apenas regulares. Terra Nova conseguiu no episódio piloto encher os olhos e dar um refresco na mesmice e repetição que se é visto no mundo do entretenimento. Ainda deixa nas entrelinhas uma crítica à função do homem no planeta - o protagonista reponde a esposa que diz que a nova casa precisa de tapetes dizendo com ironia, "já estão fazendo tapetes com peles de dinossauro?" e por outro lado ainda aprofunda uma analise antropológica ao mostrar como os diferentes grupos sobrevivem quando numa sociedade renovável. Tem espaço para os militares e os dilemas com a violência que já aflora em poucos anos de convivência; a rebeldia juvenil que é atiçada pelo controle de um sistema - mesmo que flexível - e a importância da família - algo já esperado por buscar a habitual audiência moralista.

É cedo para dizer se tudo o que foi visto ali será melhor aprofundado, faltou ainda alguma reflexão sobre o mundo deixado para trás e até os personagens, mesmo que já reveladas suas características, estão ali para vivenciar uma experiência desafiadora e assim intrigar o espectador cumprindo seu dever de bom drama, ou, se no fundo, tanta beleza na parte técnica vai servir apenas para explorar mistérios à la Lost mesclado com o descanso estético visto em outros programas importantes apenas para cenas de ação - dinossauros no lugar de zumbis e aliens -, mas no fim pouco explora seus personagens, os fazendo apenas peças sem alma de um tabuleiro interessante visualmente. Mas só de aparentar ser um roteiro original para a TV, é uma vitória em tanto. E que venham outras ousadias como essa, sem medo do fracasso e com uma produção tão caprichada, sem, claro, achar que o público engole qualquer porcaria só por ser bonitinha.

Trailer:



Terra Nova vai ao ar todas às segundas na FOX e FOX HD - com opção de legendas e áudio original.