Seriado gasta uma hora e meia para não sair do lugar...
Poderia começar esse comentário sobre o início da segunda temporada da série The Walking Dead usando o significado de um binóculo. Mas para não perder tempo, pois é de se imaginar que qualquer um, inclusive quem escreve a série, saiba - levando em conta que sua função nada mais é que aumentar o campo de visão fazendo seu usuário enxergar metros, até quilômetros mais longe de seu ponto de origem -, é melhor se concentrar naquilo que realmente importa: o fraco roteiro da série.
Sucesso de audiência e com críticas mistas (mas em geral espantosamente positivas), este primeiro episódio conseguiu em 90 minutos deixar qualquer um tenso, porém as atrapalhadas no roteiro é que são ainda mais assustadoras. Comentei no post sobre Terra Nova como essa nova onda de séries com temáticas fantasiosas e de terror, tomaram conta da TV depois do grande sucesso de Lost. Entretanto junto dessa onda, os fracassos foram muitos junto com séries fracas, mas populares. Com True Blood fazendo sucesso na tv fechada (HBO), sua concorrente AMC decidiu se voltar para o lado popular (ela é dona de séries com apelo mais adulto como Mad Men e Breaking Bad) e foi pra briga. Além de se aproveitar do gênero que ganhou espaço na tv aberta americana, e também conquistou os jovens - séries como Supernatural e The Vampire Diaries - a aposta em torno de The Walking Dead era grande. Mas junto com essa popularização vem a necessidade de deixar tudo muito bem explicadinho e descomplicado para atrair a audiência.
Se um filme de zumbis não consegue ser muito grande, pois é praticamente um apocalipse humano, imagine um seriado. É então que além de ter a responsabilidade de não ser complicado, The Walking Dead ainda precisa render vários episódios. Com essas responsabilidades e ainda a necessidade de ser ágil, pois é uma série jovem, o seriado conseguiu melhorar a tensão que falhou diversas vezes na primeira temporada - principalmente incluindo o silêncio para as cenas de desorientação - e caprichou nos efeitos especiais e maquiagem dos zumbis. Por outro lado esqueceram a função de um binóculo, que teria anulado a cena de suspense da rodovia (ninguém culpou o homem por não ter percebido a chegada dos mortos-vivos, ou tentaram melhorar isso) e ainda fizeram uma menina desaparecer na floresta, enquanto sua vida era salva e foi muito bem explicado pra ela não sair do esconderijo (a não ser que ela foi sequestrada, como o final deixa aberto).
Foram esse dois fatos cruciais que movimentaram este episódio, mas se não existissem nada teria ocorrido. O problema não é o fato de tão tolos eles sejam, mas como foram mal contados. Se coisas desse tipo são tão necessárias para deixar o xerife em uma crise de fé, ou causar atrito entre os sobreviventes, aquela promessa de aprofundamento entre os sobreviventes acaba tão rasa quanto o que foi visto em Falling Skies, que julguei inferior à The Walking Dead. Resta aguardar o desenrolar da série e saber se foi apenas um primeiro episódio fraco, bobo, porém bem realizado visualmente, ou se a série é uma perda de tempo pra quem procura um roteiro mais consistente e bem construído. Com a anunciação de uma adaptação de Zumbilândia para a TV, é bom The Walking Dead encontrar o seu caminho - se possível, com a ajuda de um bom binóculo.
The Walking Dead vai ao ar todas às terças na FOX e FOX HD, às 22 horas.