Título assusta, mas produção é um retrato belo de um conturbado relacionamento
Partindo de uma premissa interessante, da qual, todos alguma vez na vida já sentiu ódio da própria mãe, o filme canadense Eu matei a minha mãe é uma obra original, semi biográfica do diretor Xavier Dolan, que também é o protagonista, e explora um relacionamento conturbado entre mãe e filho. Vivendo junto com a mãe desde o divórcio dos pais, o jovem Hubert (Dolan) de 16 anos não consegue se entender com a mãe Chantale (Anne Dorval). Os dois gritam, trocam acusações e em vídeos secretos ele se abre e revela os sentimentos por vezes cruéis que sente pela matriarca da família. Critica desde seu gosto de se vestir até o modo como se alimenta. Tudo causa repulsa no jovem.
A situação toma proporções absurdas quando ele conhece a mãe de seu namorado, Antonin (François Arnaud), que é liberal ao ponto de deixar o filho fumar maconha dentro do quarto. Cansado de sua mãe, depois de conhecer essa liberdade, Hubert diz a professora que ela morreu e assim usa a tia como foco em um trabalho sobre a vida dos pais. Esse é o ápice para diversas novas brigas entre os dois que não polpam insultos nem em lugares públicos. Mas os motivos para tanto caos são todos tolos e são intercalados com momentos de respeito e tentativas de aproximação. Daí chega-se a questão: os filhos são reflexo da educação e criação dada pelos pais? Hubert acusa-a de ser culpada por quem ele é. E quando faz isso, não consegue nem ao menos resolver essa questão - fato que deixa a mãe ainda mais desesperada e sem saber lidar com ele.
Quando o roteiro volta-se para a mãe, se é mostrada a personalidade tão difícil quanto a do filho. Ele perdido pela idade, imaturidade, e ela perdida com o lar desestruturado. Os enquadramentos dentro da casa retrata a decoração pesada, aparecendo mais que os próprios personagens. Esses enfeites, preenchem o vazio entre eles, sua característica sistemática. Até na roupa e maquilagem aquela mulher quer apenas é viver bem aparentemente para os vizinhos, tentando enganar a si mesma. Ela faz bronzeamento artificial em plena gélida cidade e é elogiada pela amiga. Vive o fantasma da solidão desde o divórcio e agora trata o filho colocando-o no pedestal.
O filme tem aspectos muito bem elaborados para refletir cada face. O bom gosto do filho está desde no visual moderno até no seu dom de escrever bem. Em uma das cenas ele cozinha para mãe um prato de tão sofisticado que complementa ainda mais que problemas de criação ele, na verdade, não tem. Ele é gay, bem decidido - o que não faz o filme cair nos clichês de auto descoberta - namora, ama. O problema é que ele é confuso e joga todos seus temores na relação com a mãe. O pai é completamente ausente e na única cena que aparece, concorda com a mãe quando decidem matriculá-lo para um colégio interno. A única pessoa que o escuta é uma professora, da antiga escola, que o mostra um pouco como ele deve tentar compreender a mãe apesar de tudo.
É então que Chantale depois de um momento de fúria que a leva à cartase, percebe que a relação entre mãe e filho não deve seguir apenas um trajeto, dela para ele. E sim, assim como na infância do jovem, a troca entre os dois é fundamental. E isso pode está muito bem intrínseco no segredo que ele guardava para ela sobre sua sexualidade, ou nos sentimento que escondia sobre ela. Sem saber como agir, o afastou de tudo, não se dando conta que apenas o que ele queria é a liberdade de poder ser quem é. E isso está pendurado na escura e bagunçada sala de estar: os pombos e as borboletas que viraram decoração. Esses signos sintetizam o refúgio dos dois quando viviam uma intensa relação de afeto, em um cabana perto da praia.
Delicioso de apreciar, mesmo com as constantes e escandalosas brigas entre os dois, Eu matei a minha mãe é um filme intimista, complexo, que denota uma realidade entre as relações familiares. Talvez identificar-se com o garoto pode ser tão difícil quanto aceitar que quem precisa crescer e amadurecer é a própria mãe. E mesmo com a premissa um pouco chocante, é sabido que muitas vezes reconhecemos erros na nossa criação que nossos pais nem sequer imaginam e aceitam, seja pela imposição da sociedade que os obrigam a se acharem sábios o bastante para jamais errarem. Então, quem nunca alguma vez na vida não odiou sua mãe? Ou melhor, quem nunca conseguiu enxergar um erro na sua criação?
Curiosidades: Recebeu três prêmios no Festival de Cannes e foi o representante canadense a tentar uma vaga no Oscar 2010.
Eu Matei Minha Mãe
J’ai Tué Ma Mère
Canadá , 2009 - 96 min
Drama
Direção: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Anne Dorval, Xavier Dolan, Suzanne Clément, François Arnaud, Patricia Tulasne, Pierre Chagnon, Niels Schneider, Monique Spaziani
Trailer:
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