Filme explora com delicadeza o término de um relacionamento
Estreando sem alarde e limitada em um circuito de arte, a produção Como Esquecer ficou na sombra dos grandes lançamentos do ano: Nosso Lar e Tropa de Elite 2. Perdido entre esses gigantes, outro fator que provavelmente afasta uma grande parcela de público - e a aceitação de cinemas ao exibi-lo - é por se tratar de uma produção com um protagonista homossexual. Uma pena. O filme é mais um exemplo de como o cinema nacional está cada vez mais desvinculando das mesmas temáticas e expandindo os gêneros.
Depois do sucesso internacional de Brokeback Montain (Ang Lee, 2006), que criou um padrão para produções com dramas homossexuais, o primeiro grande lançamento à explorar algo parecido no Brasil (fugindo da crítica social de Madame Satã), foi Do Começo ao Fim de Aloizio Abranches, que, infelizmente, se resumiu numa história tão mal contada que até o público gay o rejeitou. Eis então que, um ano depois, a obra Como Esquecer, da diretora Malu de Martino, é um sinal que o tema ultrapassa as barreiras da sexualidade e mostra um sentimento tão comum, da qual, fortemente sempre serviu como matéria prima em músicas e poemas: a perda de um grande amor.
A trama começa com Júlia (Ana Paula Arósio), caindo no fundo do poço depois do fim de um relacionamento de 10 anos com Antônia (essa não aparece, deixando uma característica fantasmagórica ao personagem). A dor da perda consome Julia à cada dia na escuridão do seu apartamento. Até que seu amigo Hugo (Murilo Rosa) tem a ideia de convidá-la à morar com ele e mais outra amiga, Lisa (Natália Lage). É aí que os três vão construindo uma rede de companheirismo ou apenas um suporte contra os violentos impulsos que começam à surgir. Tanto Hugo quanto Lisa passam por problemas semelhantes: ele perdeu seu companheiro em um acidente fatal, e ela foi rejeitada pelo namorado quando mais precisava dele.
Não existe um plano, nem alguma solução no roteiro. Aqui, a situação comum é seguida pelo roteiro de forma realista. Júlia vai sofrer à cada minuto até que as lembranças (sintetizadas em imagens de uma viagem das duas ou situações burocráticas seguidas de um rompimento), se diluam entre as linhas que ela escreve suas poesias sobre a experiência que passa. Para esses dolorosos momentos não existem uma cura, à não ser o tempo para enterrar o sentimento. Júlia aprende isso. Como professora universitária, talvez o jeito sistemático de ver a vida, contribua para entender o processo, porém aos poucos novas pessoas vão surgindo e o processo de cicatrização vai se definindo. Mas o filme guarda uma surpresa, da qual, os princípios da personagem não se contradizem. Em Como Esquecer, o sexo faz parte do processo de cicatrização e as novas pessoas também, mas isso não significa um final feliz, e sim uma motivação para seguir em frente.
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