Falar de Mad Men para algumas pessoas pode ser massivamente chato, assim como pedi-las para gostar da série logo no primeiro episódio. Em tempos em que a TV está tomada por reality shows, programas policiais e outros com histórias de vampiros e zumbis, os dramas de época encontram espaço restrito. Mas ultimamente isso tem mudado. Com o importante nome do criador da premiada Família Soprano Matthew Weiner, nos créditos, Mad Men é um sopro de originalidade, um excelente programa para reflexões e apresenta uma qualidade técnica impressionante no resgate dos aspectos que constituíam os anos 60 - década em que se passa o seriado -, que não foge de nenhum detalhe e ainda serve como influência da cultura pop atual, principalmente para a moda. O resultado já começa na abertura que ganhou um cuidado excepcional e que diz muito sobre o seriado.
Mad Men é uma série de pessoas, pessoas que tentam viver em mundo de constantes mudanças no contexto histórico - políticos e tecnológicos - e precisam manter a imagem que os governantes dos Estados Unidos venderam aos seus moradores e ao resto do mundo: o utópico "American way of life". Esse conceito é ainda mais fácil de ser aceito em meio a tensão pós guerra e com a União Soviética como ameaça. O centro da trama está a Sterling Cooper, uma fictícia agência de publicidade, localizada na Madison Avenue, em Nova York. O glamour da época e a propaganda vendendo felicidade para as famílias, escondem sentimentos compulsivos, em um período de forte preconceito étnico, sexismo, assédio sexual, excesso do uso drogas no trabalho e, principalmente, a arrogância dos mais poderosos. Fatores como esse "American dream" perduram até hoje, ainda mais, depois dos atentados terroristas em 11 de setembro de 2001. Porém, na série, o personagem principal é que guarda a personalidade mais complexa à ser explorada. Don Draper, vive uma vida de mentiras, vazia, com um passado misterioso que aos poucos volta à assombrá-lo em meio à sua família perfeita e ao trabalho respeitado. Ele, assim como todos à sua volta, tem a dificuldade de seguir o modelo de vida fundamentado na sociedade das aparências. Chega uma hora que é difícil frear os desejos latentes e tudo vem à tona.
Os personagens que se destacam na trama são: Don Draper (Jon Hamm) diretor de criação da Sterling Cooper; Peggy Olsen (Elisabeth Moss), jovem ingênua e que vê sua vida mudar quando chega na Sterling Cooper e aos poucos mostra sua determinada meta de se tornar a primeira redatora mulher, porém, logo sofre abusos dos outros (ela é o exemplo de mulher que busca independência numa época com o crescente feminismo); Pete Campbell (Vincent Kartheiser), o jovem gerente júnior de contas, ambicioso e só está contratado porque vem de uma família influente de Manhattan; Betty Draper (January Jones), esposa de Don Draper e mãe de seus dois filhos, largou a carreira de modelo para se tornar uma autêntica dona de casa da época, logo seus desejos compulsivos aparecem trazidos pela sufocante nova realidade; Joan Holloway (Christina Hendricks) é a gerente de escritório da Sterling Cooper, sexy e sagaz, ela é que mantém a ordem no local e sem dúvidas, à que faz a agência não parar (porém, se vê restrita nesse papel tendo que servir o apetite sexual dos chefes e aos poucos tenta melhorar de vida); Roger Sterling (John Slattery), um dos sócios da Sterling Cooper e amigo de Don Draper, anti-semita, cínico e adúltero; o trio Paul Kinsey (Michael Gladis), Ken Cosgrove (Aaron Staton), Harry Crane (Rich Sommer), um redator, um executivo de contas e um comprador de mídia, respectivamente. São competitivos, mulherengos e tentam à todo custo um aparecer mais que o outro; Rachel Menken (Maggie Siff): judia, chefe de uma loja de departamentos, procura os serviços da agência, e termina como uma das amantes de Don; Salvatore Romano (Bryan Batt) diretor de arte ítalo-americano da agência, é cobiçado pelas funcionárias da agência mas logo expõe um segredo tabu na época; e por fim, Bertram Cooper (Robert Morse), é o mais velho, experiente e o sócio sênior da Sterling Cooper, naturalista, acaba sempre dando os conselhos aos mais jovens nos momentos de desespero.
Com uma narrativa lenta, daquela quase parando - mas necessária para a melhor compreensão - o seriado traz um roteiro com mensagens subjetivas, da qual, precisam de atenção para não perdê-las -, Mad Men é o melhor drama da atualidade e produzido pelo canal de maior respeito por parte da crítica e da audiência dos últimos tempos, o AMC, mesmo concorrendo com a HBO e com o Showtime nos Estados Unidos.
Trailer:
Mad Men acabou de ter exibido sua quarta temporada nos Estados Unidos e no Brasil a HBO exibiu apenas a terceira, sem data para começar a quarta.
Esse post faz parte do especial Semana em Série, trazendo dicas de seriados de qualidade e boa diversão.
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