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dezembro 26, 2010

A sensibilidade do filme 'Os Famosos e os Duendes da Morte'

Primeiro longa de Esmir Filho é uma poesia sobre a falta de perspectiva




Filmes que falam sobre a internet e a geração de jovens conectados que buscam alguma liberdade ali dentro, ou simplesmente a usam para desabafar seus problemas, são cada vez mais frequentes. Nesse ano, A Rede Social (EUA, 2010) é sem dúvidas o maior exemplo que define os efeitos que tal tecnologia pode causar nos relacionamentos. Mas se David Fincher percebeu e retratou apenas o vazio presente na rede e que não adianta você ter meio milhão de amigos no ciberespaço que, além de inimigos, vai te sobrar a imensa solidão, em Os Famosos e os Duendes da Morte (Brasil, 2010), a internet surge como um forma de poética e de interação entre certas tribos.

O protagonista é um jovem (Henrique Larré) que mora no interior do Rio Grande do Sul, mas não se encaixa com o contexto do lugar. Vive navegando, fumando baseado e buscando algum caminho da qual possa seguir. Numa cidade com tradições trazidas de imigrantes, com muitos habitantes mais velhos e uma população que segue hierarquias quase que imutáveis, o diretor transcende esse mesmo lugar que pode parecer um ambiente de liberdade - já que está livre dos mals das grandes cidades - e o transforma em um sufocante vazio, com caminhos bem definidos da qual todos os morados devem passar ao ir e vir. O projeto de vida é praticamente envelhecer no local e assim casar-se na tradicional festa junina.

Porém, Mr. Tambourine Man (seu apelido no mundo virtual, inspirado na música do ídolo Bob Dylan) vive numa cidade assombrada por fantasmas. A ponte que corta um grande rio da região, é palco para alguns casos de suicídio. Ao mesmo tempo em que se questiona qual caminho seguir, como buscar a sensação de liberdade, ele visita o blog de um misterioso amigo onde encontra postagens de vídeos e fotografias que dão dicas de como ele pode encontrar o que busca. O problema, é que até a metade do filme, a ideia que se passa é que a tal solução seria o próprio suícidio. Mas não é, entretanto também não denominada um mal e pode assim criar algum tipo de confusão. Perto do final, enquanto os moradores ao redor buscam por razões de seguirem adiante, se ocupando de tarefas para não se entregarem à loucura - a mãe do rapaz, logo após a morte do marido, criou o habito de conversar com o cachorro -. o jovem tem a chance de sair do universo disponível na internet e se aventurar pelos anseios que o dominam. Falar mais do que isso é ultrapassar os limites e atrapalhar a análise de quem ainda não o viu.

O diretor Esmir Filho é um diretor e autor que tem tudo a se mostrar um grande cineasta. No premiado curta Alguma Coisa Assim, essa sensibilidade em transparecer emoções de jovens era perceptível. Em Os Famosos e os Duendes da Morte, ele faz um filme menos equilibrado, e que espera por demais a sensibilidade do espectador em compreender toda a poesia de uma tribo - que se encaixaria perfeitamente como os emotivos. E aí pode faltar um pouco de paciência daqueles que não terão muito à se identificar. Mesmo assim, é de grande mérito a utilização dos vídeos do Youtube ou as fotos postadas no Flickr como ferramenta de libertação ou de forma de expressão. Se focar na característica da faixa etária do protagonista, o filme é uma versão poética, sensível e mais artística de As Melhores Coisas do Mundo (Brasil, 2010), o que não demérito, afinal, esse trata-se de um interessante ponto de vista sobre o que é ser adolescente e seus dilemas atuais. Só que diferente desse, a internet para Esmir Filho não é a vilã. 


Trailer:



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