A palavra favela no Brasil tem um peso trágico, e não é por menos. Sinônimo de bandidagem, violência e pobreza, o lugar nunca foi levado à sério nem por autoridades e muito menos por parte da sociedade. Com a mídia noticiando sempre a pior face do lugar - aquela em que traficantes mandam, desmandam e matam -, quem mora ali sabe que não é exatamente isso o tempo todo. Não que não exista tensão ou medo dos moradores das comunidades da região, mas até eles mesmo são induzidos à viver dessa maneira. Basta ligar a TV e ver na retomada do Complexo do Alemão, que quando se tem polícia o risco de uma verdadeira guerra dobra, no geral guerra entre traficantes é de proporções menores. Sem polícia, a guerra do tráfico assusta, mas no geral, não atrapalha a vida de seus moradores que acaba dando um jeito de conviver na guerra. O filme 5 Vezes Favela - Agora por nós mesmos, feito por jovens cineastas moradores de comunidades cariocas coordenado por Cacá Diegues, vem com esse intuito de desmistificar a favela e acender a luz de lugares da região pouco conhecidos.




Deixa Voar: Flavio, é morador de uma favela carioca que por acidente deixa a pipa de seu amigo voar para o território tomado pela facção rival. O medo de entrar na região desconhecida acaba sendo deixado de lado quando compreende que não existe tanta diferença do local com a sua comunidade. O jovem aproveita e vai na casa de sua paquera da escola. Fica claro aqui o que comentei no início da análise, os próprios moradores são induzidos à sentir o medo de sua própria região, seja pelos traficantes ou pela mídia local.
Acende a Luz: na véspera de Natal falta luz no morro, deixando seus moradores em polvorosa. Os técnicos da companhia de energia são enviados, mas não conseguem resolver o problema. Outros chegam, entretanto, fazem o serviço com má vontade e vivem enrolando as pessoas. Eis que um funcionário acaba virando refém até que consiga resolver o problema - mas calma! tudo é tratado com muito bem humor e nem sequer aparece um vestígio de arma de fogo e sim as donas de casa prontas para dar umas na cara do pobre homem. Sozinho e em meio ao problema, o funcionário acaba cedendo e integrando a grande ceia da comunidade.
Os cinco curtas apresentam em seus protagonistas um sentimento em comum: medo. Seja o medo de perder a oportunidade única de seguir o sonho de se formar, o medo do pai traumatizado na infância por ter visto seu pai roubando uma galinha para dar o que comer à família e apanhando, o medo de ser policial e ter de seguir as regras impostas pelo tráfico e assim poder se livrar dos problemas mesmo estando do "lado do bem", o medo do outro lado da ponte onde vivem os inimigos, ou o medo de trabalhar naquela comunidade violenta com bandidos para todos os lados. E todos eles superam esse medo, ou pelo menos buscam uma alternativa para suprir esse sentimento. 5 Vezes Favela vem com a intenção de mudar - nem que seja um pouco - esse sentimento dentro do imaginário do brasileiro. Mas infelizmente ligar à TV e ver bandidos fugindo com armas tão pesadas quanto de verdadeiros guerrilheiros, levam a proposta por água à baixo e mais uma vez os moradores da favela ficam refém desse pesado nome, injusto e presos no estereótipo triste imposto pelos abutres que precisam deixar o sistema do jeito que está. Não que a favela seja um paraíso, mas também está longe de ser, apenas, totalmente o que se é pintado ao vivo na TV.
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