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abril 08, 2010

Sandra Bullock generosa em 'Um Sonho Possível'

É a atriz quem salva a produção de ser mais um simples "feel good movie"


Depois de conquistar o Oscar 2010 como melhor atriz em sua primeira indicação, Sandra Bullock mais conhecida por uma variedade de filmes que sempre variam de romance e comédia escrachadas (foi por uma dessas que ela ganhou o "prêmio" de pior atriz), nunca teve problemas em escolher os papéis certos para acumular grandes bilheterias. Na fileira de Julia Roberts entre outras, é curioso como Sandra não escolhia  um papel desafiador e forçado com o objetivo de conquistar uma estatueta dourada. E dessa vez, a impressão que fica, no dramático Um Sonho Possível, Bullock conquistou prestígio da crítica sem precisar fazer um filme diferente de sua linha sessão da tarde para sair a grande vencedora, e isso não retira de forma alguma seu merecimento - pelo contrário.

O filme é baseado na história do astro do futebol americano Michael Oher, ou Big Mike, que adotado no final da difícil adolescência por uma família de classe alta e passa pelo conflito de estudar em uma escola em meio a olhares preconceituosos de brancos e ricos. Mas o interessante no filme - e o que o torna original - é o personagem de Bullock, a matriarca loira com pinta de perua Leigh Anne Tuohy. Ela quem estende a mão ao jovem, e vai livrando a platéia dos recorrentes estereótipos fundamentados pelas características de personagens assim. Aqui, a branca com ar sofisticado e nobre, dá uma aula de gentileza e bate de frente, seja qual for o comentário grosseiro sobre sua atitude humanitária - vista como absurda.

Desse relacionamento afetivo, Leigh busca dar toda a estrutura familiar que o garoto não teve. Passando por momentos brilhantes e extremamente emotivos, como na cena do almoço de Ação de Graças, em que ela desliga a televisão e obriga toda a família a sentar-se na mesa com o jovem ou quando vai comprar roupas com ele. São esses pontos que mexem com os corações mais sensíveis. O fato do filme se concentrar no amor altruísta, aquele que a pessoa busca ajudar sem esperar nada em troca - fato que inclusive é debatido com a suspeita de algum interesse da família pelo talento do jovem no futebol - é o principal motivo do sucesso do longa.

A produção demarcou pontos interessantes. A violência no filme não é mostrada com o artifício de chocar, é jogada em flashs demonstrando a insegurança e revelando os traumas do Big Mike. Isso deixa o filme leve. Toda dor concentrada no adolescente é visível, mas sem tocar em detalhes  penosos que provavelmente ele passou em todos esses anos sem uma mãe ausente - viciada em drogas - e um lar fixo. O ator que interpreta Big Mike, Quinton Aaron, consegue transpor todos seus medos nos trejeitos complexos do sofrido jovem que criou uma barreira com o mundo, se fazendo de burro e antisocial. E isso foi percebido pela família Tuohy, da qual, o acolhe sem mais delongas, deixando que toda verdade seja aos poucos revelada.

Diferente do impactante e indigesto Preciosa, que necessitou das fortes cenas de violência para se tornar inesquecível, que mantém uma história parecida, porém, sem o final tão feliz, infelizmente Um Sonho Possível não consegue ser eficiente aos mais realistas e acostumados com a nova forma de expor os problemas de desigualdade social que ultimamente chegaram em peso ao cinema americano, desde o sucesso de Quem quer ser um milionário?.

É uma forma bonita e limpa de mostrar como um gesto pode mudar uma vida, salvá-la da violência, do descaso, da cegueira que tomou conta da vida de uma parcela acomodada da população. A superação que o filme promete é mostrada aos dois lado, seja da mãe e família - adotiva -, que cultiva o amor em uma forma de desafio, e do jovem que aos poucos consegue livrar-se de seus medos e receios. Uma lição bonita de superação, mas raza quando conhecemos histórias como a já citada Preciosa ou um mais emocionante e próximo dos brasileiros como O Contador de Histórias. Aqui o que se leva, é uma Sandra Bullock brilhante, sem forçar a barra, seguindo sua linha de filmes, e mostrando que sua carreira não demonstra fiasco, como de outras atrizes ganhadoras do Oscar, exatamente porque ela não fez parecer desesperada pelo prêmio.

Um Sonho Possível
The Blind Side
EUA , 2009 - 128 min.
Drama
Direção: John Lee Hancock
Roteiro: John Lee Hancock 
Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Kathy Bates, Quinton Aaron 

Trailer: