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junho 24, 2010

O filme do ano: 'Toy Story 3'

Animação da Disney/Pixar ultrapassa os limites do gênero


Em uma passagem do filme Ratatouille, perto do climax do filme, o crítico gourmet está perto de provar o prato feito pelo ratinho - lógico, sem saber que o animal era o responsável. O mal-humorado crítico - que não acredita no ideal de que "qualquer um pode cozinhar" defendido pelo dono do restaurante - está pronto para, mais uma vez, julgar o lugar que há anos foge de sua opinião. Então, eis que ele degusta a comida e logo é mentalmente transportado para um passado remoto, em que as lembranças de um delicioso prato feito por sua mãe - logo quando chega em casa, chorando depois se machucar andando de bicicleta - lhe vêm à cabeça libertando os sentimentos que o contexto trouxe junto do sabor daquela refeição. Mais do que um simples prato gostoso, o crítico sentiu a mesma segurança e o amor de se ter um porto seguro depois de um tempestuoso momento. A caneta, a arma pronta para o ataque, escorrega de sua mão que está sem força, entorpecida pelo prazer nostálgico. Desarmado, o crítico desfruta o prato e finalmente descobre a verdade do cozinheiro. Volta atrás e entende o conceito defendido pelo falecido chefe, fazendo uma crítica cheia de redenção e respeito.

Ao terminar de assistir Toy Story 3, foi essa cena que pairou sob os pensamentos de quem aqui escreve. Orgulhosos estariam os envolvidos nas duas produções, afinal, utilizar uma passagem de um filme deles, para demonstrar um sentimento que tem a ver com outro filme deles, é algo sem precedentes. Como importante filme desse ano dos estúdios de Walt Disney em parceria com a Pixar, dando uma pausa depois de outros grandiosos sucessos de bilheteria e crítica (Up Altas Aventuras, Wall-e e Ratatouille), a sequência Toy Story 3 marca mais uma vez a tentativa de ultrapassar todos os limites do gênero de animação. Não é sobre ser indicado ao Oscar na categoria principal, como Up conseguiu, mas, ir mais longe, arrebatando o sentimento de diferentes públicos e classes. Toy Story 3 ultrapassa os paradigmas fundamentados de que as continuações são ruins, de qualidade inferior e muitas das vezes correm atrás do dinheiro do público leigo. Toy Story 3 é mais.

Desde 1995, a Pixar sabia que tinha um tesouro nas mãos, e agora, 15 anos depois do primeiro lançamento que marcou a indústria cinematográfica com a computação gráfica, copiada de forma medíocre por alguns estúdios, ela sabe que Toy Story é a franquia mais bem sucedida no mundo da animação e chegando a superar casos de filmes do outro gênero, aquele com atores reais. É impossível considerar que um filme como este possa ser considerado infantil ou limitá-lo como uma simples animação. Tudo, basicamente tudo, é uma aula de como o cinema do entretenimento pode ser divertido, com um roteiro concreto e principalmente passar a mensagem, nos incluir no meio da história.

Desde pequenos detalhes como corações de papel colados ao fundo da cena, num momento oportuno de amor entre a Barbie e Ken, ou, as gotas de chuva escorregando pela janela, fazendo-se das lágrimas daqueles que não podem chorar. É infinitamente incrível como um filme consegue no último minuto de amargura e dor, próximo de revelar a morte, mostrar uma cena como daqueles objetos dando as mãos, um gesto esquecido na sociedade de hoje e pouco difundido na cultura do entretenimento infantil. É infinitamente surpreendente uma "animação" demonstrar tanta riqueza sentimental num diálogo de despedida/doação de "meros" brinquedos.

A experiência gratificante de assistir Toy Story 3, não se resume à um filme animado, divertido e com a mensagem moralista no final. É mostrar um tema como a amizade, tão doce, fiel, pura com àqueles objetos que algum dia qualquer pessoa sem dúvidas já teve um para amar. E esse filme se prestou na necessidade de mostrar um lado, imaginativo (como os primeiros minutos detalham), do que deveria ser uma amizade não recíproca - entre as crianças e seus brinquedos. Mas, além disso, é exemplo de outras diversas formas desse sentimento tão nobre e importante. E isso se trata de uma animação, que assim como um ratinho, maltratado e de coração bondoso, alvo de preconceito, surpreendeu e desarmou um crítico esnobe. Quem foi criança mesmo, sabe que os brinquedos eram mais do que plástico... foram parceiros, foram amigos, verdadeiros amigos. Toy Story nos transporta para esse mundo, e nos lembra, ou ensina, o valor da amizade.

Toy Story 3
EUA , 2010 - 103 min.
Animação / Aventura / Comédia
Direção: Lee Unkrich
Roteiro: Michael Arndt, John Lasseter, Andrew Stanton, Lee Unkrich
Elenco:  Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Don Rickles, Wallace Shawn, Estelle Harris, John Ratzenberger, Ned Beatty, Michael Keaton, Kristen Schaal, Blake Clark, John Morris, Laurie Metcalf, Jodi Benson, Timothy Dalton, Jeff Garlin, Whoopi Goldberg, Bonnie Hunt, R. Lee Ermey 

Trailer:




2 comentários:

  1. Adorei a forma que você colocou sua opinião :D

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  2. Obrigado! Diferente dos outros textos, esse eu fui mais emotivo, e tentei passar minha experiência com o filme, afinal ele leva todos à esse parâmetro.

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