Faz um bom tempo que Hollywood perdeu a mão em fazer boas aventuras. Hoje em dia, não importa o roteiro, pra eles, basta bons efeitos especiais para enganar uma plateia entorpecida pelo entretenimento fácil e que faz qualquer desaceleração no ritmo - dando tempo para degustar a experiência - parecer inevitável. É nessas horas que a colaboração de um diretor disposto em fazer o contrário, buscando explorar a dramaticidade de personagens, ou simplesmente oferecer uma diversão com algum conteúdo histórico e ainda apresentar belas paisagens, que o resultado se torna um espetáculo à parte. Mas, infelizmente, alguns ainda não conseguem emocionar. Tudo em Caminho da Liberdade (The Way Back, EUA, 2010) é tão quadrado, que quase não convence. Porém, é uma aventura de tirar o fôlego.
Baseado no livro Caminho da Liberdade, a trajetória corajosa do polonês Slavomir Rawicz, que teria fugido de um campo de trabalho forçado na Sibéria comandado pela URSS para a India, único lugar imune das ditaduras - inclusive do nazismo -, o filme é daquelas que se não dissessem que se trata de um drama baseado em fatos reais, você não acreditaria. Entretanto, a veracidade do próprio livro é questionada, então toda aquela coragem dos andarilhos do filme vão à ruínas, e sobra a vontade do público de entrar na história por conta própria. Mas vale a pena. Pouco importa se aconteceu realmente daquele jeito ou não. O que se leva dele, é a vontade de ter uma boa experiência com um bom filme.
Caminho da Liberdade sofre o mal das adaptações hollywodianas para dramas históricos - ficcionais ou não - como o caso recente dos fracos O Menino do Pijama Listrado e O Caçador de Pipas: quando se poderia fazer um filme com uma produção que remete nas características de filmagem ou atuação dos países que ocorreram os fatos descritos, caminha-se para o cinemão quadrado e que força ao tentar agradar o público comercial. Então o básico é definido em pequenos takes. A personalidade dos personagens - geralmente suavizadas -, os comentários didáticos, os dramas focados em paternidade, amor como base, superação física e emocional, e por aí adiante. Caminho da Liberdade tem todos esses clichês sinalizados sem aprofundamento, mas que saem melhor do que nos outros filmes citados.
Os méritos da produção ter se saído melhor do que deveria, são do diretor Peter Weir, que já haviamostrado competência em O Show de Truman e Mestre dos Mares. Sua peculiaridade em contar histórias diferentes, sempre trazem alguma questão de fácil identificação ao grande público, mas geralmente falham quando espera-se do roteiro algo mais. E Caminho da Liberdade tinha fôlego para ser um ótimo filme. O elenco é de qualidade assim como a maquiagem, direção de arte e trilha sonora; as locações são um espetáculo à parte, e a base da história é sempre interessante, ainda mais quando mostrada de uma ótica diferente. No entanto, se o roteiro tinha seus problemas de veracidade quando se vende como realidade, bastava a trama focar em outras questões, mais humanas e éticas que seria mais fácil sua identificação. Aqui a paisagem acaba assumindo o lugar desses buracos, sem sucesso.
Mas se faltou palavras para o roteiro, sobrou uma bela jornada, e sem dúvidas, umas das melhores aventuras feitas por Hollywood.
Trailer:
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