Drama de advogados se sobressai com bons ingredientes
A TV americana em muito tempo não via um safra de dramas tão bons no ar. Infelizmente tal realidade é vista com maior frequência apenas quando se trata da tv fechada. São poucos canais que conseguem ótima audiência com séries e que ainda se dão bem em premiações e, independente de tudo isso, com programas realmente bons. Poucas séries na tv aberta chegam tão longe, conquistando a crítica e o público. Uma das que está seguindo uma trajetória de sucesso em ambos parâmetros é The Good Wife do canal aberto CBS e exibida no Brasil pelo Universal Channel. E com o fim de sua segunda temporada, exibida ontem no canal brasileiro, o seriado fechou um ciclo tenso com personagens cativantes, um roteiro dinâmico e surpresas, boas surpresas.
Poucas séries conseguem tratar com tanto realismo e naturalidade a evolução de seus protagonistas durante as várias temporadas que um seriado pode chegar. The Good Wife tem apenas duas temporadas, e Alicia Florrick (Julianna Margulies) teve uma virada em sua vida que aos poucos refletiu em seu comportamento, e isso é mostrado com maestria. Ao mesmo tempo que isso ocorreu sutilmente, não demorou tanto para que o título tivesse seu tom irônico como o criador Robert King queria. A temporada começou depois dos eventos bombásticos da primeira, com Alicia se vendo obrigada a apoiar a candidatura de seu marido Peter (Chris Noth), que foi flagrado, anteriormente, em um escândalo com prostitutas e corrupção. Enquanto isso, em seu trabalho numa poderosa firma de advocacia, seu antigo colega de faculdade, demonstrava interesse nela, e ela se sentia balançada. Esta temporada foi primordial para entendermos como Alicia tinha todos os motivos para perdoar o marido, fazer o papel de pessoa com caráter superior, mas após perceber que no fim ela era apenas uma peça no jogo político do marido, se sentindo sufocada logo quando sua carreira vai alcançando vôos cada vez mais altos e quando opções para seu coração, surgem.
Com uma eleição indo à toda velocidade, ela foi a peça determinante para a vitória de Peter, mas o fantasma da traição retornou ao descobrir que Kalinda (Archie Panjabi), sua atual melhor amiga e investigadora da empresa, fez sexo com ele, quando ele era da promotoria. Kalinda, que tentou de todas as formas esconder tal segredo, acabou sendo desmacarada por um investigador novato que lutava com ela por uma vaga fixa, depois que a empresa dela e de Alicia se fundiu com outra. Um dos trunfos da série também se deve a essa movimentação da trama, sem esperar muito tempo para impactar o público. No meio da temporada, a reviravolta de Will Gardner (Josh Charles) e Diane Lockhart (Christine Baranski) ao expulsarem um dos sócios, que estaria planejando tomar conta do barco sozinho, foi um dos momentos mais tensos e reveladores em séries de escritório. Tudo tão bem escrito e dinâmico, que não soa corrido, nem desesperado.
Mas The Good Wife também tem seus casos do dia para apresentar. E nesse lado, ela não falha. Cada episódio tem um caso específico mais interessante e imprevisível que o outro. Nem sempre eles ganham, nem sempre eles estão do lado que é o certo. Usam assuntos atuais, como um inspirado no filme A Rede Social. E é a sensibilidade e a mudança de Alicia que os fazem encaixar como uma ponte ao arco principal. O revezamento de participações especiais dos advogados que estão contra eles, mantém um ritmo benéfico e eficiente. Basta saber que Michael J. Fox fará parte de algum episódio, e esperar que ele será cheio de jogadas sarcásticas, deboche e intrigas, que chegam em diálogos primorosos e bem escritos. Curioso que com tantos atributos, ainda sobra algum tempo para explorar um pouco personagens coadjuvantes, como Eli Gold (Alan Cumming) , que é assessor de Peter nas eleições e sua paixão por uma mexicana - da qual, a princípio seria apenas um golpe contra uma outra candidata -, a misteriosa Kalinda e seu jogo como investigadora, ou os filhos de Peter e Alicia - uma que busca a religião e o outro está se descobrindo sexualmente. Tudo tão bem equilibrado que não fica pedante durante a temporada.
E pra falar que não tem defeitos, aqui está um: a temporada finalizou com um evento importante do arco principal, mas o caso da semana não foi tão comovente como outros já apresentados. Nem mesmo o lance da luva ensanguentada surgir na mesa de Alicia conseguiu criar alguma tensão. Apenas três coisas valeram a pena: saber que Eli continuará na série mesmo com o fim da eleição; Kalinda na cama com a loira gostosa e Will e Alicia passando por momentos irônicos que não os deixavam em paz, mas acabaram aos aguardados beijos na suíte presidencial em um horel luxuoso. É esperar para saber como a nova Alicia se comportará com essa nova personalidade, menos passiva a qualquer favor e agressiva quando necessário, além de "livre" do jogo político. Tudo deu sinais que a boa esposa vai fazer o que quiser, resta aguardar como os roteiristas vão surpreender agora.
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