Se Peter nunca existiu, essa temporada serviu pra quê?
Fringe sempre foi uma das séries mais queridas da TV desde que no fim da segunda temporada, apresentou uma trama que envolvia universos paralelos, observadores e outras questões científicas. Antes disso a série era boa, muito boa. Foi jogando peças e mais peças que levaram à essa complexa trama. Equilibrando o drama e suspense sem deixar de lado a demora nas explicações. Sempre gosto de pensar em como a série seria muito melhor se fosse produzida para um canal da TV a cabo. Imagine só a exploração da complexa personagem Olivia (Ann Torv, a melhor atuação da série), ou entender melhor o passado de Walter e Peter. Talvez um episódio que mostre como foi a fundação da Massive Dynamics, já imaginou? Enfim, o que empolga em Fringe é a mitologia construída, seus personagens e dilemas. Mas o que se viu desde a revelação de que Peter era do universo paralelo, o principal mote da série, é que este fato conduziu o roteiro para uma trama até bem desenvolvida, mas que no meio da terceira temporada até o final, assumiu uma desnecessária rapidez, atrapalhando a essência do que sempre foi a série. Perdeu-se no grande mistério quando revelado.
A falta de paciência de seus produtores, com certeza, veio com a preocupação pela baixa audiência, identificada pela FOX, quando este mesmo canal a colocou para enfrentar Grey's Anatomy e CIS, um ato que demonstra imensa incompetência. Até lá, melhoraram a dinâmica da série, apostando menos em casos semanais, que intercalavam as duas unidades Fringe em cada universo. O arco principal, que era desenvolvido sem pressa e segurando o suspense, ganhou destaque. E lá se foi o equilíbrio. Fringe se perdeu quando quis acelerar, literalmente, a trama. A gravidez, da (F)Olivia revela muito bem essa impaciência de seus produtores. Um episódio massante, forçado, e que no fim não levou a trama para lugar algum - pelo menos até agora. Até lá a emissora já havia negado fogo, levando o seriado para às sombrias sextas-feiras. Outro episódios também demonstraram a imensa redundância ao querer explicar, sem deixar o espectador saborear um bom mistério. É o caso dos episódios de flashback, que tinham o propósito de mostrar que sempre existiram conexões entre os próprios personagens, mas que dão a impressão que chegaram na hora errada, quando já era mais ou menos esperado o que isso havia acontecido, ou simplesmente, não tem mais emoção em descobrir tal fato.
Por outro lado, Fringe se preocupa nos detalhes. Seja no episódio que foca na subconsciência de William Bell, da qual, buscam pela Olivia, fato que remete ao filme A Origem (Inception, 2010), uma nova referência em ficção científica (o episódio foi ousado ao ser quase todo em animação); ou simplesmente pelas aberturas, que variam de cores e informação de acordo com o que o episódio vai retratar. Mas o seriado acabou ficando sem ter o que contar. O último episódio é um exemplo disso. A viagem no tempo, que já foi mostrado e explorado de forma exacerbada em seriados como Lost e Heroes, em Fringe acabou sendo previsível. Foi uma questão de minutos que apostei no que iria acontecer. Sorte, que a própria mitologia trouxe os observadores, que estavam sumidos, e conseguiram criar um gancho neste final. Se continuar deste jeito, imagino que a questão de Peter será resolvida logo no primeiro episódio da nova temporada, e tudo volta ao "normal" nos episódios seguintes, assim como foi tão fácil voltar ao passado e salvar os mundos. Senão fosse o paradoxo também...
Algumas coisas são perdoáveis no seriado, como as teorias da física que são usadas por Walter como se fossem brinquedo de criança e sempre dão certo; a dificuldade de passar realidade quando mostra um ambiente com características futurísticas; ou por que uma questão de nível global, é mostrada limitada apenas à unidade Fringe e no máximo ao resto do FBI e com flashs de consequência em alguns lugares dos EUA, deixando o resto do mundo omitido - uma menção qualquer não faria mal a ninguém. Mas é complicado aceitar esse exagero do roteiro de acelerar a trama sem equilibrar as doses de drama e suspense. Sobra enrolação e pouco mistério - o mesmo mal de Lost. Se antes ela era dinâmica, hoje ela soa desesperada e, por isso, confusa. Mas ainda se trata de uma das melhores séries da TV, mesmo sem provocar como antes. É aguardar a quarta temporada - provavelmente a última - para presenciarmos se a grande conspiração de Fringe vai ter um final satisfatório, ou terminará confundindo a cabeça dos telespectadores e oferecendo um final tão raso como foi o de Lost. E, para desespero de quem aqui escreve, tudo parece caminhar para isso.
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